Nada será como antes, nem nós seremos os mesmos

Lembro-me, como se fosse ontem, das três primeiras pessoas contaminadas pelo novo coronavírus no Acre, anúncio oficial divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde no dia 17 de março de 2020.

Os primeiros boletins, inclusive alguns feitos por mim, naquela época eram noticiados com muita riqueza de detalhes, a exemplo do local de contaminação e profissão de quem entrava na temida estatística do inimigo até então desconhecido, que a espreita, preparava-se para mudar radicalmente nossas vidas.

Era possível até identificar de quem se havia contraído a Covid-19. Mas, não demorou muito para que as notificações aumentassem de forma assustadora e a fase de transmissão comunitária, quando não se é mais possível estabelecer vínculo epidemiológico entre os casos, chegasse com força total no Acre, o que já ocorria em diversas partes do mundo.

E diante de um vírus que ameaçava a nossa existência e também reduzia a nossa importância, assim teve início o isolamento social e a corrida mundial pela vacina. Infelizmente, não com a mesma intensidade e velocidade como foi com a contaminação e explosão de óbitos em decorrência da Covid-19.

Com o Brasil vivendo um momento muito grave da pandemia, com um recrudescimento já materializado daquilo que especialistas consideram como uma segunda onda da Covid-19, cujas projeções são ainda piores com a média móvel de mortes só crescendo no país, governadores de diversos estados tiveram que adotar medidas sanitárias mais rígidas e extremas para conter o vírus, como o tal do “lockdown” –, confinamento forçado e fechamento de estabelecimentos comerciais.

Com o Acre atravessando também um momento crítico, com colapso na rede de saúde avançando frente à capacidade de contê-lo, às vésperas de completar um ano de pandemia em solo acreano, foi preciso decretar medidas restritivas excepcionais e temporárias, durante a Bandeira Vermelha no estado, a fim de evitar aglomerações e conter o coronavírus – maior crise mundial da história recente.

Diante da situação calamitosa vivenciada por todos é possível perceber que muitas coisas mudaram, e que mudamos junto com elas. As pessoas não são mais livres do jeito que eram antes. Desde o começo da pandemia do coronavírus, um questionamento paira no ar: como será o futuro, quando tudo isso passar.

Sinceramente, caros leitores, eu nem imagino. Mas a julgar pelo que vejo e acredito, muitos aprendizados ficarão, um deles é de que é possível transformar o mundo em um lugar melhor e nos tornar cada vez mais humanos e generosos com o próximo, a exemplo da lição de altruísmo e dedicação dos profissionais de saúde e de muitos outros heróis anônimos desta pandemia. Uma combinação tão potente e valiosa quanto a vacina que tanto almejamos, capaz de curar e mudar o rumo da humanidade.

Quando o mundo se recuperar do coronavírus, nada será como antes. Os rastros pessoais, sociais e econômicos serão visíveis por um longo período. A pandemia virótica que já infectou 11 milhões e 277 mil pessoas e causou quase 300 mil mortes no Brasil, nos deixou sem rumo, desnorteados e com o coração em frangalhos.

É impossível não se condoer com tanta dor, com tantos lutos. Mas, será preciso se reinventar, ter fé, muita fé, acreditar na ciência, sem desanimar, que teremos um longo caminho a trilhar daqui para frente, firmes na esperança de que isso também há de passar e que dias melhores virão. É esperar e crer que tudo voltará ao “normal”, exceto nós, que jamais seremos os mesmos.

 

Lane Valle é jornalista da Secretaria de Estado de Saúde

 

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