Ibama conclui curso de agente ambiental voluntário para indígenas

Líder indígena alerta para o perigo da derrubada da floresta

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Programa de Agentes Ambientais Voluntários começou em 2006 e com a turma atual serão 410 agentes formados e credenciados pelo Ibama (Fotos: Onofre Brito/Secom)

O Ibama, em parceria com a Organização dos Povos Indígenas do Vale do Juruá (Opirj), encerra hoje o 12º curso de Agente Ambiental Voluntário em Cruzeiro do Sul. Iniciado nesta segunda-feira, o curso tem como participantes 45 índios, de 9 terras indígenas. Segundo Roberta Graf, analista ambiental do Ibama, que atua como coordenadora do curso os indígenas são agentes ambientais em suas áreas e estão sendo credenciados com informações de reforço em legislação ambiental, ecologia, técnicas de fiscalização e em outras temas ligados à questão ambiental.  

O Programa de Agentes Ambientais Voluntários começou em 2006 e com a turma atual serão 410 agentes formados e credenciados pelo Ibama. São índios, seringueiros, pescadores, ribeirinhos e agora também os assentados pelo Incra, colonos e pequenos produtores. Segundo Roberta, agora o programa está aberto também em áreas urbanas, desde que seja área urbana organizada; um bairro inteiro pode entrar no programa. Já existem associações de moradores que aderiram ao programa.

Roberta conta que o programa tem dado muitos resultados positivos, ao longo desses anos. "Em seis meses ou um ano que eles os agentes atuam nas suas comunidades, começa a aumentar o peixe no rio e a caça na mata, diminui o desmatamento, diminuem as queimadas, diminui a retirada de madeira,  diminuem as caçadas com cachorro,  enfim todos os problemas ambientais são minimizados, cuidam melhor do lixo, começam projetos de manejo de palmeiras, açaí,  dos recursos florestais em geral, fazem planos de gestão ambiental completos em suas áreas, etc". Ela aponta como resultados positivos do programa o manejo do pirarucu que está sendo feito nos lagos de Sena Madureira e que proporcionou o aumento na produção.

Contratação de agentes

O coordenador da Opirj, Osmildo Silva da Conceição Kuntanawa, considera muito interessante que os índios conheçam as leis ambientais e adquiram conhecimentos para poder aplicá-los em suas terras, mas ao mesmo tempo acha preocupante. Ele explica que a maioria dos participantes são pais de família; eles executam um serviço não apenas para o estado, mas para o país e para o planeta como um todo. E então pergunta: "Como vamos desenvolver um trabalho de qualidade se não temos uma remuneração para dar conta do serviço" – disse.

Osmildo pondera: "Como coordenador da Opirj e liderança de um povo eu me preocupo: estamos plantando, reflorestando voluntariamente, mas poderíamos contribuir muito mais se tivéssemos uma remuneração, uma bolsa para cada aluno e que este curso não ficasse apenas aqui; que houvesse uma continuidade, para que um dia eles se formassem engenheiros ambientais". O coordenador disse ainda que outro pleito dos indígenas é o reconhecimento por parte do governo das categorias de agente agroflorestal e agente ambiental.

Questionada sobre esta argumentação, Roberta Graff diz que só pode haver contratação por parte do Ibama através de concurso público, mas pondera que os índios podem batalhar uma remuneração por outro órgão, através de uma ONG, de uma bolsa ou de uma empresa que tenha finalidade ambiental. "Pelo Ibama é um programa de voluntariado a gente dá o apoio, ou a gente faz a ponte para eles conseguirem apoio. A gente dá para eles material de  consumo, normalmente combustível,alimentação, material de papelaria para fazerem seus trabalhos, mas mesmo isso às vezes é difícil, afinal 410".

O perigo da destruição da floresta

O índio Timbu Shawandawa (Arara) é agente agroflorestal na terra Indígena do rio Cruzeiro do Vale, tendo feito o curso pela Comissão Pró Índio do Acre. Ele conta que o objetivo principal dos agentes agroflorestais é o reflorestamento das ‘terras nuas’ (terras degradadas). O trabalho, além do plantio, envolve educação e conscientização ambiental, tanto nas aldeias quanto no entorno delas. As orientações são: preservação das matas ciliares, não jogar lixo dentro do rio, nem animais apodrecidos, proteger os animais, não caçar com cachorro, não pescar com tingui,  "isto tanto pelos indígenas quanto pelos brancos" – disse.

Para ele, a parceria com o Ibama envolve uma nova estratégia de mesclar o agente agroflorestal com o agente ambiental, para que se possa estudar as técnicas naturais, que vem dos antepassados e também as técnicas que vem da ciência ocidental obtendo assim o conhecimento intercultural, com o conhecimento técnico das plantas e o conhecimento da Lei para que se possa aplicar que possa aplicar na tarefa de conscientização. Na nova estratégia uma das ações é a distribuição de mudas de espécies nativas e exóticas.

"A gente vê que tem muita verba investida tanto do estrangeiro quanto do Brasil na parte ambiental, mas ela é utilizada mais na destruição do que para o reflorestamento. Não estamos pensando em nós que vamos viver 100 anos; estamos pensando na geração futura, desenvolvendo o plantio de buriti que dá muita alimentação para todos os tipos de seres, da formiga ao tucano. Estamos plantando a samaúma. A água está invadindo as terras, veja as enchentes pelo Brasil afora. Ninguém sabe direito o que está acontecendo com o planeta, mas também está relacionado com a derrubada das samaúmas e de outras árvores. Uma samaúma adulta pode conter cinco mil litros de água. E o que fizeram com a natureza, imagine quantas milhares de samaúmas foram derrubadas. Então,  a samaúma secou, o sol puxou a água dela para cima, quando a água volta e procura seu habitat nas árvores, não as encontra e então acontecem as alagações e a força da água arrasta tudo que encontra pela frente".

Timbu faz um apelo: "Nós estamos fazendo nossa parte como indígenas voluntariamente, mas não estamos contando só com isso não. Estamos num país soberano, não queremos ser eternamente voluntários. Nosso trabalho é importante para o município, o país e o planeta; então queremos na continuidade uma resposta mais correta para nossa categoria indígena e multiplicar para os não-indígenas, no caso os agro- extrativistas que também são defensores da natureza" – encerrou.

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