As mulheres do Projeto Santa Luzia, situado às margens da BR-364, foram homenageadas no último fim de semana e puderam desfrutar um dia de atividades com direito a orientações por parte do Ministério Público Estadual (MPE), cabeleireiro, manicura, sanduíches, bolo, sorteios e atrações culturais.
A homenagem, ainda dentro das comemorações do Dia Internacional da Mulher – 8 de Março -, foi organizada pelo Centro de Referência Vitória-Régia, em parceria com a SEPMulheres, MPE, Rede Reviver, Articulação Juruaense de Mulheres e Ceflora.
Centenas de mulheres e crianças da vila e dos ramais participaram. As apresentações e palestras foram feitas na ampla e arborizada praça da sede da Vila Santa Luzia do Juruá. A escola Olavo Bilac, situada ao lado da praça, serviu de apoio aos atendimentos e preparo da alimentação.
Crianças da escola fizeram uma bela homenagem com cartazes e poesias, enquanto cabeleireiras e manicuras, que frequentam cursos no Ceflora, atendiam as mulheres.
Para a diretora do Centro de Referência Vitória Régia, Rosalina Souza, a homenagem é justa: “Geralmente atividades relacionadas ao Dia da Mulher só acontecem nas cidades. Nossa intenção é chegar também às mulheres do interior. O que queremos é trazer um pouco de informação e alegria para as mulheres desta comunidade”, disse.
A auxiliar de enfermagem Suellen Araújo mora na Vila Santa Luzia e participou das atividades. Ela gostou da iniciativa, pois considera difícil uma mulher sair de Santa Luzia para buscar seus direitos em Cruzeiro do Sul. “As mulheres se sentem mais seguras quando as entidades vêm aqui. As palestras foram muito convincentes. Muitas vezes, as pessoas têm medo de falar o que acontece dentro de casa porque não é fácil para uma mulher dizer que foi atacada verbal ou fisicamente pelo marido, exatamente a pessoa que deveria protegê-la. Espero que venham mais vezes com estas ações preventivas”, conclamou.
Denunciar é preciso
O MPE levou à Vila Santa Luzia dois promotores, Ildon Maximiano Peres Neto e Walter Teixeira, além de toda a equipe do Núcleo de Combate à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. Teixeira dissertou sobre os diversos tipos de violência contra a mulher (psicológica, física, sexual) e deixou claro que, com a Lei Maria da Penha, a mulher está protegida juridicamente e de forma específica. Já o promotor Ildon Peres abordou a responsabilidade e importância da mulher na questão da educação dos filhos.
A assistente social Arruned Lourenço fez um veemente apelo pelo engajamento das mulheres na luta contra a violência. Ela explicou que existe uma cultura popular de que o homem gosta de bater e mulher, de apanhar, e essa cultura precisa ser erradicada. Outro costume que precisa terminar é aquele bem expresso no dito popular segundo o qual “em briga de marido e mulher vizinho não mete a colher”. Para Arruned, o cidadão tem que “meter a colher, sim”, denunciar. E o poder público tem que intervir, mesmo que a mulher não queira, por medo das consequências.
Protocolo de apoio
Joelda Pais, coordenadora de Direitos Humanos da SEPMulheres, representou a secretária Concita Maia no encontro. Ela considera que o resultado principal desse tipo de evento é a informação de que existe uma rede de atendimento e de proteção às mulheres se elas tiverem necessidade. “As mulheres acrsanas são conscientes e guerreiras, mas existem muitos obstáculos. O machismo em nossa sociedade é grande. É complicado para uma mulher tomar uma decisão contra a pessoa com quem divide a vida. Ela pode se sentir sozinha e nesse momento é importante saber que existe alguém que a apoia”, declarou.
A SEPMulheres reúne-se nesta semana com a Rede Reviver de Cruzeiro do Sul para ajudá-la na publicação de seu protocolo de atendimento. Segundo Joelda, o protocolo é a reunião de todas as informações pertinentes ao atendimento, como o fluxograma. A partir da publicação dessas informações, todos os profissionais que atuam na área deverão ser capacitados. “Quando um policial, um médico, uma auxiliar de enfermagem, por exemplo, identificarem uma mulher vítima de violência, saberão exatamente o que fazer, seja em situação de ameaça ou de violência real. Enfim, queremos padronizar esse atendimento”, explicou.