Idosos e direção de veículos: quando é hora de parar?


“Gosto de andar. E, para ser franco, não gosto de andar com ninguém dirigindo”, Manoel Carneiro, 73 (Foto: Igor Martins/Detran)

“Gosto de andar. E, para ser franco, não gosto de andar com ninguém dirigindo”, diz Manoel Carneiro, 73 (Foto: Igor Martins/Detran)

Quando é discutida a participação dos idosos no trânsito, não pode ser ignorada a sua possível fragilidade, típica da faixa etária, em que as condições físicas e mentais começam a sofrer comprometidas. Assim, ficam sujeitos a oferecer riscos a si próprios, além dos outros motoristas e pedestres. É quando sobrevém a pergunta: até quando a direção de veículos por idosos pode ser considerada segura?

A legislação brasileira de trânsito não estabelece uma idade-limite para a direção de veículos automotores. Porém, o artigo 147 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) determina a redução do tempo para a renovação da carteira de habilitação para os condutores acima de 65 anos, deixando de ocorrer de cinco em cinco anos para um período de três anos. Isso se deve pela necessidade de serem avaliadas suas condições médicas, em virtude das possíveis disfunções decorrentes do avanço da idade.

Acidentes de trânsito com idosos como condutores não chegam a 2% das incidências

Acidentes de trânsito com idosos como condutores não chegam a 2% das incidências

Segundo projeções do IBGE, os idosos hoje são 23,5 milhões e representam 12% dos brasileiros. No Acre, representam aproximadamente 5% dos condutores devidamente habilitados. Se de um lado podem ser considerados vulneráveis no trânsito, por outro, comprovadamente, pouco se envolvem em acidentes, na condição de condutores. De acordo com as estatísticas de acidentes do Detran, de janeiro a junho de 2013, eles foram responsáveis apenas por menos de 2% dos acidentes, com e sem vítimas.

A diretora-geral do Detran, Sawana Carvalho, esclarece que os idosos estão cada vez mais ativos, independentes e isso se reflete também no trânsito. “É fato que nossa população está envelhecendo e também iremos envelhecer um dia. Não somente por este motivo, mas os idosos merecem nosso respeito, seja como condutores ou pedestres”, declara.

Boas condições físicas são indispensáveis

A fisioterapeuta do ambulatório do Hospital das Clínicas, Patrícia Satrapa, esclarece que enquanto o idoso estiver em condições físicas e mentais adequadas, não há nenhuma contraindicação para a condução de veículos, porém alguns fatores devem ser observados. Na questão física, duas doenças que são muito características na terceira idade: a hipertensão e o diabetes. “O idoso pode ter um pico hipertensivo durante a condução de veículo e sofrer um desmaio, o que pode causar um acidente com dano a ele e a terceiros. No caso do diabetes, a alimentação precisa ser bem regularizada, para que não haja picos de hipo ou hiperglicemia, que também podem causar desmaios”, explica.

A fisioterapeuta Patrícia Satrapa diz que não há idade para dirigir, desde que o idoso esteja em plenas condições de saúde (Foto: Cristina Souza)

A fisioterapeuta Patrícia Satrapa diz que não há idade para dirigir, desde que o idoso esteja em plenas condições de saúde (Foto: Cristina Souza)

Patrícia Satrapa adverte ainda, aos idosos que querem permanecer aptos a conduzir seus veículos, que é necessário realizar algum tipo de atividade física. “O exercício físico promove a integridade dos músculos e dos ossos. A gente sabe que com o avanço da idade começa a haver uma perda de cálcio, osteoporose, que leva à fraqueza muscular, dor, artroses, artrites e uma incapacidade funcional. Num organismo que não realiza atividades físicas, a força muscular reduz, o equilíbrio diminui, os reflexos ficam mais lentos e aí começa um risco para esse idoso conduzir um veículo”.

A parte mental também não pode ser esquecida, segundo a fisioterapeuta. Para ela, valem também exercícios para manter a mente sadia. “Uma dica muito importante é manter a cabeça boa, com atividades como o hábito da leitura, das palavras-cruzadas, que, além de exercitar o raciocínio, também trabalha a parte motora, com a escrita. São exercícios que fortalecem a mente, que mantém o cérebro trabalhando”, pontua.

Garantia de independência

Seu Omar Bandeira, aposentado, nasceu em Tarauacá, onde reside até hoje. Passou muitos anos sem dirigir e também sem renovar sua habilitação. Mesmo com 83 anos, decidiu enfrentar o curso de atualização em Rio Branco, no Sest/Senat, para tirar sua carteira e voltar a ser condutor de veículo. Ele explica que tomou a decisão para garantir sua independência e liberdade. “Tenho meus filhos e eles me ajudam muito, mas tenho a consciência de que cada um tem a sua vida e suas obrigações”, conta.

Dentro desta realidade também está Manoel Carneiro, 73, que dirige desde os 30 anos. Transita normalmente para todos os lugares, inclusive para deixar os familiares no trabalho. “Gosto de andar. E, para ser franco, não gosto de andar com ninguém dirigindo, eu mesmo gosto de dirigir, até para município, quando eu vou. Uso óculos porque na minha idade é preciso usar, né? Mas não sinto dificuldade nenhuma para dirigir”, enfatiza. Manoel também revela que faz atividade física e acredita que isso o tem ajudado a ter mais disposição para encarar o dia a dia.

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