Macarrão, o engraxate conectado

Cláudio Ferreira dos Santos descobriu a inclusão digital ao mesmo tempo em que foi beneficiado pela inclusão social

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Macarrão engraxa sapatos desde muito pequeno. Ele disse não se lembrar de quando começou no ofício, mas estima que foi entre os oito e dez anos de idade (Foto: Wescley Camelo)

A inclusão digital está aí para todo mundo e, neste ritmo as redes sociais são fundamentais para quem quer se sentir conectado. Estar online é bom para a vida social e, agora mais do que nunca, para a vida econômica. No Acre, o engraxate Cláudio Ferreira dos Santos, casado, 32 anos, pai de um filho, descobriu a inclusão social e deu um upgrade na sua vida. Ele está no Facebook, a maior rede social do mundo. Para encontra-lo, basta procurar por Macarrão, pois é assim que ele é conhecido. Até a tarde deste domingo, 31, ele já tinha 104 amigos, 105 se aceitar o convite deste redator.

Na página inicial do Facebook de Macarrão de uma descrição sua: “Sou engraxate de profissão, adoro meu trabalho, minha maior riqueza é minha dignidade, meus amigos e família. Agradeço todo dia por poder trabalhar e ganhar meu dinheiro honestamente”. Para quem não o conhece, essas informações já são o suficiente para indicar que Macarrão é uma pessoa do bem, é humilde, honesto e trabalhador, alguém que você, leitor, realmente deveria ter como amigo, seja de forma virtual, seja na vida real.

“Lá tá eu e o [César] Messias”, orgulha-se o engraxate. Além do vice-governador, Macarrão tem como amigo no Facebook jornalistas, advogados, militares, secretários de Estado e municipais e pessoas comuns, internautas que conhecem o trabalho dele e que o incentivam na vida profissional, social e virtual.

Macarrão engraxa sapatos desde muito pequeno. Ele disse não se lembrar de quando começou no ofício, mas estima que foi entre os oito e dez anos de idade. Desde então ele já lustrou os sapatos de muita gente. Do desembargador ao promotor, do carpinteiro ao secretário de Estado, do peão de fazenda ao governador. Durante muito tempo ele fez ponto no Tribunal de Justiça. Depois passou por outras instituições, sempre fazendo amigos, e agora está engraxando no quartel do Comando Geral da Polícia Militar. Ali ele fatura algo em torno de R$ 15 ou R$ 20 por dia. “Lá está bom, dá pra levar um bom dinheiro pra casa”, afirma.

Macarrão descobriu a inclusão digital ao mesmo tempo em que foi beneficiado pela inclusão social. Ele recebeu o apoio da Secretaria de Pequenos Negócios (Sepen) que lhe construiu uma cadeira de engraxate móvel e lhe deu condições para fazer do seu ofício um pequeno negócio e caminho para uma vida melhor para ele e para sua família.

“O Macarrão representa a luta do pequeno no espaço do grande. Ele é muito humilde. É um pai de família que nos procurou pedindo que nós déssemos uma alternativa de renda para ele. Por isso nós nos empenhamos para colocá-lo no mercado novamente”, explicou o secretário da Sepen, José Carlos Reis.

Reis e os técnicos da Sepen idealizaram a cadeira de engraxate de Macarrão. Ela tem duas rodinhas traseiras que possibilitam que seja levada para qualquer lugar. Além disso, embaixo do assento, tem um compartimento, onde todos os materiais necessários para o trabalho de engraxate estão guardados. Na porta do compartimento tem uma placa onde está grafado “Aqui tem um pequeno negócio”.

Macarrão também esteve na Feira de Negócios e Entretenimento do Acre (Expoacre). Com sua cadeira móvel ele circulou pelas vias do parque de exposições Marechal Castelo Branco oferecendo os seus serviços. “Dá pra faturar uns R$ 30 por noite”, diz Macarrão. “Com a cadeira é melhor. Quando não está dando dinheiro num lugar, eu vou pra outro”, completou.

“Se possível, nós vamos colocá-lo na OCA, de uniforme, para que de uma forma bem organizada ele possa atender as pessoas que procuram os serviços ali oferecidos”, diz Reis.

O secretário pretende usar a experiência obtida com o empreendimento de Macarrão para também ajudar outros trabalhadores como ele. “A atividade de engraxate tem muito a ver com as nossas raízes culturais. Muitas pessoas que tiveram sucesso relatam que passaram por essa atividade em algum momento de suas vidas. Por isso estamos tentando resgata essa categoria colocando essas cadeiras em alguns lugares estratégicos, como no aeroporto, terminal urbano, rodoviária entre outros. A gente sabe que a população demanda esses serviços dessa ordem, criando assim, mais um mercado para essas pessoas que tanto precisam”, ressalta o secretário.

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