Em setembro, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do 2º Distrito atendeu quase 15 mil usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) – cerca de 470 por dia -, o que gerou mais de 76 mil procedimentos clínicos. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre), a demanda poderia ser reduzida em cerca de 80%, incluindo a UPA do Tucumã, se a população recorresse, com mais frequência, aos postos de saúde e às Unidades de Referência de Atenção Primária (Uraps), que estão distribuídos por todos os bairros de Rio Branco e ainda no interior do Estado.
Em 2003, o Ministério da Saúde (MS) lançou a Política Nacional de Urgência e Emergência (PNUE), a fim de estruturar e organizar a Rede de Urgência e Emergência (RUE), cujas principais diretrizes apontam “a universalidade, equidade e integralidade da atenção a todas as situações que se encaixem nesse perfil, incluindo as clínicas gineco-obstétricas, psiquiátricas, pediátricas e as relacionadas às causas externas, como traumatismo, violência e acidente”. O Acre foi um dos primeiros da Região Norte a estabelecer apoio institucional nessa área, como política pública, fortalecendo, assim, as redes de saúde.
{xtypo_quote_left}Agora, os pacientes de Assis Brasil, Brasileia, Bujari, Capixaba, Epitaciolândia, Manoel Urbano, Plácido de Castro, Porto Acre, Sena Madureira, Senador Guiomard e Xapuri podem agendar consultas no Hospital das Clínicas (HC) de Rio Branco, por meio das secretarias municipais de Saúde, sem a necessidade de sair da cidade de domicílio{/xtypo_quote_left} |
Hoje, a atenção primária é constituída pelas unidades básicas e de saúde da família (de responsabilidade dos municípios), onde o paciente é avaliado e, se necessário, encaminhado para tratamento nos hospitais, que respondem pelo atendimento de média e alta complexidade (de responsabilidade do Estado). No nível intermediário, estão o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e as UPAs 24 horas – destinadas a casos como o da dona de casa Raimunda da Silva Ferreira, moradora da Vila da Amizade, em Rio Branco, que, após passar mal, foi aconselhada por um vizinho a procurar assistência médica, no dia 7 deste mês.
Na UPA do 2º Distrito, Raimunda soube que, mais uma vez, o diabetes (tipo 2) precisava de cuidado redobrado e com urgência, até porque ela é cardiopata, possui apenas um dos rins e pressão alta. “Foi a terceira vez que procurei ajuda e, novamente, fui bem atendida. Não tenho do que me queixar”, descreveu. Isso quer dizer que os casos como o de Raimunda representam apenas 20% da demanda a que realmente uma unidade desse porte se destina, que é o de estabilizar e controlar quadros de saúde já debilitados.
“Para marcar uma consulta com o cardiologista, por exemplo, o paciente poderá ir a um Centro de Saúde, onde será feito um procedimento que dirá se realmente há necessidade de a pessoa ser encaminhada ao cardiologista do Hospital das Clínicas (HC) de Rio Branco ou se o problema pode ser resolvido ali mesmo”, explicou Marize Lucena, assessora técnica do gabinete da Sesacre. Com o encaminhamento em mãos, o processo de agendamento de consultas para o HC já pode ser feito em 11 municípios, por meio das secretarias municipais de saúde, o que evita o deslocamento do paciente até a capital.
Entenda a classificação de risco
Quando chega à unidade, o usuário se dirige até a recepção para fazer o Boletim de Entrada (BE), que é quando são coletados os dados pessoais. Em seguida, a equipe de enfermagem realiza uma pré-consulta, chamada de classificação de risco, e entrega uma ficha. Dessas, há quatro tipos diferentes: as prioritárias, amarelo – caso de dona Raimunda – e vermelho, que indicam alta complexidade e até risco de morte, e as que não apresentam urgência – azul e verde – e poderiam ser atendidas nos postos de saúde, com a dinâmica de investigação e tratamento precoce.
De volta à recepção, é hora de aguardar a consulta. O paciente, então, é chamado para a sala de acolhimento e depois segue para uma conversa com o médico, na qual é relatado o problema e solicitado os exames, que ficam prontos em cerca de quatro horas. “Isso não é realizado nem na rede particular. Geralmente, a pessoa precisa voltar dias depois para pegar o resultado”, destacou a diretora da UPA do 2º Distrito, Ana Carla Clementino. Com o documento em mãos, ocorre o retorno para a avaliação médica e, por fim, a medicação.
{xtypo_quote_right}O atendimento nas UPAs 24 horas ocorre em sete etapas, de acordo com a Política Nacional de Urgência e Emergência (PNUE), regida pelo Ministério da Saúde (MS): Boletim de Entrada (BE), classificação de risco – que define a prioridade do atendimento -, acolhimento, avaliação médica, exames, retorno e, por fim, medicação{/xtypo_quote_right} |
Diariamente, a UPA do 2º Distrito, por exemplo, dispõe de quatro médicos clínicos gerais e dois pediatras, além de cerca de 350 servidores. “Atuamos no incentivo de união e no reconhecimento da prestação de serviço dos nossos colegas, que é uma tarefa que exige dedicação, paciência e muito carinho, de amor pelo que se faz. O nosso esforço é na tentativa de equilibrar a balança, de modo que possamos suprir as necessidades dos pacientes e dos servidores da saúde, alinhado com a política de humanização do governo do Estado”, finaliza Ana Carla.
Investimentos na saúde primária
Entre 2010 e 2012, o Estado investiu mais de R$ 6 milhões, por meio do Programa de Inclusão Social e Desenvolvimento Econômico Sustentável do Estado do Acre (Proacre), para a compra e entrega de caminhonetes, barcos, medicamentos, mais de seis mil filtros de barro, kits de suporte básico de vida, além de contratação de médicos, enfermeiros e auxiliares. Houve, ainda, investimento com a ampliação e construção de postos de saúde, capacitação de profissionais e entrega de materiais e equipamentos.
“Além disso, o governo do Estado realiza oficinas com os gestores e técnicos em saúde sobre a importância de fazer a promoção e a prevenção em saúde. Em cada localidade que são feitas essas capacitações, o objetivo é para que haja um compromisso nas ações e o fortalecimento na atenção básica. Quando se age na base, é mais difícil que um pequeno problema de saúde evolua e se torne uma grande dor de cabeça”, destaca a gerente da Divisão de Atenção Primária da Sesacre, Elizete Araújo.
“Ou seja, por isso é importante que a população abandone a automedicação e procure assistência, o mais rápido possível. Assim, casos de urgência, como o de Raimunda da Silva Ferreira, por exemplo, poderão se tornar menos frequentes, e a qualidade de vida tende a aumentar, porque na área da saúde o tempo é precioso e a informação é fundamental”, comentou Lúcia Carlos, coordenadora do Samu.