O Brasil encerrou 2012 com uma frota de pouco mais de 76 milhões automóveis, caminhões, ônibus, carretas e motocicletas, de acordo com dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Este número é 122% maior em comparação com a frota que circulava pelo país em 2002 – cerca de 34 milhões de veículos. Somente de 1998 a 2008, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a taxa de motorização no Brasil cresceu 30%, baseada na popularização e no aumento do crédito.
O maior avanço ocorreu entre as motocicletas. A frota cresceu em mais de 300% e no meio deste panorama, um dado se destaca: houve aumento no número de motocicletas, principalmente nas regiões em que se registram os menores índices do Produto Interno Bruto (PIB), como é o caso da região norte. Enquanto a proporção de motos na frota nacional atinge o número de 26% e estados com as maiores frotas do país como São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro não ultrapassam mais que 20%, Acre e Rondônia registram, respectivamente, 50 e 55% de representatividade das motocicletas, motonetas e ciclomotores em sua frota de veículos.
A funcionária pública Suele Filgueira tem um carro e uma moto que são utilizados por ela e o marido. Ela afirma que deixou de andar com o automóvel, porque a motocicleta se apresentou um meio de transporte mais ágil e barato, chegando a economizar 250 reais ao mês com combustível. “Antes, de carro, eu gastava 20 minutos para ir de casa para o trabalho e agora gasto somente 10”, explica.
O frentista Rossemir de Souza priorizou comprar uma motocicleta porque era o veículo que mais se enquadrava ao seu orçamento. “Foi mais fácil optar pela moto, porque era mais barata. As parcelas não sairiam tão caras e eu não comprometeria as minhas contas para pagar dentro de casa. Sem contar que eu estou pagando por algo que vai ser meu, diferente de se eu tivesse pegando ônibus todo dia”, avalia.
Contudo, o aumento da frota de motocicletas preocupa o poder público pela vulnerabilidade que esse tipo de veículo coloca o condutor. De acordo com o Sistema DataSUS do Ministério da Saúde, no Acre, das internações ocorridas até novembro de 2012, 428 foram ocorridas com motociclistas vítimas de acidentes de trânsito. Isso causa um impacto significativo nos gastos com saúde pública no Estado.
Formação na categoria A
A boa formação dos condutores é um dos fatores que influencia diretamente na redução dos acidentes. Pensando nisso é que a Associação Nacional de Detrans (AND) está idealizando conjuntamente uma série de novas metodologias, para modificar a formação dos motociclistas. Quando finalizado, o documento deve ser encaminhado ao Denatran para avaliação. “Queremos também que os candidatos a obtenção de CNH categoria A tenham a oportunidade de vivenciar o trânsito durante a formação”, diz a diretora-geral do Detran/AC, Sawana Carvalho.
Em entrevista concedida à Agência Brasil, a coordenadora-geral de Qualificação do Fator Humano no Trânsito do Denatran, Cristina Hoffmann, disse que há estudos para alteração dos cursos de formação de condutores e que também pode haver obrigatoriedade do uso de simulador de direção para veículos de duas rodas, já no final do ano de 2013.
Atualmente, a formação de condutores na categoria A obedece aos procedimentos expostos na legislação de trânsito, nas Resoluções 168/04 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran). O percurso da prova prática, além do que é feito pelos automóveis, consiste no ziguezague, rampa, duas curvas seqüenciais de 90º em “L” e duas rotatórias circulares que permitam manobra em formato de oito.
Educação para motociclistas
A coordenadoria de educação de trânsito do Detran tem atuado desde o início da atual gestão governamental, visando atingir todos os públicos, porém, com a crescente frota de veículos no Acre, tornou-se premente a intensificação das ações visando os motociclistas. Em 2011, a semana nacional de trânsito, mesmo tendo como tema nacional os perigos do excesso de velocidade, priorizou várias atividades voltadas aos condutores de motos. Em 2013, intenção é realizar uma campanha abrangente, realizada em parceria com grupos organizados deste público e empresários do ramo de veículos. Neste intervalo, o Detran também tem promovido palestras em empresas que fornecem realizam entregas.
Segundo a coordenadora de Educação de Trânsito da autarquia, Geny Polanco, as próprias estatísticas de acidente com motociclistas demonstram o quanto é importante a educação de trânsito para esse público. “Para desfrutar da praticidade e da liberdade oferecidas pelas motocicletas, é importante obedecer à legislação e seguir algumas regras de segurança, como usar capacete, segurar o guidão com as duas mãos e usar roupas de proteção com adesivos refletores”, afirma.
A educação de trânsito é primordial, principalmente para que utilize a moto no âmbito do trabalho, é o que deixa claro o presidente do Sindicato dos Mototaxistas e Motofretistas do Estado do Acre (Sindmoto), Pedro Mourão. “Educar é o primeiro passo para se obter o respeito à legislação”, aponta. Ele pondera ainda que os mototaxistas, por fazerem parte de uma categoria, são visados e é preciso que sirvam de bom exemplo para os demais condutores de motocicletas.
Estatísticas com veículos duas rodas
De acordo com dados estatísticos fornecidos pelo Detran e pela Análise Criminal da Polícia Militar, em 2012, as ocorrências de acidentes envolvendo motocicletas tiveram frequência absoluta de 77% no interior do Estado e 57% na capital. Porém, os índices apurados em conjunto pelas instituições revelam que houve uma redução no número de óbitos e incidência de feridos em acidentes envolvendo motocicletas no Acre, num comparativo entre 2011 e 2012.
Em 2011, foram registradas 51 mortes de motociclistas, enquanto em 2012, computou-se 41 óbitos, o que significa uma diminuição na ordem de 18%. Com relação aos acidentes envolvendo condutores de motocicletas, houve uma redução de 7% no número de feridos, levando em consideração o aumento da frota de motos, que cresceu em 11% de nos dois últimos anos.
Outro dado relevante, no cenário nacional, é que o Acre foi o único estado da federação a reduzir os números de acidentes envolvendo motociclistas. O dado foi apresentado pela Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal, em novembro do ano passado.
“Os motociclistas, dos condutores de veículos automotores, são os mais vulneráveis no trânsito. Eles estão passíveis de acidentes mais graves, mesmo quando não são imprudentes. Devem tomar cuidado por si e pelos outros condutores. Mas temos observado aqui no Acre uma maior consciência por parte deles, seja no uso dos equipamentos obrigatórios e até no autocuidado. Tanto que tivemos essa redução significativa nas estatísticas. É um ganho no nosso trabalho”, expõe a diretora-geral do Detran, Sawana Carvalho.