Mulheres contribuem para humanização da saúde no Acre

Rosemary Vânia Fernandes Luiz, 55 anos, paraibana, chegou em 1986 ao estado do Acre, recém-formada em enfermagem.  Procurou a secretaria Estadual de Saúde (Sesacre) em busca de um emprego. Sua primeira experiência profissional lhe permitiu conhecer a população ribeirinha do rio Murú, localizado no município de Tarauacá.

Ela conta ter sido um momento inesquecível, principalmente por poder proporcionar assistência às famílias que não tinham acesso a saúde, nem conhecimento sobre seus direitos. “Ao chegar em uma casa onde aguardávamos alguns ribeirinhos, um senhor ofereceu uns ovos em troca de uma dipirona, então expliquei que era um direito dele e não precisava dar nada em troca”, enfatiza.

Rosemary foi a primeira enfermeira designada a trabalhar em Extrema, divisa do Acre com Rondônia. Na época, a localidade ainda estava em litígio e recebia assistência do estado.

“Em 1986 a estrada era de barro e o fornecimento de energia era apenas até meia-noite. Não havia casa própria para equipe ficar, então morávamos na unidade de atendimento que era uma casinha de madeira que servia como posto de saúde para a comunidade. As dificuldades eram imensas, nosso deslocamento para Rio Branco era uma vez ao mês”, relata.

A enfermeira trabalhou por 11 anos na localidade, região endêmica, onde 80% dos atendimentos eram por causa da malária.

Rosemary em uma das edições do Saúde Itinerante na zona rural do Acre (Foto cedida)

Com 32 anos de profissão, há 14 trabalha no programa Saúde Itinerante da Secretaria de Saúde do Estado do Acre, atendendo as populações ribeirinhas e de difícil acesso do estado.

“Eu me realizei como mulher e profissional, em saber que posso contribuir para levar um pouco de qualidade de vida para as populações que tanto necessitam. É um trabalho que não é feito só, mas sim em equipe e com muito amor”, conclui a enfermeira.

Dedicação aos estudos amor à profissão

Aos 13 anos, Maria de Fátima Rezende de Lima saiu do município de Manoel Urbano para morar na capital, Rio Branco. Iniciou no antigo primário já com 15 anos, concluiu o nível médio e fez diversos cursos profissionalizantes, mas teve que interromper seus estudos.

“Após a morte de minha mãe comecei a trabalhar como professora do primário para sustentar meus irmãos e eu. Mas sempre tive vontade de trabalhar em outra área e com meus irmãos já criados decidi, então, voltar a estudar”, conta Fátima.

Aos 30 anos, passou no vestibular da Universidade Federal do Acre (Ufac) para o curso de enfermagem. Já formada iniciou, em 1998, sua carreira profissional no Hospital Geral do município de Cruzeiro do Sul.

Fátima em mais um dia de trabalho na UTI neonatal da maternidade (foto: Júnior Aguiar)

“A saúde na época era precária. As pessoas eram acometidas de doenças que muitas vezes não tínhamos como dar todo o suporte necessário”, explica a enfermeira.

Depois de quatro anos voltou a morar em Rio Branco e passou a trabalhar na Unidade de Terapia Intensiva da Maternidade Barbara Heliodora, onde presta seus serviços até hoje.

Há mais de 20 anos trabalhando como enfermeira, Fátima conta sobre o vínculo que cria com os pacientes e familiares.

“As crianças da UTI passam mais tempo internadas do que em casa. Então, o convívio com as famílias é por muito mais tempo, muitas vezes os pais retornam com os bebês só para nos visitar, somos convidadas até para festinhas de aniversários. É gratificante saber que nosso trabalho, além de ajudar a salvar muitas vidas é reconhecido por quem conhece”, destaca a enfermeira.

Novos profissionais, melhoria no atendimento

A contratação de novos médicos ao longo dos últimos anos para atender a demanda das unidades de saúde no estado possibilitou que a médica acreana, Gleiciany Araújo de Miranda, começasse sua carreira como clínica geral na cidade de Rio Branco.

Mesmo com pouco tempo de experiência, ela relata já ter presenciado várias situações que serão sempre lembradas em sua carreira.

“Um paciente, por exemplo, chegou dizendo que sentia uma dor, aparentemente um caso típico e simples. Encaminhamos ele para o atendimento e fizemos a medicação e, de repente, ele evoluiu para uma parada cardíaca. Conseguimos reverter o quadro e ele se recuperou. Após receber alta, ele e sua família retornaram à unidade para agradecer a equipe pelo atendimento e isso é muito gratificante”, conta Gleiciany.

Formada na cidade de Maringá, Paraná, já trabalha há três anos no Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, Gleiciany presta atendimento e é gerente de assistência da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Via Verde.

Gleiciany atualmente é diretora de assistência da UPA Via Verde (Foto: Júnior Aguiar/Sesacre)

“A profissão é linda e de doação, mas sempre tem momentos difíceis, pois existem casos em que mesmo com todo o esforço e dedicação não conseguimos evitar o pior”, destaca a médica.

Atualmente, a saúde do Acre conta com mais de 3,5 mil servidoras em seu quadro de funcionários.

Mais um exemplo da força das mulheres no setor de saúde, é que elas estão nos cargos de chefia de todas as Unidades de Pronto Atendimento (UPA) , o Hospital das Clinicas, Maternidade Bárbara Heliodora, Policlínica do Tucumã, Hospital da Criança e Hospital do Câncer.

 

Compartilhe:

WhatsApp
Facebook
Twitter