Guardiã do conhecimento tradicional

Letícia Yawanawá: “Quando ouço a sabedoria dos velhos, eu amo” (Gleilson Miranda/Secom)

Letícia Yawanawá: “Quando ouço a sabedoria dos velhos, eu amo” (Gleilson Miranda/Secom)

Letícia Yawanawá é portadora da marca dos que nada têm a esconder: quando conversa, olha nos olhos de seu interlocutor. E expressa serenamente seu ponto de vista, com a dignidade que apenas os que cultivam a humildade podem sustentar.

Seu discurso tem duas palavras recorrentes: “sonho” e “desafio”. O que demonstra que ela tem alma de idealista. Mas tem braços de trabalhadora também.

Naturalmente, sabe o que quer. E o que quer? Defender sua gente, sua cultura, seus direitos, beneficiando não apenas seu povo, mas todos os “parentes”, como ela costuma se referir às outras etnias. Em especial, sua bandeira é pelos direitos das mulheres indígenas. Em tempo: Letícia é  coordenadora da União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (Umiab), que engloba povos do Acre, noroeste de Rondônia e sul do Amazonas, e realizou, em outubro, com o apoio da Secretaria Estadual de Políticas para Mulheres (SEPMulheres), o I Encontro de Saberes Ancestrais com Parteiras e Pajés Indígenas, em Rio Branco.

 

 

A líder chama a atenção para o imenso cabedal que essas figuras carregam consigo e busca que esse saber seja valorizado, transmitido, registrado e utilizado. “As parteiras e os pajés têm tanta coisa pra ensinar! Quando um deles morre, eu fico muito triste, porque sei que está  levando consigo uma sabedoria tão grande… Eles são tão ricos! Nós temos que aprender a ouvir, a ter a preocupação de chamar a avó, a tia, a parteira e convidá-la para uma conversa”, diz uma Letícia inconformada com a indiferença dos mais jovens em relação ao conhecimento tradicional.

Para ilustrar o que diz, ela narra, por exemplo, que as parteiras continuam na ativa até 80, 90 anos e, não raro, para atender alguma mulher que vai dar à luz, caminham pela mata durante a noite, sem lanterna, sem botas e sem remuneração, às vezes até debaixo de chuva, totalmente movidas pelo senso de responsabilidade e amor ao semelhante, fato que deveria ser inspirador para boa parte da classe médica branca no mundo inteiro.

Quanto ao movimento de mulheres, Letícia revela que também as indígenas vêm conquistando sua autonomia. E sua postura aponta para uma atitude de maturidade e concórdia entre os gêneros: “Nosso movimento não  é para competir, mas para apoiar o nosso povo de um modo geral”.

Assim se revela Letícia Yawanawá. É simples, é forte, é o que é.

Compartilhe:

WhatsApp
Facebook
Twitter