Moradores das cabeceiras dos rios, quando a chuva é muita, alguns povos indígenas do Acre já avisam a defesa civil das cidades mais próximas: se preparem que aí vai água!
Nos últimos dias, foi assim em Assis Brasil, na fronteira com o Peru. Brasileia, por sua vez, teve 90% de sua área urbana alagada – no-ven-ta-por-cen-to! Agora que o Rio Acre baixou ali, o cenário é desolador. A população está arrasada. E o governo, inegavelmente, faz esforço hercúleo para minimizar as perdas e confortar as vítimas.
Semana passada, enquanto recebia imagens recém-enviadas pelos repórteres da Agência de Notícias do Acre que estão no interior, vi uma colega de trabalho, editora, cair em prantos. “É muito triste!”, dizia. Era mesmo. Lama demais, que a água destes rios é barrenta, telhados flutuando, móveis perdidos, casas destruídas, gente pobre e gente remediada sem saber por onde recomeçar a vida.
De Xapuri, duas fotos me chamaram a atenção – que o Acre tem fotógrafos excepcionais! Uma é de um monumento tradicional da cidade, a imagem de São Sebastião, que se encontra sobre um pedestal de cerca de um metro de altura: tinha a água subindo pelas pernas. Depois de martirizado pelas flechas, o santo parecia estar sendo açoitado também pela água!
A outra, ironicamente, faz referência a uma figura histórica do ambientalismo que o Acre projetou para o mundo. Ilustra a casa de Chico Mendes inundada quase até o telhado. É, Chico, ainda não resolvemos essa parada!
Rio Acre abaixo, a água já desabrigou, até este início de mês, mais de seis mil pessoas em Rio Branco, acolhidas nos abrigos oficiais. E, em muitos bairros onde não se acerca pela superfície do solo, sorrateira, invade as casas pelos esgotos.
A imprensa nacional, como sempre tem ocorrido, demorou a se dar conta do que está rolando neste longínquo estado: muita água! Mas esta gente de raça segue em frente. Porque aqui existe, “no balde”, como diz a expressão regional, uma outra coisa que está faltando no mundo “desenvolvido”. Esperança.
Se há algo que vibra neste lugar é a solidariedade. É lição para o Brasil e o mundo! A Defesa Nacional já elogiou, em outras oportunidades, a organização e o empenho do governo e sociedade civil no enfrentamento às cheias.
Feliz testemunha desse traço cultural louvável, paranaense que sou, aqui aprendo muito. Fico deslumbrada com a humanidade que os acreanos conseguem apresentar no cotidiano e sobretudo nas horas de dificuldade.
Para ilustrar e encerrar, menciono Rebeca Aguiar, que é a bela jovem da foto acima, com nariz de palhaço e bebê ao colo. Trata-se de uma cidadã voluntária que está trabalhando com recreação infantil num dos abrigos para as vítimas da cheia na capital. Querem saber? Como ela, há centenas, milhares aqui!