Mais de 300 estudantes de Feijó e Tarauacá concluíram o ensino médio pelo programa
A vida escolar de muitos estudantes às vezes é interrompida por fatores como trabalho e problemas familiares. Falta de estímulo e idade avançada são alguns dos motivos que levam esses jovens a não voltarem à sala de aula. No Acre, os programas de aceleração Poronga e Programa Especial do Ensino Médio – Peem Poronga são desenvolvidos pela Secretaria de Estado de Educação (SEE) em parceria com a Fundação Roberto Marinho.
Nesta terça e quarta-feira, 16 e 17, 310 jovens dos municípios de Feijó e Tarauacá que estavam com idade avançada para frequentarem o ensino regular comemoraram o fim de mais um etapa em suas vidas: a conclusão do ensino médio pelo Peem Poronga. "Estava muito atrasada. Nunca vou esquecer o Peem. Ele me trouxe o estímulo de voltar a acreditar nos estudos", declara a feijoense Valdeneci Albuquerque, da Escola José Roberto Gurgel.
A trajetória de Valdeneci, 20, não foge muito das de suas colegas de turma. Ela passou boa parte do curso indo durante muitas noites da colônia para a cidade de bicicleta. Seu percurso entre o ramal e a escola levava meia hora, motivo pelo qual pensou em desistir, mas resolveu o problema trabalhando como doméstica em Feijó. "Concluir hoje foi uma benção para mim. Meu objetivo agora é fazer medicina e sei que sou muito capaz".
Entre os vários motivos que fazem do programa Peem Poronga um sucesso de aprovação – em média 98% – está a maneira como o professor trabalha em sala de aula as disciplinas ministradas. O uso das novas tecnologias e a constante interação aluno/professor proporcionam um ambiente diferenciado e estimulante. Nas aulas, o conhecimento prévio do aluno é tão importante quanto os assuntos obrigatórios. "No início estranhei as aulas em círculo, mas logo me adaptei. As pessoas interagem e isso chama nossa atenção", destaca Leandro Souza, 20, de Tarauacá.
Com a segurança do aprendizado adquirido nos 18 meses de curso, Leandro não perdeu tempo e já deu o primeiro passo a caminho de seu sonho: prestou vestibular para Comunicação Social/Jornalismo. "Quero concluir uma faculdade de jornalismo. Estou muito confiante no resultado, pois fiz boas provas", diz, emocionado, o jovem, que saiu do Jordão para vir cursar o Peem em Tarauacá.
Implantado em 2005, o Peem Poronga já certificou 6,5 mil estudantes nos seis municípios onde está presente e conseguiu diminuir em mais de 50% a distorção idade/série do ensino médio. "A contribuição desse programa é significativa porque esses estudantes estavam desiludidos e o programa os deixa motivados para saírem mais atuantes", comenta a coordenadora do Núcleo de Educação de Tarauacá, Francisca Aragão.
Os planos de Lázaro Cavalcante confirmam o que a coordenadora diz: "Quero agora fazer concurso público. O Peem foi tão importante na minha vida que vou colocar meu diploma num quadro na minha sala. Vale a pena mesmo participar do curso."
Incentivo às artes e empreendedorismo
As cerimônias de colação de grau do Peem sempre contam com apresentações culturais de seus alunos. Essa característica não é por acaso. A descoberta ocorre no decorrer do curso pelos "padrinhos de turma", professores que adotam a turma até o fim do curso. Nesse período, o aluno identificado com alguma habilidade, tanto cultural quanto profissional, é acompanhado de perto por seu padrinho. "O docente tem que estabelecer um vínculo forte de parceria e amizade com seus orientandos e assim estabelecer uma relação de confiança e cumplicidade. É dessa forma que se identificam as habilidades e competências dos alunos", explica a coordenadora Maday Correia.
O próximo show de talentos já está marcado. Será nesta sexta-feira, 19, em Cruzeiro do Sul, na entrega de 328 certificados de conclusão do ensino médio aos alunos das escolas Craveiro Costa, Dom Henrique Lima, Flodoardo Cabral e Valério Caldas.