Iniciativas públicas e privadas irão garantir o aumento de 400% da produção de peixes no Acre

Complexo Industrial Peixes da Amazônia S.A. já está sendo construído no quilômetro 30 da BR-364

Fomentar uma atividade industrial, aliando produtores familiares, médios e grandes produtores, iniciativa pública e privada, de forma com que o Estado se torne referência na criação de peixes, este é o grande objetivo da implantação do Complexo Industrial de Piscicultura no Acre. As metas são ousadas e o trabalho já começou. De janeiro a outubro deste ano já foram construídos 700 tanques em 17 municípios, beneficiando diretamente mais de 300 produtores.

 

O Complexo Industrial Peixes da Amazônia S.A já está sendo construído no quilômetro 30 da rodovia BR-364, no município de Senador Guiomard (Foto: Angela Peres/Secom)

O Complexo Industrial Peixes da Amazônia S.A já está sendo construído no quilômetro 30 da rodovia BR-364, no município de Senador Guiomard (Foto: Angela Peres/Secom)

 

Até  o final de 2014 mais de mil produtores farão parte do grupo de criadores de peixes que irão fornecer matéria-prima para o frigorífico. O Complexo Industrial Peixes da Amazônia S.A já está sendo construído no quilômetro 30 da rodovia BR-364, no município de Senador Guiomard. E inclui um centro tecnológico de reprodução de alevinos, uma fábrica de rações para peixes e um frigorífico para o beneficiamento e estocagem de pescados para a comercialização no mercado interno e exportação.

“Para que seja viável a implantação do frigorífico é preciso que o Estado tenha 3,5 hectares de lâmina d’água", disse o secretário Lourival Marques (Angela Peres/Secom)
“Para que seja viável a implantação do frigorífico é preciso que o Estado tenha 3,5 hectares de lâmina d’água", disse o secretário Lourival Marques (Angela Peres/Secom)

“Para que seja viável a implantação do frigorífico é preciso que o Estado tenha 3,5 hectares de lâmina d’água”, disse o secretário Lourival Marques (Angela Peres/Secom)

A produção estimada de pescado no Estado é de 5.105 toneladas em 2009, apresentando uma variação de 31,9% em relação a 2007. Entretanto, a produção ainda é insuficiente para atender a demanda local que é de aproximadamente 7.835 toneladas. Depois dos investimentos, a produção estimada, em cinco anos, será de pelo menos 20 mil toneladas. E para isso estão sendo construídos os tanques para engorda dos peixes. Ao final do processo produtores e governo terão instalado cinco mil tanques.

“Para que seja viável a implantação do frigorífico é preciso que o Estado tenha 3,5 hectares de lâmina d’água. Hoje temos mil hectares, e um estudo sobre o potencial do Acre mostrou a necessidade de investirmos fortemente no setor produtivo com a proposta de garantir renda e gerar empregos aos acreanos”, destaca o secretário de Extensão Agroflorestal e de Produção Familiar, Lourival Marques. Ele ainda completa dizendo que a ideia é tornar o Acre o endereço do peixe na Amazônia.

Além dos investimentos que estão sendo feitos no Complexo Industrial (R$ 40 milhões) outro frigorífico será instalado em Cruzeiro do Sul pra agregar valor ao que for produzido na região do Vale do Juruá. Somando os custos de consultoria e assistência técnica, o governo do Estado emprega no setor de piscicultura R$ 53 milhões.

 

Hoje são mil hectares de lâminas d'água, e um estudo sobre o potencial do Acre mostrou a necessidade de investimentos fortes no setor produtivo com a proposta de garantir renda e gerar empregos aos acreanos (Angela Peres/Secom)

Hoje são mil hectares de lâminas d’água, e um estudo sobre o potencial do Acre mostrou a necessidade de investimentos fortes no setor produtivo com a proposta de garantir renda e gerar empregos aos acreanos (Angela Peres/Secom)

 

A proposta é de que sejam produzidos 10 milhões de alevinos por ano em Rio Branco e um milhão em Cruzeiro. A quantidade de ração fabricada será de 40 mil toneladas/ano na capital, com produção de 20 mil toneladas de filé de peixe processados anualmente em Rio Branco e de duas mil toneladas em Cruzeiro. Como resultados dos investimentos teremos o valor bruto de produção de R$ 240 milhões, com geração de dois mil empregos diretos e de mais de 10 mil empregos indiretos.

“Estamos na etapa de estruturação da cadeia da piscicultura no Estado. Isso irá garantir matéria-prima para abastecer o frigorífico”, destacou o coordenador do Programa de Desenvolvimento da Piscicultura, Walace Santos Batista.

 

A proposta é de que sejam produzidos 10 milhões de alevinos por ano em Rio Branco e um milhão em Cruzeiro (Angela Peres/Secom)

A proposta é de que sejam produzidos 10 milhões de alevinos por ano em Rio Branco e um milhão em Cruzeiro (Angela Peres/Secom)

 

A expansão da atividade já foi internalizada pelos produtores. Como é o caso do piscicultor Manuel Barbosa sócio da Pró-Peixe e da Cooperativa dos Produtores do Bujari. Ele conta que tem um tanque construído com recursos próprios, e agora irá receber o aporte do governo, que contrata as máquinas por 40 horas para cada produtor. “Quero ampliar minha atividade, a expectativa é grande porque estamos tendo o incentivo do governo, e temos a garantia de venda do que será produzido”, disse.

 

A expansão da atividade já foi internalizada pelos produtores. Como é o caso do piscicultor Manuel Barbosa sócio da Pró-Peixe e da Cooperativa dos Produtores do Bujari (Angela Peres/Secom)

A expansão da atividade já foi internalizada pelos produtores. Como é o caso do piscicultor Manuel Barbosa sócio da Pró-Peixe e da Cooperativa dos Produtores do Bujari (Angela Peres/Secom)

 

Manuel era freteiro, e quando decidiu mudar de vida escolheu a zona rural para apostar em mudanças. Com parte do dinheiro da vendo do caminhão ele construiu o tanque de engorda de peixes. Na primeira despesca conseguiu retirar 10 toneladas. “O lucro é certo. Se nós fossemos investir por nós mesmos, o valor do investimento seria de R$ 10 mil, e com esse programa estamos tirando do bolso, o dinheiro do óleo e dos canos. Na ponta do lápis isso representa um gasto de R$ 2 mil em média”, completa.

Outro associado da cooperativa é o produtor José Mota de Souza. Ele também faz parte do grupo que está ampliando o número de açudes e tanques. Na piscicultura há nove anos, só agora vai tornar a atividade mais rentável. “Produzo pouco. E por isso posso tratar e entregar o peixe na casa de meus clientes. Com o aumento da produção, espero aumentar a renda da família”, destaca.

Parceria pública, privada e comunitária

O modelo econômico adotado no Abatedouro de Aves de Brasileia, chamado de parceira pública-privada-comunitária (PPC) tem resultado em índices satisfatórios e mostrou ao Acre que a iniciativa é proveitosa econômica e socialmente. Com abate de 12 mil aves por dia, e com envolvimento de 60 produtores rurais os lucros são divididos entre empresários e fornecedores de matéria-prima, ao governo coube a tarefa de investir na implantação de criadouros e em assistência técnica.

 

Fomentar uma atividade industrial, aliando produtores familiares, médios e grandes produtores, iniciativa pública e privada, de forma com que o Estado se torne referência na criação de peixes, este é o grande objetivo da implantação do Complexo Industrial de Piscicultura no Acre (Angela Peres/Secom)

Fomentar uma atividade industrial, aliando produtores familiares, médios e grandes produtores, iniciativa pública e privada, de forma com que o Estado se torne referência na criação de peixes, este é o grande objetivo da implantação do Complexo Industrial de Piscicultura no Acre (Angela Peres/Secom)

 

E agora a implantação do Complexo Industrial de Peixes também conta com a participação estatal, da iniciativa privada e dos produtores. Para gerenciar o empreendimento, foi montado um consórcio de empresários, cooperativas e governo do Estado. Ao todo, são 18 empreendedores. Para gerir o negócio foi criado a Peixes da Amazônia S/A. O governo comprou duas cotas, que serão repassadas aos pequenos produtores, e os investidores garantiram a outra parte dos recursos necessários para a construção do complexo (R$ 20 milhões).

“Acredito que a piscicultura servirá para desenvolver a economia e setor produtivo do Acre. Uma atividade que, depois de implantada como o todo o sistema funcionando, pode gerar uma movimentação financeira de R$ 350 milhões por ano”, enfatiza o governador Tião Viana.

De acordo com o secretário de Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia, Indústria e Comércio, Edvaldo Magalhães, a meta é garantir a participação mais efetiva do setor privado e do pequeno produtor familiar nesse processo. Com isso, gera-se mais trabalho e renda, criando condições básicas para emancipação dos empreendimentos industriais voltados à  exportação de produtos processados internamente, como suíno, peixe, frutas e outros.

Ações se espalham pelo interior do Estado

Em Sena Madureira, por exemplo, o governo do Estado já cadastrou 13 produtores para fazer parte do programa. Nessas propriedades a construção dos açudes para a criação de peixes já está em fase de conclusão. Para a implantação de cada tanque o Estado investe em média R$ 8 mil, e os produtores, em contrapartida, gastam em torno de R$ 3 com o combustível e compra de canos. Os técnicos da Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof) atuam na qualificação e acompanhamento dos produtores. O trabalho da Seaprof inclui ações de orientação para que os criadores possam integrar os demais programas de governo, como o Compra Antecipada ou o Pronaf.

 

A produção estimada de pescado no Estado é de 5.105 toneladas em 2009, apresentando uma variação de 31,9% em relação a 2007. Entretanto, a produção ainda é insuficiente para atender a demanda local que é de aproximadamente 7.835 toneladas (Angela Peres/Secom)

A produção estimada de pescado no Estado é de 5.105 toneladas em 2009, apresentando uma variação de 31,9% em relação a 2007. Entretanto, a produção ainda é insuficiente para atender a demanda local que é de aproximadamente 7.835 toneladas (Angela Peres/Secom)

 

Warderley Oliveira Campos sempre morou na zona rural. Atualmente trabalha com a pecuária, mas, segundo ele, sempre sonhou em criar peixes. “Estou aproveitando ao máximo essa oportunidade. Os cursos oferecidos pelo Senar [Serviço Nacional de Aprendizagem Rural] e os incentivos do governo são os grandes diferenciais dessa iniciativa. Minha expectativa é grande”, destacou o produtor.

No Bujari, o produtor rural Arildo Tursheto trabalha com a pecuária e piscicultura. Ele possui sete tanques e cinco açudes e destaca as vantagens da criação de peixe. “O valor de mercado do peixe é bem maior se comparado ao gado. Em um hectare de lâmina d’água podem ser retirados de oito a dez toneladas de peixe; em um hectare de terra dá pra ter três cabeças. Além disso, temos os benefícios para o meio ambiente, a criação de peixe tem menos impacto.”

 

Depois dos investimentos, a produção estimada, em cinco anos, será de pelo menos 20 mil toneladas (Angela Peres/Secom)

Depois dos investimentos, a produção estimada, em cinco anos, será de pelo menos 20 mil toneladas (Angela Peres/Secom)

Já  o produtor rural do Projeto de Agroflorestal de Brasileia, Jairo Carvalho, destaca a importância dos cursos de qualificação que os produtores estão fazendo para aprender a criar alevinos. “Os planos são de que possamos aumentar a renda familiar, com lucro de 10 a 11 mil reais”, disse.

 

Para muitas famílias a piscicultura significa mais uma forma de diversificar a produção. “os produtores familiares precisam ter alternativas de culturas. Com uma aérea pequena podemos ser produtivos. Estamos apostando nesse projeto”, disse o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasileia, Rosildo de Freitas.

Mercado promissor

Com experiência de mais de dez anos na criação de peixes, os irmãos Sobrinho Martins e José Romildo Martins apostam na concretização da política estadual de piscicultura. Eles já trabalham com seis hectares de lâmina d’água. A produção anual é de 120 toneladas por ano, sendo que parte é exportada para o Amazonas e o restante, para o mercado local.

 

Com experiência de mais de dez anos na criação de peixes José Romildo Martins aposta na concretização da política estadual de piscicultura (Angela Peres/Secom)

Com experiência de mais de dez anos na criação de peixes José Romildo Martins aposta na concretização da política estadual de piscicultura (Angela Peres/Secom)

 

“Já trabalhamos há bastante tempo com a criação de peixes, mas começamos a partir de agora a vislumbrar novas oportunidades. Com a implantação do complexo industrial de peixe novos horizontes se abrem. A produção passa a ter valor agregado”, destacou José Romildo.

Os próprios produtores investiram na compra de maquinário, através do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO) do Banco da Amazônia, e na construção de cinco açudes de engorda de peixes. E agora estão construindo mais quatro tanques para a criação de alevinos. Hoje eles compram os alevinos em outros Estados, mas em breve estarão vendendo para os produtores locais.

“Nossa meta é ampliar a criação dos peixes de engorda, mas também investir na criação de alevinos juvenis para comercializar”, finaliza Sobrinho.


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