Intervenções culturais e capacitação profissional transformam vidas no Teatro Barracão Matias

“Olha, isso aqui tá muito bom. Isso aqui tá bom demais.
Olha, quem tá fora quer entrar. Mas quem tá dentro não sai” (Dominguinhos)

Pontualmente, às oito horas da manhã, começam a chegar os primeiros festeiros da terceira idade para o forró de todas às quintas-feiras, no Espaço Cultural que leva o nome do Mestre Valério, no Teatro Barracão Matias, ao lado esquerdo de quem adentra a Avenida Sobral, em Rio Branco.

Forró do Senadinho e da Amirb têm programação especial no Teatro Barracão Matias, na Sobral. Foto: Acervo pessoal

Sob o comando do vocalista e tecladista Bernardo Mota, de 66 anos, uma dezena de duplas começa o remelexo com a clássica canção que declara a qualidade da boa festa para todos da melhor idade que frequentam o forró e bolero da Associação Arte e Movimento do Idoso de Rio Branco, a Amirb.

Vocalista e tecladista Bernardo Mota anima o forró da melhor idade. Foto: José Caminha/Secom

A atividade faz parte do conjunto de serviços prestados nos espaços do Teatro Barracão Matias, frutos de parcerias coordenadas pela Fundação de Cultura do Estado do Acre Elias Mansour (FEM), com membros e associações da sociedade civil.

“O trabalho que o time do Teatro Barracão Matias está realizando é diferenciado. Eles fazem um trabalho maravilhoso, conhecem a realidade da população da região e atuam dia e noite, e final de semana, de maneira incansável, dando o melhor para atender às necessidades culturais e profissionais das pessoas. Estou muito orgulhoso”, ressaltou o presidente da FEM, Minoru Kinpara.

Teatro Barracão Matias: Espaço de transformação

O espaço multicultural do Teatro Barracão Matias leva o nome de José Marques de Sousa, o Matias, que enxergou no teatro uma forma de contribuir com os movimentos sociais do Acre.

Na avenida principal da Sobral, o ambiente multicultural, revitalizado em abril, abriga um espaço especial para o Teatro Betho Rocha, onde, além das apresentações artísticas, acontecem as aulas de canto e dança, e os cursos de profissionalização em manicure, cabelereiro e barbeiro, em parceria com membros das comunidades locais.

Alunos e professores dos cursos de alfabetização, cabelereiro, dança e canto com a professora Riselda Nascimento da Silva. Foto: José Caminha/Secom

Aos 64 anos, seu Sebastião Gonçalves de Oliveira é aluno fiel das aulas de forró do professor Raimundo Castro. Para o aprendiz, a atividade transforma vidas: “Eu venho porque eu amo a dança. O dia que não venho eu não tenho sossego. Aqui tira a ansiedade e a depressão. Isso aqui engradece a gente”, explicou.

Mari Leandro e Sebastião Oliveira são alunos assíduos das aulas de forró do professor Castro. Foto: José Caminha/Secom

Com orgulho em fazer parte da turma, Mari Leandro, aos 50 anos, está sempre presente nas aulas que iniciou há dois meses e meio. Para a aluna, o objetivo é manter a qualidade de vida, cuidando do corpo e da mente. “Eu estou aqui desde o começo. É ótimo”, acrescentou.

Turma de forró do professor Raimundo Castro, conta com as contribuições dos professores Marli Silva e Jaime Sacramento. Foto: José Caminha/Secom

“Dar aula é retribuir todo o bem que a dança me trouxe. Ajuda a retrair a obesidade, estresse, sedentarismo e problemas psicológicos. Levar a dança até eles é um meio de ajudar a sociedade”, completou o professor Castro.

Transformação de vida

Com atendimento humanizado e especializado para as comunidades da região, o Teatro Barracão Matias recebe o carinho dos alunos que frequentam ou já frequentaram as atividades do espaço.

No último sábado, 28 de outubro, por exemplo, um caso de transformação de vida emocionou colegas, professores e membros da equipe local. O formando do curso de cabelereiro e barbeiro, Walmir Félix, inaugurou o seu primeiro empreendimento, a Barbearia Dom Félix.

Empreendedor formando Walmir Félix, auxiliar do curso de barbeiro Almir Magalhães, educadora capilar, Rosa Magalhães, e empreendedor formando Alexsandro Rodrigues. Foto: José Caminha/Secom

O formando empreendedor abriu o negócio após concluir o curso de barbeiro com a educadora capilar Rosa Magalhães. Há poucos dias da abertura, Félix explicou que o atendimento vai bem e pretende contratar mais um barbeiro, uma manicure e uma designer de sobrancelha. “Já vou abrir mais três vagas para trabalharem lá comigo”, revelou.

O formando Alexsandro Rodrigues é mais um exemplo de empenho e dedicação. Alex, como é conhecido, já era empreendedor na Barbearia Dom Alex, e procurou o Teatro Barracão Matias para se especializar. “Eu já trabalhava a um bom tempo, mas precisava de certificado. E eu agradeço ao Ferreira e a Rosa, pessoas de Deus, por me dar essa oportunidade”, agradeceu.

Entrega dos certificados aos alunos do curso de cabelereiro. Foto: Acervo pessoal

Para a professora Rosa Magalhães, acolher a comunidade é mostrar novos caminhos para jovens e adultos ganharem o pão de cada dia e a ficar fora da criminalidade: “[O objetivo] Não é só formar, mas dar capacidade de trabalhar. É oportunidade de vida”, lembrou a professora Rosa.

Toda hora é hora de Bê-á-bá

Na Biblioteca Vó Nazaré, a aula de alfabetização para idosos é uma das atividades mais requisitadas do ano. Por meio da parceria firmada com a Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esportes (SEE), a professora Lorhana Silva de Araújo chegou para somar com os novos estudantes. “É a minha primeira experiência na sala de aula. Eles são bem tranquilos, estão me acolhendo e a gente se ajuda”, detalhou a professora.

Professora Lorhana, ao centro, e os alunos do curso de Alfabetização para idosos. Foto: José Caminha/Secom

“Eu sou muito grata em ter ela [Professora Lorhana] aqui com a gente. Ela tem muita paciência. Eu não aprendia, mas estou aprendendo a ler e escrever agora com ela”, disse a animada estudante, Ana Maria Fernandes de Souza, ao lado das colegas Romana Felícia e Maria da Conceição.

Compartilhando da mesma alegria em aprender, as irmãs Maria da Conceição Felícia, de 68 anos, e Romana Felícia, de 62 anos, acompanham as aulas animadas ao reconhecer o Bê-á-bá e formar as palavras no caderno escolar.

Irmãs Romana e Maria da Conceição Felícia acompanham as aulas da professora Lorhana. Foto: José Caminha/Secom

“Eu não sabia ler o nome da minha mãe e descobri com uma outra moça. Então eu decidi que queria aprender e já fiz aula aqui antes, mas vim com a minha irmã agora e estou feliz que ela já sabe escrever o nome dela”, comemorou Maria da Conceição.

Ciência e tecnologia para todos

No Polo Digital Maués, sala especial do Teatro Barracão Matias, as aulas de informática atendem a comunidade geral e mantém atenção especial aos idosos interessados nas novidades tecnológicas. O curso é fruto da parceria entre a FEM e a Secretaria de Estado de Indústria, Ciência e Tecnologia (Seict).

Idosos estudam Informática Básica, no Teatro Barracão Matias. Foto: Acervo pessoal

“Os alunos são muito bons e já teve um da turma geral que me disse estar trabalhando na área”, detalhou com satisfação o professor de informática, Juan Blendo.

Professor de informática do Teatro Barracão Matias, Juan Blendo. Foto: José Caminha/Secom

Empenhada, a aluna do curso Básico de Informática, Natiele Alves, é autônoma e está sempre atenta para as especializações oferecidas no Teatro Barracão Matias. “É uma forma de melhorar o currículo”, afirmou.

Autônoma, Natiele Alves está se especializando no curso de Informática. Foto: José Caminha/Secom

E a festa continua

Com espaço plural para todos, o coordenador do Teatro Barracão Matias, Francisco Ferreira, enfatiza que as atividades ofertadas no espaço sõa resultado das parcerias e do empenho da equipe local em atender o público da Sobral e bairros próximos.

“Temos a melhor equipe e fazemos o melhor trabalho de domingo a domingo. São mais de 20 atividades na área da música, da capacitação profissional e nas atividades físicas, para atender crianças, jovens e adultos”, destacou o coordenador Ferreira.

Coordenador do Teatro Barracão Matias, Francisco Ferreira, comemora as mais de 20 atividades desenvolvidas no espaço. Foto: José Caminha/Secom

E é em tom de festa que todos os envolvidos continuam as atividades, entre as aulas de canto, ou na dança, informática, alfabetização, música ou nas artes marciais.

Com o mesmo empenho, segundo Kinpara e Ferreira, outras ações estão em fase de diálogo ou em andamento para alcançar comunidades de outros bairros na parte alta da capital, e no segundo distrito, como no bairro Cidade do Povo.

Grupo da melhor idade entoa louvores nas aulas de canto. Foto: José Caminha/Secom

Com ampla programação, a FEM avança para que a cultura seja acessível a todos por meio das atividades nos espaços públicos, a exemplo ainda das visitas guiadas no Museu dos Povos Acreanos e Museu da Borracha, ou exposições no Memorial dos Autonomistas e Galeria de Arte Juvenal Antunes, entre outras ações em movimento.

E a união faz a festa, como bem previu a canção “Juntos somos fortes”, de autoria dos senhores Luizinho José da Silva e Cley, nome artístico de Pedro de Oliveira. Ambos do grupo musical “Mistura Popular”, ao lado de Pedrinho Cardoso e Edemildes Paulino.

Compositor e cantor, Luizinho José, compôs a canção “Juntos somos fortes”, com o amigo Cley. Foto: Acervo Pessoal

“Vamos cantar, vamos dançar, vamos nos organizar.

Vamos cantar, vamos dançar, vamos comemorar!” (Luizinho José e Cley)

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