Mais de 22 mil quelônios manejados são soltos no Abunã

Projeto SOS Quelônios trabalha a conservação de tracajás e iaçás com o envolvimento de 150 famílias

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Preservação ambiental, conservação das espécies, segurança alimentar. Este é o tripé do projeto SOS Quelônios, com base em Acrelândia, que é desenvolvido numa faixa do rio Abunã que inicia antes de Plácido de Castro, na região da Bolívia, e se estende até Marmelo, em Rondônia. Neste ano serão soltos no rio mais de 22 mil tracajás (Podocnemis unifilis) e iaçás (Podocnemis sextuberculata). No último sábado foi realizada uma soltura simbólica de dois mil filhotes com a participação dos principais parceiros do projeto.

O SOS Quelônios nasceu de uma iniciativa da Associação de Moradores de Plácido de Castro. Em 22 de julho de 2000 o projeto foi fundado e conta com a participação de mais de 150 famílias ao longo do Abunã. O principal parceiro do projeto é o Governo do Estado, através da Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof), Secretaria de Meio Ambiente (Sema) e Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac). No sábado foi assinado o Termo de Cooperação Técnica que define as competências de cada órgão para a manutenção do projeto. Ibama, Pelotão Florestal, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Rondobrás, Star Motors e Restaurante A Princesinha também são parceiros do da iniciatiba.

“O Governo do Estado tem muita satisfação em apoiar o SOS Quelônios principalmente por ser uma iniciativa da comunidade. O Governo reconhece a preocupação da comunidade com a preservação ambiental, a seriedade e a responsabilidade com a qual o projeto é desenvolvido. Queremos que este experiência seja difundida e multiplicada para outras comunidade”, disse a presidente do Imac, Cleísa Cartaxo.

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Projeto conta com apoio do programa de produção familiar do Governo do Estado

"Populações estão sensibilizadas com a preservação ambiental"

O coordenador geral do SOS Quelônios, Hamilton Holsbach, lembrou das dificuldades enfrentadas no início do projeto com a resistência dos ribeirinhos. “Hoje vivemos um momento interessante do projeto, com consciência ambiental. Houveram até ameaças de morte aos manejadores e hoje essas populações estão sensibilizadas e envolvidas no manejo. Outro ponto importante é a presença das escolas no projeto para trabalhar a conscientização ambiental”, disse.

Para Holsbach, o repovoamento do rio com as espécies é um segundo momento do SOS Quelônios. A sensibilização da comunidade deveria acontecer antes. O trabalho já apresenta resultados. Ao longo do rio é possível ver tracajás e iaçás tomando sol em galhos de árvores caídos nas margens. Em oito anos de projeto já foram soltos mais de 80 mil filhotes manejados. Outro ganho ambiental é a preservação e conservação das matas ciliares.

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Projeto já apresenta resultados e hoje, os quelônios são encontrados mais facilmente nos rios da região

Os quelônios fazem parte da dieta alimentar de ribeirinhos, indígenas e outras populações tradicionais da floresta. Nos últimos 200 anos os animais, principalmente os tracajás, foram muito caçados. Dois fatores prejudicaram ainda mais a conservação das espécies: o comércio da carne e a coleta dos ovos, impedindo a reprodução. No ambiente natural a perda durante o processo reprodutivo é grande, pois gaviões, jacarés, e outras espécies são predadores de ovos e filhotes. Poucos conseguem percorer o caminho entre os ninhos e a água, ou mesmo sobreviver depois que alcançam o rio. A conscientização e a participação comunitária, explica o coordenador, é fundamental para a preservação da espécie e do meio ambiente. O manejo natural dos animais permite que eles sejam soltos nos rios e lagos somente após a cicatrização do umbigo e o endurecimento do casco, aumentando as chances de sobrevivência dos filhotes.

Praias têm vigilância 24 horas durante o manejo

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Antônio Abraão é um dos coordenadores deste projeto

O projeto tem 285 praias mapeadas ao longo do Abunã, entre Acre e Rondônia. Há oito anos eram apenas 35. Na época da desova os manejadores percorrem as praias recolhendo os ovos e transportando-os para tabuleiros, numa praia com vigilância 24 horas. Os ovos permanecem ali até a eclosão, quando os filhotes são levados para berçários. Os menores, mais frágeis ou doentes recebem atenção especial e podem ser encaminhados para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), se for necessário. Os filhotes ficam no berçário até que o umbigo se feche e pare de exalar um cheiro que atrai os predadores.

“Este é um trabalho que exige muito amor à causa, porque as dificuldades são muito grandes e todos são voluntários. Para que este trabalho aconteça as parcerias são fundamentais, principalmente a parceria com o Governo do Estado, que nos ajuda a manter o projeto”, disse o coordenador de campo do SOS Quelônios, Antônio Abraão Libdy Kerdy.

Os quelônios manejados são soltos em lagos ao longo do rio Abunã. Uma parte dos filhotes é enviada para aldeias indígenas visando garantir a segurança alimentar através das proteínas que a carne de tracajá – que sempre fez parte da dieta de ribeirinhos e indígenas. Segundo Maria Nogueira, de Seaprof, os animais já foram enviadas para as Terras Indígenas Colônia 27 e Igarapé do Caucho, em Tarauacá, Katukina, em Feijó e Seringal Independência, no Jordão.

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