O Movimento de Reintegração de Pessoas atingidas pela Hanseníase (Morhan) realiza nesta terça-feira, 3, em Cruzeiro do Sul, um encontro para comemorar os 28 anos de fundação do núcleo local. O auditório da Escola Craveiro Costa ficou lotado. Entre os presentes, ex-hansenianos que no passado foram internados compulsoriamente em hospitais-colônia e hoje recebem uma pensão mensal como reparação, bem como os filhos de hansenianos internados que foram tirados dos pais assim que nasceram.
Segundo o coordenador estadual do Morhan, Élson Dias da Silva, um dos temas mais importantes do encontro é exatamente a discussão da situação desses filhos separados dos pais. O Morhan pleiteia que a pensão mensal seja estendida a eles. “Aguardamos a aprovação da presidente Dilma, realizamos uma mobilização em Brasília. Temos parceria com o Ministério Público Federal para que os filhos também tenham direito a essa indenização”, explanou.
Em Brasília foi montada uma comissão interministerial que discute os valores da indenização e a documentação que os filhos deverão apresentar. “O que mais buscamos é a assinatura da presidente, assim como o ex-presidente Lula fez com a lei 11.520 por intermédio de medida provisória”.
Outro assunto a ser discutido no encontro é a situação das pessoas que foram isoladas em seringais e não foram contempladas com a Lei que deu direito à indenização. No Acre, 600 ex-hansenianos já recebem a pensão e ainda há casos em estudo.
Núcleo mais organizado
O acreano Edilson Honorato de Almeida mora há 30 anos em São Paulo e é o gerente da sapataria ortopédica do núcleo do Morhan em Mogi das Cruzes. Honorato veio representando o Morhan nacional no encontro e teve ótima impressão com o movimento no Acre. “O Morhan aqui no Acre é o mais forte do Brasil. A diferença é que todos trabalham juntos”.
Edilson pegou hanseníase aos nove anos de idade e foi isolado no hospital Souza Araújo, em Rio Branco, obtendo assim o direito à indenização. Foi para Mogi das Cruzes fazer curso de sapateiro ortopédico e acabou ficando por lá mesmo.
Mudou a vida
O ex-hanseniano Raimundo de Oliveira Costa contraiu a doença aos oito anos de idade, em 1973, juntamente com mais cinco irmãos, no seringal São José do Ribamar, município de Eirunepé-AM. Foi então que seus pais decidiram vir para Cruzeiro do Sul. Hoje ele recebe a pensão mensal e conta que sua vida mudou depois disso.
“Mudou minha vida e a vida de minha família. Fiz uma casa boa, comprei de tudo para dentro dela. Agradeço ao Bacurau que começou tudo isso, ao governador Tião Viana, que fez o projeto de Lei inicial, e ao presidente Lula, que assinou a medida provisória”, comenta Raimundo.
O agente de Endemias, Nélson Leandro Rodrigues, é um dos filhos que aguarda a indenização. Seus pais estiveram internados no hospital colônia de Cruzeiro do Sul e quando ele nasceu foi imediatamente conduzido ao Educandário – destino de quase todos os filhos que nasciam nessa condição. Isso ocorreu com ele e mais seis irmãos. Nelson aguarda um desfecho positivo para seu pleito. “A indenização vai me ajudar muito. Poderei montar um comércio e construir uma casa melhor para minha família”, conta.