Na última quinta-feira, 27, dia em que foi comemorado o Dia Nacional do Doador de Órgãos, o Hospital das Clínicas (HC) realizou a captação dos rins e fígado de um paciente com morte cerebral. Na sexta, 28, foi realizado um transplante de Inter vivos, um pai doou um rim para o filho e no domingo, 30, mais uma captação de rins e fígado de doador cadáver seguidos dos transplantes. O fígado de um paciente foi enviado para Brasília e o outro para Fortaleza numa aeronave fretada pelo governo do Ceará.
Já era quase 11 horas da noite de quinta-feira quando a equipe do Hospital das Clínicas (HC) de Rio Branco, comandada pelo cirurgião geral Tércio Genzini, começou a cirurgia para captação dos rins e fígado de um paciente com morte cerebral, vítima de acidente de moto. A família do rapaz, de 22 anos, autorizou a doação em respeito à sua vontade que um dia chegou a comentar com a mãe que gostaria de ser doador.
“Eu estou muito triste com a morte do meu filho, mas fico feliz em saber que três pessoas vão viver através dele. Acho que toda família que perde alguém deveria pensar nisso. Ele quis ser doador e nós respeitamos sua vontade, por isso assinei a autorização para doação”, disse emocionado o pai, Raimundo da Silva.
A correria na sala de cirurgia era contra o tempo, pois o fígado, cujo transplante ainda não é realizado em Rio Branco, deveria ser enviado ainda no voo da madrugada para Brasília para chegar lá em boas condições de preservação. O envio do órgão para determinado estado obedece à lista de espera do Cadastro Nacional de doação.
Uma equipe de mais de 15 pessoas entre médicos, enfermeiros, técnicos e residentes participou do procedimento que demorou cerca de duas horas e meia, e segundo o cirurgião chefe foi bem sucedido. “Muito importante no momento da cirurgia é preservar a qualidade da anatomia dos órgãos para o reimplante e o resfriamento rápido. Era um jovem com órgãos de excelente qualidade e tudo deu certo”, avalia Tércio Genzini. “Porém, o mais importante disso tudo é o ato de doar, de pensar na vida do outro quando a do seu ente querido não tem mais jeito, isso sim é o que vale a pena nesse trabalho”, finaliza.
Na sexta-feira, uma mulher de 37 anos e um rapaz de 16 receberam os rins coletados na noite anterior. Duas equipes diferentes, uma coordenada pelo cirurgião Nilton Ghiotti e outra pelo cirurgião Tadeu Moura realizaram as cirurgias.
Ainda na sexta, outro transplante que emocionou toda a equipe, o chamado transplante inter vivos. Um pai de 47 anos doou um rim para o filho de 25 anos que há três anos sofria de insuficiência renal e fazia hemodiálise. Ambos estão bem. Eles são de Cujubim, município de Rondônia, e vieram realizar a cirurgia no Acre porque naquele estado não é realizado nem captação e nem transplante.
“O Acre nos acolheu, o hospital possui estrutura, suporte e profissionais capacitados. O transplante foi bem sucedido e agora ele vai ter uma nova vida. Estamos aliviados”, disse a esposa do paciente receptor, Daniele Gonçalves, que está casada com ele há apenas dois anos e acompanhando seu sofrimento.
No último domingo foi realizada mais uma captação de rins e fígado, desta vez de um adolescente de 15 anos, vítima de um acidente vascular cerebral (AVC). Os transplantes de rins foram realizados imediatamente após a captação. O fígado seguiu para Fortaleza em um avião fretado pelo governo do Ceará. “Demoramos seis horas e meia para chegarmos ao Acre e vamos demorar o mesmo tempo para chegar em Fortaleza, mas é uma alegria imensa fazer esse trabalho: salvar uma vida que está lá ansiosa esperando por este órgão”, disse o comandante responsável pelo voo.
“O Acre vive um momento muito bom em se tratando de captação e transplante de órgãos em relação a outros estados. O Acre já esteve um último lugar em transplante por milhão de habitante, agora está em 10º lugar, à frente de estados como Rio Grande do Norte, Piauí, Maranhão, Bahia, Alagoas, Pará e Amazonas”, diz o médico nefrologista paulista, Gustavo Fernandes Ferreira, integrante da equipe do doutor Tércio Genzini que desde 2009 faz consultoria, capacitação e cirurgias de transplante no HC de Rio Branco.
“O Governo do Estado está investindo muito para a realização de transplantes. O Acre é uma referência na região norte e em breve vamos poder realizar também o transplante de fígado. A fila de espera para um transplante de córnea está zerada no momento. Isso é muito bom, mostra o compromisso e esforço que estamos fazendo, sem contar a ajuda dos familiares, que sem a autorização para doação nada disso seria possível”, diz a secretária estadual de saúde, Suely Melo.
Os transplantes no Acre
Em Rio Branco são realizados transplantes de rim e córnea e o estado está se preparando para realizar também o de fígado que deve acontecer até o final do ano. Desde 2006, já foram realizados 46 transplantes de rim (9 apenas este ano) e desde 2009, foram realizados 81 transplantes de córnea. Não há mais pacientes à espera de córnea e nenhum inscrito também para o transplante de rim, mas alguns pacientes estão sendo avaliados.