Meu amigo tablet

Todo adulto fala de como é bom ser criança, do quanto sente saudade da época em que sua única obrigação era comer e brincar. A magia de ser criança envolve muitos aspectos: é ter energia e poder se divertir o dia todo, ser livre para descobertas constantes, ter um mundo cheio de histórias e sonhos. Porém, na atualidade, há um impasse que tem permeado essa etapa tão memorável de nossas vidas.

Devido a pandemia, nas famílias que tentam respeitar as medidas de isolamento, encontram-se as crianças, as quais têm sido assoladas pelo distanciamento social. É perceptível os malefícios que o cenário atual gera nos pequenos; todavia, nem todos conseguem atinar para isso. Estamos com problemas financeiros e, em algumas áreas profissionais, a labuta aumentou, vivenciamos luto constante, enfrentando nossos próprios problemas psicológicos… e acabamos esquecendo de nossas crianças, que tiveram a rotina quebrada da mesma forma que nós tivemos.

Às vezes, é muito mais fácil e conveniente entregar um tablet ou colocar a criança para ver TV, já que estamos ocupados e, cuidar, além de demandar tempo, é cansativo. Assim, percebemos nos eletroeletrônicos uma aliada opção de entretenimento, permitindo, muitas vezes, que os meios eletrônicos sejam os únicos amigos desses meninos e meninas – sem nos darmos conta da gravidade que todas essas circunstâncias podem acarretar à geração desses pequeninos.

A intenção aqui não é julgar os pais ou quem cuida das crianças, mas sim lembrar que se não fosse a pandemia as crianças estariam em outra rotina, outra dinâmica, indo para a escola, conversando com os amigos da rua, com os primos, socializando e interagindo.

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) até os 12 anos de idade o indivíduo é considerado criança. E o que estamos fazendo durante essa fase? Descobrindo o mundo. Ainda não é a hora de ficar infeliz com situações como política, economia e saúde pública, pois não se tem entendimento suficiente para compreender esses assuntos. Talvez seja por isso que é uma fase tão boa, não sabemos como o mundo é injusto.

Ao ponderarmos o cenário de isolamento social, presenciamos essa (des) alegria infantil que vem de não poder brincar como outrora. No cenário pré-pandemia, muitas crianças que tinham liberdade para usufruírem de brincadeiras diversas e em contato com amigos – interagindo e trocando experiências repletas de ludicidade –, no momento atual, passam um dia inteiro vendo vídeo. Por mais que as crianças gostem disso, é muito mais fácil ver um sorriso delas quando veem alguém pessoalmente, bem como quando têm um contato humano. Passar o dia vendo vídeo, mexendo no celular ou tablet tira a alegria das crianças, é algo monótono e que, muitas vezes, as deixam ansiosas e nervosas. Da mesma maneira, pode ser muito prejudicial à saúde e ao desenvolvimento.

Cuidar de crianças nessa época é um desafio, é nesse período que são desenvolvidas as habilidades como fala, convívio social, leitura e escrita, eles não entendem exatamente o que está acontecendo no mundo, ainda que essas mudanças estejam comprometendo o desenvolvimento delas. Nossa geração nunca passou por isso, é desafiador educar uma criança em mais de um ano em pandemia, enquanto seus melhores amigos são os tablets, tv e celular.

Ana Luiza Bessa é acadêmica de Jornalismo e Publicidade na Estácio Unimeta.

Compartilhe:

WhatsApp
Facebook
Twitter