Quando não está servindo aos meninos na cantina da escola é para um mundo mais justo ambientalmente que dona Ozimira Inajoza do Nascimento volta os olhos e os bons préstimos de suas mãos, ao cultivar um jardim.
No Dia Internacional do Trabalhador, a merendeira de 65 anos, 32 deles dedicados a uma das causas mais nobres que um ser humano possa abraçar, a educação, é lembrada como símbolo de que o trabalho, não só dignifica as pessoas, mas também muda o mundo.
A rotina dela, ao longo de mais três décadas, sempre foi a de preparar o mingau, o baião de dois ou o arroz com carne e bananas compridas cozidas.
Depois da refeição dos estudantes na escola Elozira dos Santos Tomé, na estrada para Porto Acre, onde desde sempre trabalhou, é a vez de pegar pesado com a louça. Detergente e esponja numa mão, pratos e colheres noutra e dana-se a ensaboar os utensílios com zelo, enquanto cantarola alguns trechos de Roberto Carlos.
“Foi sempre assim. A Mira é muito feliz no que faz aqui e é por isso que nossa escola é bem servida”, se orgulha a gestora da escola, Clecia de Souza Moura, ao falar da colega de trabalho.
A mulher multitarefa, nas horas vagas, cuida de orquídeas, azaleias e tulipas, algumas das plantas ali há mais de duas décadas. “Um dia, percebi que faltava cores na escola. Resolvi então criar o jardim. Nele, eu me encanto e me encontro”, ressalta ela.
As plantas vieram para o espaço escolar nas inúmeras viagens que Ozimira fez para resgatar crianças em situação de evasão no bairro Placas e Tancredo Neves. De casa em casa, pedia uma muda de planta aqui, outra acolá, até formar o jardim.
Enquanto membro do conselho escolar, foram várias as visitas às casas dos faltosos. E na garganta, um discurso de cor: “Estamos aqui para preparar cidadãos para a sociedade, e as crianças são o futuro de amanhã”.
“Muitas vezes, tirávamos o sábado para visitar residências de estudantes que não mais frequentavam as aulas. Para os pais o recado era claro: ‘Olha, você quer que seu filho se perca na vida? Você não quer que ele consiga um bom trabalho? Então diga a ele que volte para a escola’, nós aconselhávamos e dava certo, porque às vezes o pai nem estava sabendo que o filho não ia à escola”.
E aposentar-se agora, nem pensar. “Acho que em dezembro, eu vou”, diz. E pelas contas da escola, esse já é o quinto em que ela promete ir para casa. “Agora é de verdade, vou sim, porque quero um tempinho para brincar com meus bisnetos”.
Mas a depender do tempo e do carisma de Ozimira do Nascimento, é provável que ela fique por lá mais 20 anos, quem sabe, se assim o Criador a permitir. Afinal, em meio ao jardim e à tarefa de servir as refeições, a merendeira da escola Elozira Tomé encontrou o trabalho mais feliz do mundo.