Índio Yawanawá faz relato sobre os dois dias em que esteve na mata fechada

O índio Biraci Júnior Yawanawá, do povo indígena Yawanawá, da Aldeia Nova Esperança no Alto Rio Gregório em Tarauacá, saiu para caçar no último sábado, 15, e acabou fazendo rota oposta ao percurso desejado, fazendo com que ficasse na floresta durante dois dias.

Por ter se distanciado muito do local onde ocorreria a caça, Júnior conseguiu chegar de volta à aldeia somente na segunda, 17.

Por ter se distanciado muito do local onde ocorreria a caça, Biraci Júnior só conseguiu chegar de volta à sua aldeia dois dias depois (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

O índio conta que a caça seria às margens do Igarapé Pedra, distante cinco horas da Aldeia Nova Esperança. Além da caça, o objetivo era desbravar área que fica mais distante da aldeia, para monitorar a não ocorrência de caça predatória ou ação ilegal madeireira. Em detalhes ele conta que não estava perdido.

“Para nós, não existe essa história de a gente se perder, mas a possibilidade de andar além do que imagina. Quando fui me dar conta de que estava distante demais da aldeia, já estava acabando o dia, então, para voltar todo o trecho que havia andado, iria demorar muito. Sem contar o desgaste do dia inteiro de caçada, a fome e a fadiga. Fui voltando mais devagar, e quando percebi já era noite e precisei dormir na mata”, explica Biraci.

No dia seguinte, o índio conta que continuou o percurso, mas, por um descuido, já que estava nublado, se viu novamente na direção errada. Como estava escurecendo, precisou esperar o dia seguinte para continuar o retorno.

“Medo a gente não tem, mas a precaução por saber que estamos na floresta, vendo rastros de onça, passando por locais que sinalizam a existência das grandes sucuris, ficamos cautelosos para não ser picado por cobras, escorpiões ou aranhas. Eu cheguei a ser ferrado por uma tucandeira, o que fez com que eu seguisse mancando, dificultando ainda mais a volta”, conta.

Foram dois dias na mata bebendo apenas água, em um território de até 203 mil hectares, do qual ainda não foi possível explorar nem 10%.

“É por isso que a gente faz as caçadas, para desbravar o nosso território, verificar se não está havendo caça predatória, ação de madeireiros ou outras que prejudiquem nossas florestas. Nenhuma pessoa nesta terra está imune à imponência que a Floresta Amazônica dá. Nós, indígenas, que moramos dentro dela, também passamos por isso. Agradeço todo o apoio dado à minha família”, disse Júnior Yawanawá.

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