Mais de 6 mil vagas no setor público em um ano: engrenagem que muda a vida das pessoas e fortalece os serviços no estado

Servidor, termo que pode ser um substantivo ou adjetivo, e que tem como significado aquele que serve, que trabalha a favor de alguém. Trilhar o caminho da carreira no setor público é o sonho de muita gente, e no Acre não é diferente. O foco nesse ambiente de oportunidades, como forma de qualificar o atendimento e valorizar o servidor público pode ser visto no balanço feito pela pelo governo do Acre, por meio da Secretaria de Estado de Administração do Acre (Sead).

Só no ano passado, segundo os dados, foram 6.222 servidores convocados para o quadro do Estado, resultado de concurso público efetivo ou processo seletivo simplificado, que oferece vagas temporárias. A medida só reforça o compromisso do governo estadual em oportunizar esse ingresso dos jovens no mercado de trabalho. Para quem foi chamado, além da realização de um sonho, é a forma de contribuir para o progresso do estado trabalhando na área que escolheu para atuar.

Fabiana foi convocada no concurso da Sesacre no ano passado. Marcos Vicentti/Secom

Do total de convocados, a pasta que mais teve reforço em servidores foi a Secretaria de Saúde (Sesacre), que contou com 826 contratações.

Convocação que muda vidas

O concurso muda a vida não só de quem passou, mas é fundamental para a qualificação do serviço prestado à população. Uma dessas vagas do concurso da Sesacre foi ocupada pela fisioterapeuta Fabiana Souza, de 31 anos. Filha de fotógrafo, que também é ambulante, e de dona de casa, ela viu sempre na educação e na carreira do serviço público a oportunidade de assegurar aos pais uma aposentadoria tranquila.

Ela conta que foi desacreditada por muitos, mas que sempre aproveitou as oportunidades para se sobressair com ensinamentos dos pais, que, mesmo tendo até a 4ª série, sempre focaram na educação das duas filhas. Estudante de escola pública, conseguiu ingressar em uma faculdade particular por meio da bolsa do Programa Universidade para Todos (Prouni), o primeiro degrau para ver sua história mudar.

“Com eles, aprendi sobre simplicidade, humildade, honestidade e respeito. Tem gente que tem mais ambição, mas eu não. Eu conseguindo dar conforto aos meus pais já está bom. Hoje posso contribuir em casa, sou a renda mais segura, o que me deixa feliz, mas queria que fosse diferente”, conta.

Fabiana tem uma irmã mais nova que está se formando em enfermagem e pretende ingressar no serviço público. Para ela, essas conquistas coroam o esforço dos pais que sempre lutaram para que as filhas tivessem uma realidade diferente da que eles vivenciaram.

“Meus pais não tiveram a oportunidade de estudar como a gente. Conseguem ler e escrever, mas muito pouco, no entanto sempre nos incentivaram a ir pelo caminho dos estudos”, relembra.

Hoje, a fisioterapeuta atua na clínica médica do Pronto-Socorro e reconhece que ser chamada no concurso público mudou sua vida. “As oportunidade estão aí e corri atrás, porque nada cai do céu. Até hoje, quando não estou trabalhando, ajudo meu pai na venda de milho cozido. Para mim, não tem problema, contanto que estejamos sempre juntos”, reforça.

Com o concurso público, Marcos diz que pôde pensar em novos planejamentos. Fotos: Marcos Vicentti/Secom

Qualificação do serviço prestado

No mesmo concurso de Fabiana, Marcos Melo foi chamado. A história do também fisioterapeuta se encontra com a da colega de profissão, já que os dois alunos do ensino médio da rede pública, que conseguiram o ingresso no ensino superior por meio do Prouni, tinham o sonho de servir. Para além disso, a estabilidade e a valorização também foram sonhos contemplados com o contrato.

Marcos atualmente atua na emergência clínica do Pronto-Socorro. Aprendeu a amar o serviço público em casa ao acompanhar a trajetória da mãe como servidora, sendo agente de trânsito.

“Sempre tive esse objetivo de ter estabilidade, não só pela parte financeira, mas por questões familiares também, porque a família precisa da nossa ajuda dentro de casa. Quando saíram os primeiros rumores do concurso, já comecei a estudar”, conta.

Na época ele já trabalhava em uma empresa privada e conciliava a carga horária de trabalho com cursinhos preparatórios e algumas horas de preparação em casa, tudo para buscar o sonho de servir ao Estado.

“Foi uma convocação e uma forma de ter outros projetos de vida. Estou conseguindo, por exemplo, prover melhor minha família e ter perspectiva para o futuro. Quando a gente passa em um concurso a gente só vem somar e qualificar ainda mais esse serviço, porque ele seleciona os melhores para trabalhar naquele serviço, além de gerar emprego e renda”, completa.

Victoria Elisabeth foi empossada aos 25 anos como enfermeira da Sesacre. Foto: cedida

Aos 25 anos, Victoria Elisabeth Mariano da Conceição também entrou para o quadro de efetivos do Estado. Quando fez o concurso para enfermeira na Sesacre ela tinha 23 anos, em 2022, e foi chamada no final do ano passado.  Ela resume que poder ser concursada tão nova dentro da área que escolheu é motivo de muito orgulho. Atualmente, ela está lotada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) também do Pronto-Socorro.

“Escolhi essa carreira para poder ajudar e cuidar daqueles que precisam. E é muito importante mais concursos para a inserção de mais jovens no mercado porque trazem novos pontos de vista nos serviços e oportunidade para mais profissionais”, conta.

Aos 26 anos, Rodrigo destaca que passar em um concurso foi a realização de um sonho. Foto: Marcos Vicentti/Secom

Reforço em várias áreas

Já na Secretaria de Educação, ocorreu um processo seletivo para a contratação de 3.323 professores. Houve chamamento de efetivos e temporários também para a Polícia Civil; o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Acre (Idaf), o Corpo de Bombeiros (CBM); o Instituto Socioeducativo (ISE); o Instituto de Administração Penitenciária (Iapen) e o Departamento Estadual de Trânsito do Acre (Detran/AC). Há convocação de processos seletivos e concursos feitos entre 2015 e 2022, inclusive para a Educação e a Saúde.

Na área ambiental, os engenheiros florestais Rodrigo de Araújo e Ana Cláudia Salomão também comemoraram a aprovação no concurso feito pelo Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Acre (Idaf) em 2020 e estão lotados no Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac) desde o ano passado. Os dois trabalham no setor de licenciamento ambiental e concordam que o concurso público é a forma de valorizar os profissionais do Estado.

Realização de um sonho

Neto de seringueiros, Rodrigo Araújo, aos 26 anos, conta que sempre teve acesso às causas ambientais no seu cotidiano, principalmente porque morava no Bairro Cidade Nova e via constantemente a casa alagar, fato que o fez ter especialidade em recursos hídricos.

“Desde o início da faculdade, já me envolvia em atividades que eu achava que fossem pertinentes para a minha formação e vivência profissional. E culminou de ter o concurso próximo à data que eu ia me formar. Quando fiz a prova ainda era acadêmico, então me formei em 2022 e em 2023 fui chamado”, relembra.

Por meio da bolsa de estudos, Rodrigo conseguiu estudar em uma escola particular: “Consegui essa bolsa por meio das políticas afirmativas mesmo, porque eu era de baixa renda, então não pagava mensalidade. Em casa não tinha muito acesso à internet, mas na escola já conseguia ter acesso ao computador e mais materiais”.

Mesmo tendo acesso a muitas ferramentas que o ajudaram a chegar ao serviço público, o engenheiro diz que sempre focou em estar no cargo que ocupa atuando na área que sempre quis atuar.

“Estar aqui hoje é a realização de um sonho. Acredito que a inserção de mais jovens no serviço público é importante. Essa troca entre os mais jovens e mais experientes traz uma renovação para a própria estrutura governamental”, pontua.

Só no ano passado, foram chamadas mais de 6 mil pessoas para o setor público no Acre. Foto: Marcos Vicentti/Secom

‘É uma causa’

Ana Cláudia Salomão tem 36 anos e sempre esteve envolvida em trabalhos voltados para o meio ambiente. Atualmente como engenheira florestal do Estado, ela diz que consegue desenvolver o trabalho dentro daquilo que sempre acreditou e fazendo a sua parte para os avanços na área.

O primeiro sonho realizado foi se formar na Universidade Federal do Acre (Ufac). Depois disso, fez mestrado no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e participou do concurso em 2020 e, enquanto esperava, chegou a trabalhar um período no Rio de Janeiro, retornando um mês antes de ser convocada para o concurso.

Ana diz que o ser serviço público possibilita a ela contribuir com o estado na sua área de atuação. Foto: Marcos Vicentti/Secom

“Acho que tem algumas profissões que carregam um quê de militância. Ser engenheira florestal é uma causa, não só uma profissão, e eu sempre quis trabalhar no meu estado, contribuir onde nasci e, claro, ter a estabilidade que todo mundo quer”, revela.

Persistente é o adjetivo que define Ana. Antes de conseguir passar no concurso, ela tentou por 10 vezes entrar no serviço público em outras áreas em que sua formação podia ser contemplada, e foi aprovada exatamente no da sua área, onde ela pode atuar e contribuir com os conhecimentos adquiridos durante anos atuando na área ambiental, seja pela passagem em organizações não governamentais ou instituições.

“Depois de alguns anos formada consegui concretizar esse sonho. Não é apenas um concurso, é um planejamento de vida. O importante é ter bastante concurso em todas as áreas para que jovens, que estejam em uma profissão que seguem por ideal, consigam contribuir para o estado, porque muitas vezes não conseguem, mudam de profissão, de área, e não conseguem cumprir com seu propósito inicial”, finaliza.

Mais vagas

O titular da Sead, Paulo Roberto Correia, destacou que convocar pessoal qualificado é sinônimo de um serviço de excelência.

“É um compromisso do governador Gladson Cameli o chamamento, por meio de concursos públicos, desses servidores que o Estado hoje tanto precisa, melhorando a qualidade técnica dos nossos serviços e qualificando o atendimento ao nosso cidadão, que é o nosso principal empenho, e para que aconteça da melhor maneira possível. Dessa forma, também queremos dizer que além de trazer o servidor efetivo para dentro dos quadros do Estado, nós estamos reforçando o nosso Acreprevidência com as contribuições que esses servidores vão fazer no momento em que tomarem posse”, destaca.

Já para este ano, foi lançado o concurso da Secretaria da Fazenda (Sefaz), que oferece 164 vagas, distribuídas entre diferentes cargos, proporcionando oportunidades para candidatos de níveis superior e médio. As vagas contempladas são: 48 para auditor da Receita estadual (nível superior), 9 para contador (nível superior), 47 para especialista da Fazenda estadual (nível superior) e 60 vagas para técnico da Fazenda estadual (nível médio).

Governo planeja abrir mais vagas no setor público. Foto: Marcos Vicentti/Secom

Os salários oferecidos variam conforme a posição, alcançando até R$ 20 mil para o cargo de auditor, mais de R$ 9 mil para especialistas e contadores, e ultrapassando R$ 3 mil para o cargo de técnico.

No final do ano passado, durante a cerimônia do primeiro Prêmio de Comunicação do Governo do Acre, Gladson Cameli anunciou o lançamento do maior concurso público da história da educação do Acre, visando ao preenchimento de três mil vagas efetivas.

Na abertura do ano legislativo, na quinta-feira, 1º, o governador também anunciou que vai convocar, até maio, 58 integrantes do cadastro de reserva do Corpo de Bombeiros.

Também no começo deste ano, o governo do Acre divulgou a convocação de candidatos que se encontravam em situação sub judice para a prova de aptidão física do concurso destinado ao cargo de agente de Polícia Penal, conforme o Edital n.º 001/2023 – Sead/Iapen, datado de 19 de junho de 2023. O processo segue em andamento.

Além disso, o estado também tem comemorado contratações no setor privado. Dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), divulgados na última quarta-feira, 31, no balanço de 2023 foram 50,7 mil admissões e 46,1 mil desligamentos, totalizando assim um saldo de 4.562 novos postos de emprego formal.

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