Parceria entre comunidade, governo do Acre e WWF Brasil aponta resultados positivos
A fusão do saber tradicional, adquirido ao longo dos anos de profissão, com o saber científico resulta em avanços significativos na pesca do pirarucu. O projeto "Manejo Participativo em Lagos", iniciado em 2002, é um dos resultados do Fórum Municipal de Pesca. Nesse encontro, o governo do Estado, por meio da Secretaria de Extensão Agroflorestal e de Produção Familiar (Seaprof), representantes da WWF e da comunidade local elaboraram uma proposta de trabalho que incluiu o manejo do pirarucu em Manuel Urbano (220 quilômetros de Rio Branco).
De acordo com o técnico da Seaprof Leopoldo Lima de Oliveira, a primeira contagem de pirarucu para realizar o levantamento do potencial em treze lagos da região aconteceu em 2005. O lago de Santo Antônio foi o mais indicado para o manejo.
A partir dessa pesquisa, em conjunto com o Ibama, foi executado um acordo de pesca. Nova contagem foi realizada em 2007, quando o número de pirarucus saltou de 56, em 2005, para 189, representando um aumento de 237,50%. "O ambiente favorável do lago Santo Antônio possibilita a migração de peixes para a reprodução", ressaltou o técnico.
A pesca de pirarucu é permitida apenas uma vez por ano. O período de despesca desde o ano passado é realizado em agosto, na semana que antecede a realização da Feira de Pirarucu Manejado. O foco central do evento no primeiro ano foi a apresentação dos resultados satisfatórios obtidos com o manejo, além de facilitar a comercialização do produto. Para este ano, o desafio dos pescadores e dos organizadores é evidenciar a consolidação do projeto e a superação dos índices alcançados em 2007.
Os organizadores esperam mais de 3 mil visitantes na II Feira de Pirarucu Manejado. No ano passado, foi vendida mais de uma tonelada do peixe
O pescador Francisco Filho participa do projeto desde as primeiras discussões. Ele conta que, antes do manejo, as famílias pescavam apenas para subsistência e de forma desregrada. "O contato com as pessoas de fora tem garantido melhorias na nossa vida, além de garantir uma renda que não tínhamos", destacou o pescador.
Atualmente, vinte pescadores da colônia Z-7 participam de forma direta do manejo participativo. Além deles, cerca de 200 famílias da comunidade são beneficiadas indiretamente.
Os recursos arrecadados com a comercialização dos produtos são destinados ao grupo de pescadores (72%), à comunidade (15%) e à colônia de pescadores (13%). Somente a parte dos pescadores é entregue em espécie – o restante é transferido ao fundo de reserva da colônia, e depois de uma assembléia a comunidade decide em quais áreas os recursos serão aplicados.
De acordo com o presidente em exercício da Z-7, Antônio Amaro, a troca de experiência entre os técnicos e os pescadores permitiu a estruturação das ações e o fortalecimento da colônia. "Estamos muito satisfeitos com a parceria e também com a geração de renda. A gente já começa a contar com esse dinheiro todos os anos", comemorou o pescador.
Paciência, experiência e concentração fazem a diferença na hora de capturar o pirarucu. Os pescadores iniciam a operação logo no começo da manhã, quando saem as canoas. O trabalho em equipe é primordial para o sucesso no fim do dia.
De três a quatro canoas permanecem o dia inteiro no lago à espera de um dos maiores peixes de água doce do mundo. Cada vez que o arpão é lançado, aumenta a expectativa daqueles que dependem da pesca para sobreviver. O trabalho em equipe volta a ser necessário quando os pescadores conseguem capturar o peixe, que pesa mais de 100 quilos na maioria das vezes.
O processo de tratamento do pescado é todo realizado pelos pescadores da colônia. Assim que desembarcam das canoas, os pirarucus são pesados. Em seguida, retiram-se as escamas e começam as etapas de corte. Todas as partes são novamente pesadas e recebem um lacre de controle.
O Ibama mantém representantes para acompanhar a despesca. O acordo de pesca prevê que apenas peixes com tamanho superior a 1,5 metro podem ser capturados. A meta para este ano é de que 27 pirarucus sejam pescados, totalizando mais de uma tonelada do produto. "A média por dia está dentro do esperado", destacou o pescador Francisco Filho.
Nova prática garante a preservação da espécie | ||
Manejo participativo garantiu que o número de peixes em Manuel Urbano saltasse de 56 em 2005 para 189 (Foto Angela Peres / Secom) |
Até ontem, o maior pirarucu capturado tinha 2,6 metros e 177,5 quilos. O pescador Raimundo Pinto, homem de simples, mas não de poucas palavras, conta minuciosamente as estratégias para pegar, segundo ele, o maior peixe de sua vida. "A gente precisa conversar com as pessoas de mais experiência para conseguir resultados. A paciência também me ajudou bastante."
Os dados positivos permitem que o projeto inicie a fase de expansão em Manuel Urbano, aumentando para três o número de lagos manejados e também para outros municípios. Os pescadores de Tarauacá e Feijó já começaram a participar de encontros com os integrantes da colônia Z-7.
Para o pescador Geraldo Bispo Almeida, a iniciativa contribui para a melhoria da qualidade do pirarucu e da vida das pessoas envolvidas com o projeto. "Dentro da nossa realidade, é muito prazeroso encontrar meios para conseguir renda", disse.
Produtos serão comercializados na II Feira de Pirarucu Manejado
Com a proposta de apresentar mais uma alternativa de renda para as famílias envolvidas com o manejo participativo do pirarucu em Manuel Urbano, o governo do Estado, por meio da Secretaria de Extensão Agroflorestal e de Produção Familiar (Seaprof), desenvolve o curso de artesanato destinado às comunidades. A capacitação foi dividida em duas etapas – na primeira, cerca de 25 pessoas estão desenvolvendo peças que serão expostas e comercializadas durante a II Feira de Pirarucu Manejado, que acontece entre os dias 15 e 17 deste mês, na praça central de Manuel Urbano.
"Aprendemos que tudo pode ser aproveitado", enfatizou a aluna Zaira Magalhães. Ela se refere às sementes encontradas na floresta e às escamas dos pirarucus. Essas matérias-prima são utilizadas para produzir colares, peças de decoração, jóias e até cortinas. Todas as escamas retiradas dos peixes durante a despesca são aproveitadas para o artesanato e pesquisas.
De acordo com o artesão e instrutor Wilson Araújo, na segunda etapa o material se somará ao buriti para formar móveis. "Encontramos mais uma maneira para dar oportunidade às famílias de Manuel Urbano de possuir renda", disse.
Leopoldo Lima de Oliveira, técnico da Seaprof, destacou que o curso de artesanato é uma das inovações da II Feira de Pirarucu. "No primeiro ano capacitamos as cozinheiras do município. Agora ampliamos o projeto para atingir cada vez mais setores", destacou.