Sofrer preconceito sempre é doloroso. E quando se torna insuportável, a pessoa afetada pode sentir necessidade de chamar a atenção do seu entorno para a dificuldade com que convive.
Foi o que fez Bruna de Freitas, ao empreender, na manhã desta sexta, 30, a I Marcha contra a Psicofobia e outros Preconceitos no centro de Rio Branco. Expressão relativamente nova para designar uma atitude antiga, “psicofobia” é o preconceito contra portadores de doença mental.
A organizadora Bruna, de 20 anos, apresenta desde a infância Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e depressão, mas só procurou tratamento no Hosmac há poucos anos. A demora em buscar ajuda se deu pelo temor da própria família de admitir o distúrbio, o que é frequente e também configura uma forma de preconceito.
As crianças e adolescentes com TDAH são apontados como “avoados”, “vivendo no mundo da lua” ou “estabanados”, “ligados por um motor”. E podem manifestar outros problemas de comportamento, como dificuldades com regras e limites.
Já em adultos ocorrem problemas de desatenção para coisas do cotidiano e do trabalho, bem como lapsos de memória. São também inquietos e impulsivos. A acadêmica de Psicologia Joceny Ribeiro também tem TDAH e afirma que, mesmo estando num ambiente que propõe estudar a doença mental, enfrenta discriminação por parte de colegas e até de professores: “São intolerantes com meu comportamento argumentador”, diz.
Embora a manifestação tenha tido proporções tímidas, o movimento é emblemático porque a discriminação é frequente. O psicólogo Fabiano Carvalho, que atua no Hospital de Saúde Mental do Acre (Hosmac), avalia o movimento: “O mais interessante é que a iniciativa tenha surgido diretamente de pessoas que sofrem na pele o preconceito e querem expressar sua indignação com o desrespeito com que convivem”.