Into: coronavírus impõe restrições, mas trabalho humanizado da saúde supera obstáculos

Dentro do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into/Acre), em Rio Branco, que atualmente tem o maior número de pacientes graves internados por causa da Covid-19 no Acre, a rotina dos profissionais foi alterada, assim como também a vida de quem segue do lado de fora da unidade e está com parentes internados pelo novo coronavírus.

Into/Acre é referência da internação de pacientes com Covid-19, em Rio Branco Foto Júnior Aguiar/Secom.

Isso porque o protocolo de atendimento, que inclui também o de visitação dentro das unidades de saúde ou para acompanhar o tratamento no leito, mudou por causa da pandemia. No maior hospital de campanha para Covid-19 no Acre, a exemplo de outros estados, não poderia ser diferente e o novo modelo teve que ser seguido à risca, apesar de os familiares, angustiados, buscarem informações do quadro clínico do paciente a todo instante.

Durante a internação no Into é assinado um termo de autorização de entrada, em que paciente e familiar são informados dos protocolos adotados pela unidade, que segue as boas práticas e técnicas já existentes no que se refere ao tratamento e manejo da Covid-19. As informações do estado de saúde e evolução do quadro clínico de quem segue internado são disponibilizadas diariamente aos familiares.

Pacientes internados nas enfermarias não são impedidos de falar com seus familiares, muito pelo contrário. As ligações telefônicas são realizadas diariamente pelo próprio paciente entre o período de 10 às 22 horas, com duração de até cinco minutos. O que fica esclarecido é que podem ocorrer alterações dentro do horário estabelecido.

Para ajudar a abrandar a saudade de casa, a equipe médica realiza videochamadas para que os pacientes conversem com seus familiares e se mantenham próximos, mesmo que a distância Foto: cedida

Das cerca de 41 pessoas que necessitam de terapia intensiva atualmente no estado, em média 30 (75,0%) estão no Hospital de Campanha, criado pelo governo do Estado para atender pacientes com coronavírus dentro do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia do Acre. Dentro da unidade, um trabalho exaustivo de dedicação, humanização e coragem tem provado para os próprios funcionários que não há barreiras quando a missão é salvar vidas.

Nas palavras de quem sentiu na própria pele os efeitos agressivos da doença e teve que enfrentar um tratamento difícil e ainda ficar longe da família, o que existe é um caminho aberto de travessias constantes em que as histórias de quem cuida e de quem é cuidado se cruzam com um objetivo comum: vencer a doença.

“Sendo profissional da área da saúde às vezes nem sempre a gente se dá conta da dimensão que é exercer um atendimento humanizado. Estando do outro lado, nos 11 dias que estive internado no Into, senti a essência do que é esse trabalho. Na época que estive internado, a equipe composta pelos médicos Adriano e Osório, além dos colegas da enfermagem e técnicos foi excelente comigo, assim como a equipe de limpeza que realiza um trabalho impecável dentro do hospital. Fiquei tão emocionado e agradecido com o tratamento que recebi dos profissionais, do carinho e da forma humanizada que tratam os pacientes que cheguei a divulgar minha experiência como paciente do Into no meu município, em Bujari”, relata o técnico em enfermagem, Ayrton Viana, que ficou 11 dias internado no Into após complicações da Covid-19.

O trabalho das equipes de limpeza, fundamental para garantir que o coronavírus não se prolifere no ambiente hospitalar, também é reconhecido pelos pacientes. Foto Júnior Aguiar/Secom.

Maria Souza nunca contraiu o coronavírus, não teve nenhum parente internado por conta da doença, mas junto com sua congregação escreveu mais de 350 cartas de próprio punho para os funcionários e colaboradores que atuam no Into como forma de agradecimento pelo trabalho humanizado e o bom combate à Covid-19, desde o início da pandemia, quando o Acre registrou os três primeiros casos da doença. Passados nove meses desde os primeiros contágios, o estado já contabiliza 40.249 pessoas contaminadas pela Covid-19 com mais de 760 óbitos em decorrência da doença.

Cartas de agradecimento foram escritas à mão e depois passaram por um período de quarentena antes de serem entregues aos profissionais do Into Foto cedida

“Soubemos pelo coordenador da unidade que são mais de 350 servidores no Into, então nossa congregação Testemunha de Jeová-Nova Esperança e Tucumã, se reuniu e durante uma semana e escrevemos essas cartas de agradecimentos e reconhecimento por esse trabalho que sabemos não ser fácil. As cartas foram escritas à mão e depois passaram por um período de quarentena antes de serem entregues. No último dia 15 fomos ao Into entregar, o que nos deixou bastante emocionados. Nas cartas que foram inspiradas em mensagens bíblicas, tinha o contato do irmão que escreveu e a maioria teve retorno após as cartas serem lidas, agradecendo o gesto de incentivo e reconhecimento. Essa foi uma forma que encontramos de valorizar e encorajar esses profissionais por esse trabalho aguerrido, mas que mesmo diante das limitações não os fazem esmorecer com as circunstâncias”, ressalta Maria Souza.

Inciativa partiu da congregação Testemunha de Jeová como forma de valorizar o trabalho exercido pelas equipes que atuam na linha de frente do novo coronavírus Foto: cedida

Diariamente, o boletim médico do paciente é disponibilizado junto ao Serviço de Assistência Social. Como forma de humanizar a comunicação entre paciente e familiar, uma sala foi preparada para ligações em videochamada que são realizadas diariamente. O mesmo acontece com o banho de sol no espaço terapêutico do hospital, onde pacientes com condições clínicas para tal, são acompanhados pela equipe técnica, em dias alternados, e onde os familiares podem vê-los à distância a fim de evitar aglomerações e o risco de contaminação.

O fluxo estabelecido dentro da unidade tem o objetivo de assegurar transparência dos processos e aproximar os familiares dos pacientes e são realizados de diferentes formas com o apoio de uma equipe multiprofissional formada pelo Serviço Social, humanização, enfermagem e, principalmente, os médicos que acompanham a evolução dos pacientes.

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