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O Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em reunião realizada no Museu de Artes e Ofícios, em Belo Horizonte, na última quinta-feira, oficializou o tombamento da Casa de Chico Mendes como patrimônio histórico nacional. O encontro foi marcado por forte emoção, segundo relato do historiador Deyvesson Israel Alves Gusmão, que participou da reunião como representante do Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural do Acre.
"A reunião que tinha como pauta a nossa diversidade lingüística, o tradicional modo de fazer do queijo de Minas e da luta dos seringueiros pelo seu modo de vida, que é, na superfície e na profundidade, a luta pela preservação ambiental foi carregada de emoção. Tanto o parecer, quanto o relatório do processo de tombamento da Casa de Chico Mendes trouxeram lágrimas aos olhos dos Conselheiros e dos convidados presentes", diz.
O tombamento da Casa de Chico Mendes foi solicitado em 16 de agosto de 2006 e encaminhado à 16ª Superintendência Regional do IPHAN pela Fundação Chico Mendes e pelo Comitê Chico Mendes. O processo de tombamento foi aberto no dia 06 de novembro de 2007.
O tombamento da Casa de Chico Mendes, foi relatado em quatro horas. O relato começou com a exibição um vídeo produzido por José Aguilera, arquiteto do IPHAN, parecerista do processo de tombamento, que em 2006 e 2007 foi a Xapuri para verificar pessoalmente o espaço.
Dayvesson conta que o roteiro do vídeo seguiu a estrutura do parecer feito por Aguilera, contextualizando que até hoje o IPHAN tombou casas consideradas a partir da sua riqueza arquitetônica ou a relação com grandes heróis nacionais, citando como exemplo os palácios de nossos imperadores e demais personalidades políticas de destaque. Outro ponto tocado foi referente à ocupação do Acre, os conflitos existentes, do início ao fim do século XX, envolvendo, sobretudo, índios e seringueiros.
"O vídeo apresentou a idéia da Casa de Chico Mendes dentro da categoria ‘Casa histórica’, por se remeter a alguém cuja atuação tem importante relevância para história de um lugar, no caso o nosso lugar, o Acre. Para Aguilera a Casa de Chico Mendes é uma casa modesta de um grande homem. O mais interessante é que parte da história do Acre foi contada pelo próprio Chico. Aguilera utilizou as imagens da palestra que Chico Mendes fez em 1986, num encontro da Associação de Geógrafos Brasileiros", relata o historiador.
Emoção – Um dos momentos mais fortes do vídeo trata da morte de Chico, onde Aguilera usa a parte que o líder seringueiro fala das denúncias de ameaça que ele e seus companheiros vinham sofrendo. A narradora passa a contar como se deu a morte de Chico e finaliza com a seguinte frase: "Na noite de 22 de dezembro de 1988, um tiro tirou a vida de Chico Mendes, mas não extinguiu a sua voz!".
"Foi o ápice. Percebeu-se a emoção de todos os presentes pela intensidade e vigor dos aplausos, antes mesmo que o filme tivesse acabado. Depois, o vídeo mostra o modo de construir utilizado para a feitura da Casa de Chico Mendes, que é na verdade o modo de fazer de todas as casas caboclas de nossas cidades amazônicas, de nossas comunidades seringueiras e caboclas. Ao fim, os créditos do filme se iniciam e terminam com a voz de Tia Vicença, figura conhecida de Xapuri, cantando o Hino do Soldado da Borracha", conta Deyvesson.
Cada parecer foi trazido para apreciação do Conselho, presidido pelo Presidente do IPHAN, Luiz Fernando de Almeida. Cada processo teve um relator, previamente designado. Para o processo do tombamento da Casa de Chico Mendes o conselheiro-relator foi Ulpiano Toledo de Meneses, professor do Departamento de História da USP.
Após a exibição do vídeo, Ulpiano, visivelmente emocionado, inicia sua fala dizendo que a referência que ele estabeleceu para relatar o processo de tombamento era exatamente "a relação existente entre uma figura, sua obra extraordinária e a casa, e o que isso representa para a sociedade. É essa visão da simbiose desses três referenciais que está em questão no caso da Casa de Chico
O tombamento – O secretário executivo do Ministério da Cultura, Juca Ferreira, estava presente à reunião e, ficou emocionado. Com lágrimas nos olhos, disse referindo-se aos 20 anos da morte de Chico Mendes: "Chico Mendes é um ícone e momento para o tombamento é muito oportuno. É uma sinalização muito positiva, pois se trata de uma pessoa que soube traduzir sua luta não só para o Brasil, mas para o mundo inteiro".
Todos os conselheiros presentes fizeram questão de se pronunciar e tecer considerações a favor do tombamento da Casa de Chico Mendes.
"O tombamento da Casa de Chico Mendes é, ao mesmo tempo, o reconhecimento de que a luta dos seringueiros e, porque não, dos povos da floresta faz parte do grande caleidoscópio que é a cultura brasileira. Por fim, o remanejamento feito na pauta de discussão da reunião do conselho parece ter sido providencial: a leitura do parecer e do relatório do tombamento fechou com chave de ouro a reunião do Conselho Consultivo do IPHAN".