Imersão filosófica na floresta

Integrantes da Sociedade Philosophia em Rio Branco participam de encontro na floresta para falar sobre origens e a vida

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Uma das referências dos embates de natureza política, o seringal Cachoeira foi o local escolhido por um grupo de jovens para a prática da filosofia. São 50 pessoas que fazem parte da Sociedade Philosophia, em Rio Branco. Crianças, adolescentes e adultos integraram a comitiva que durante três dias andou pela floresta fechada e conheceu um pouco mais dos mistérios da Amazônia.

Eles atravessaram obstáculos, viram a samaúma e comprovaram que era preciso 26 pessoas para abraçá-la. Conheceram um barreiro – local onde os animais da mata comem – e souberam também da medicina que há na floresta.

Tudo foi guiado pelo extrativista Nilson Mendes, primo de Chico Mendes, que vive no seringal. O encontro serve como uma verdadeira troca de conhecimentos. Outra moradora do local, Cecília Mendes, lembrou que foi para defender a presença dos seringueiros na floresta e a conservação das árvores que o sindicalista Chico Mendes (sobrinho dela) realizou os empates no Cachoeira nas décadas de 70 e 80.

"Eles não queriam que os fazendeiros tomassem de conta dos seringais. Os seringueiros ficavam todos reunidos em bloco para não deixar os fazendeiros passarem. Se não fossem esses ‘empates’, hoje não haveria mais uma árvore em pé aqui no seringal Cachoeira", lembra.

Por causa da luta de Chico Mendes, hoje o local é um projeto agroextrativista, onde as 85 famílias fazem plano de manejo madeireiro e produzem látex para a indústria de preservativos Natex, em Xapuri.

Para o coordenador do grupo, professor e jornalista Marcos Afonso, a imersão filosófica na floresta permite descobrir e conhecer com mais detalhes as origens de quem vive aqui na região. "Todos nós somos filósofos. Porque quando você se questiona ‘quem seu sou?’, ‘de onde eu vim?’, ‘pra onde eu vou?’, você está fazendo perguntas filosóficas. Tenho certeza de que as pessoas vão sair daqui sabendo mais quem elas são e de onde vieram. ‘Sou neto, bisneto de um seringueiro que morou na floresta’ – o que já é um enorme passo para o encontro da sua identidade. Porque quem tem identidade transforma, tem coragem, faz filosofia", diz.

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Membros da Sociedade Philosophia em Rio Branco participam de encontro na floresta
para falar sobre origens e a vida

Um dos participantes do encontro, o estudante Jhon Soares, disse acreditar que a filosofia se relaciona muito com o meio ambiente. "Estar no meio natural, sentindo essa energia, facilita o trabalho da filosofia, das discussões, troca de ideias com quem já conhece bastante a natureza, esse processo extrativista."

Para o pastor João Pedro, que também esteve no encontro, a filosofia tem tudo a ver com a floresta. "A filosofia tenta responder algumas questões da vida. E no ambiente que nós vivemos no Acre, a floresta é vida, então estar na floresta tem tudo a ver com o estarmos aqui debatendo isso."

E não é preciso ter contato direto com o estudo filosófico para saber disso. Nilson Mendes, o homem que vive e conhece a floresta, defende essa relação. "A floresta tem muito a ver com a filosofia pela questão de diversidade. Você entra na floresta e descobre que ela é um mundo. A gente passa dois dias aqui e não fala de quase nada do que tem na floresta", destacou.

O grupo também foi à floresta para ver o corte da seringa feito às 4 horas da manhã, um hábito muito comum dos seringueiros. O antigo modo de defumação do látex também foi mostrado ao grupo. Os jovens filósofos conheceram a casa de seringueiros com o típico fogão a lenha. Depois, houve o momento de avaliar a imersão na floresta, em uma hora de muita emoção. A estudante Maíra Menezes chorou ao lembrar toda a história que a floresta carrega consigo.

"Eu acho que trabalhar a filosofia aqui no Cachoeira é uma coisa maravilhosa. É trabalhar a filosofia na prática", disse a jovem.

O jornalista Elson Martins também participou do encontro e disse que um dos maiores ganhos do grupo com a visita foi descobrir a vida na floresta. "Nessa imersão, a gente viu que a coisa está fluindo. Que o seringal Cachoeira começa a mostrar que é possível viver bem na floresta, com uma outra proposta melhor do que nos oferece na cidade. E isso é filosofia."

A observação dos astros por meio de um telescópio também fez parte da imersão, que teve momento de recital de poesia. O típico forró de seringal fechou a programação de três dias na floresta.

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O forró pé-de-serra embalou o encerramento do encontro

Sociedade Philosophia

Para acompanhar a agenda de encontros da Sociedade Philosophia, na Biblioteca da Floresta Marina Silva, acesse o site da instituição ou na nossa Agenda Cultural.

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