Na pandemia, precisamos de alteridade

Por Joseph Maia Cabanelas*

Em 17 de janeiro passado, dia de comum ação de graças no mundo ocidental, o Brasil enfim enxergou um ponto de luz nessa dura vereda que temos atravessado. Era anunciado na cidade de São Paulo o início da vacinação contra o vírus que já ceifou a vida de quase dois milhões e duzentas mil pessoas ao redor do mundo. Logo a notícia tirou a característica bucólica daquele domingo, percorreu meios de comunicação e ouriçou as redes sociais, onde muitos comemoravam, mas outros nem tanto, finalmente tínhamos a materialização da esperança, ao vivo e em cores.

Contudo, o que temos visto desde as festas natalinas e posterior largada da ainda tímida vacinação, pode ser traduzido por um relaxamento combinado com certa falta de compaixão pela dor do outro. Em meio à realidade da segunda onda e do crescimento desfreado do número de casos, com hospitais sobrecarregados, observamos pessoas levando a vida como se não houvesse amanhã, pior, fazendo aglomerações, comemorando a “normalidade” que se encontra distante de nós desde março de 2020.

Mesmo com todas as orientações dos governantes de nosso Estado, que têm cumprido com o dever de zelar pela vida da população, bem como dos heróis da saúde pública, temos a sensação de que muitos já “cansaram do Covid-19”. Não bastasse o processo de luto vivido por aqueles que perderam seus entes, é nítida a falta de empatia, enquanto no Into médicos, enfermeiros e técnicos lutam para salvar pacientes, a poucos metros grupos de pessoas se revezam em seus montes para “vivenciar” mais um entardecer no parque e participar de festas clandestinas, inclusive.

Na verdade, o que precisamos é ser mais ou por em prática a ALTERIDADE. O conceito desenvolvido inicialmente por Platão pode ser considerado o antônimo do egoísmo e entendido como a capacidade de se colocar no lugar do outro, tal estado que guarda forte vínculo com a compaixão. É necessário ao menos respeito por tantas vidas que o vírus tirou, histórias e sonhos interrompidos bruscamente.

Joseph Maia Cabanelas é servidor do Instituto de Administração Penitenciária (Iapen), bacharel em Ciências Sociais com Habilitação em Sociologia da Violência (UFAC), bacharel em Direito (Faao), especialista em Direito Constitucional pelo Instituto Damásio e pós-graduando em Direitos Humanos e Gestão do Sistema Prisional (Ufac)

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