Objetivo é levantar dados como total de pessoa, o que produzem, e meios de acesso à serviços como saúde e educação para embasar a elaboração de políticas públicas na área
Estima-se que duas mil e quinhentas famílias morem em um milhão de hectares da Reserva Extrativista Chico Mendes, que ocupa 7 cidades acreanas. Elas sobrevivem da venda de borracha e castanha e se preparam para executar planos de manejo madeireiro. Agora, o total de pessoa, o que produzem, meios de acesso à serviços como saúde e educação serão levantados por meio de um censo, executado em parceria entre os governos federal e estadual. O objetivo é identificar o perfil dos moradores da Reserva para a elaboração de políticas publicas que beneficiem as famílias e evitar a especulação fundiária e a atividade pecuária em larga escala.
A capacitação dos 80 recenseadores começou nesta segunda-feira no Instituto Dom Moacir, sob a supervisão da secretaria Estadual de Meio Ambiente e do Ibama. Na próxima semana, os recenseadores vão a campo para começar o cadastramento. Cada um recebe R$ 800,00 pela execução do serviço, que terá duração de um mês. O último censo da área foi realizado em 1991.
O secretário de Meio Ambiente do Estado, Eufram Amaral, diz que é fundamental ter um diagnóstico completo da área, o que facilita a execução do Plano de Utilização da Reserva Extrativista Chico Mendes, que regulamenta a forma de uso dos recursos naturais por parte dos moradores. Além disso, segundo ele "os entrevistadores vão aprender também políticas de valorização ambiental, técnicas de abordagem em entrevista, primeiros socorros e técnicas de sobrevivência".
O superintende do Ibama, Anselmo Forneck diz que cerca de 4% da área de um milhão de hectares da Reserva estão desmatados. Para ele, o cadastramento vai facilitar a identificação de moradores que não se enquadram como extrativistas para a posterior retirada destas famílias. Forneck explica que há morador com mais de mil cabeças de gado e de acordo com o Plano de manejo, o permitido seriam 30 cabeças de gado.
A recenseadora Dayara Souza, que concluiu o ensino médio, diz que o trabalho é importante para ela e para os moradores da Resex Chico Mendes. "Eu vou ter contato direto com o dia a dia dos seringueiros na mata, o que sempre tive vontade. Para eles é importante porque a partir do resultado da pesquisa, as autoridades vão saber o que eles precisam para ter uma vida melhor lá dentro mesmo da floresta", avalia.
O morador da Resex, presidente da Associação Vila Nova em Capixaba, Edmar Gomes de Olivera, diz que o censo é fundamental para definir quem é quem e o que faz. Ele defende a permanência na Reserva apenas de quem tenha o perfil de extrativista. "As famílias cresceram, as atividades mudaram. Hoje podemos além da borracha, castanha e madeira, podemos ter outras fontes de renda, mas criar gado em larga escala não é ação de extrativista. Acho que o censo vai mostrar a realidade da Resex e ajudar na reorganização do lugar".