Governo realiza visitas às Terras Indígenas no Vale do Juruá e Tarauacá-Envira

Mais de R$ 800 mil serão investidos na produção sustentável

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O objetivo das reuniões foi avaliar a implementação dos Planos de Gestão Territorial e Ambiental Indígena (PGTI), financiados pelo Programa de Inclusão Social e Desenvolvimento Econômico Sustentável do Acre (Proacre) (Foto: Assessoria Seaprof)

Equipe da Extensão Indígena da Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof) retornou nesta quinta-feira, 7, de uma viagem à região do Juruá e Tarauacá-Envira. O objetivo foi avaliar a implementação dos Planos de Gestão Territorial e Ambiental Indígena (PGTI), financiados pelo Programa de Inclusão Social e Desenvolvimento Econômico Sustentável do Acre (Proacre), informar sobre o andamento das atividades produtivas incentivadas pelo governo do Estado e apresentar o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

A equipe iniciou a viagem no dia 20 de junho, com destino à Terra Indígena (TI) Katukina do Campinas, em Cruzeiro do Sul. A TI tem uma população de 404 pessoas e é composta pelas aldeias Campinas, Varinawa, Bananeira, Masheya e Samauma, localizadas às margens da BR-364.

A Terra Indígena já conta com dez açudes, com criação de capivaras, manejo de tracajás, resgate de sementes tradicionais e avicultura em sistema semi-intensivo, ações que são implementadas pela Seaprof e pelo Departamento Estadual de Estradas de Rodagem, Hidrovias e Infraestrutura (Deracre). Durante a reunião interinstitucional, que também teve a participação do assessor Especial dos Povos Indígenas, José de Lima Kaxinawá (Zezinho Yube), foram definidas as atividades que deverão ser implementadas em curto prazo.

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A Terra Indígena já conta com dez açudes, com criação de capivaras e manejo de tracajás (Foto: Assessoria Seaprof)

O assessor indígena informou sobre os procedimentos para acessar o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que este ano conta com R$ 34 milhões para as organizações de agricultores familiares em todo o país. Os Agentes Agroflorestais Indígenas são os responsáveis para fazer o levantamento do excedente da produção que será destinado ao PAA.

“Encontramos aqui verdadeiras unidades demonstrativas, com experiências tanto na agricultura familiar quanto no manejo natural de animais silvestres. Os Katukinas saíram de uma situação de vulnerabilidade social e econômica, decorrente da construção da BR-364, que literalmente transpassa a Terra Indígena, para tornar-se um povo soberano”, afirma José de Lima Kaxinawá.

Rumo a Cruzeiro do Sul, a próxima parada foi na Terra Indígena Nukini, localizada em Mâncio Lima. Na ocasião foram entregues equipamentos agrícolas e barcos para escoamento da produção. Os investimentos são do Plano de Gestão Territorial e Ambiental Indígena (PGTI-Proacre), num total de mais de R$ 230 mil, para financiar os eixos de fortalecimento institucional, fomento à produção sustentável e valorização cultural.

“O povo Nukini é reconhecido pela determinação e resistência às adversidades, como o ocorrido na época das chamadas ‘Correrias’. Hoje estão bem organizados em torno da Associação Indígena Nukini (AIN). A entrega dos equipamentos seguiu todo um procedimento licitatório que a própria organização coordenou. Esse é mais um meio de promover o empoderamento dos povos indígenas”, disse Dinah Borges, chefe da Extensão Indígena da Seaprof.

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“O povo Nukini é reconhecido pela determinação e resistência às adversidades, como o ocorrido na época das chamadas ‘Correrias’. Hoje estão bem organizados em torno da Associação Indígena Nukini", disse Dinah Borges

A beneficiadora de arroz, os barcos e motores, além dos equipamentos de informática, representam a consolidação da produção e o fortalecimento do povo Nukini. “Cada item que fomentamos temos a preocupação de estudar com bastante cuidado, se realmente é adequado ao povo, aos seus costumes e ao seu estágio produtivo”, enfatiza Borges.

Em Cruzeiro do Sul foi definida a logística para transporte dos equipamentos que irão beneficiar o Povo Huni Kui, da Terra Indígena Kaxinawá/Ashaninka do Rio Breu, em Marechal Thaumaturgo.

O presidente da Associação Kaxinawá do Rio Breu (Akarib), Fernando Henrique, ficou entusiasmado com a remessa do primeiro lote de insumos e equipamentos adquiridos através do PGTI-Proacre do Povo Huni Kui. Os materiais seguirão de barco, a partir de Cruzeiro do Sul, com chegada prevista para o próximo dia 15.

Fernando Henrique falou ainda sobre a iniciativa de regionalização da merenda escolar que o povo Huni Kui realiza na Terra Indígena e que o Programa de Aquisição de Alimentos, apresentado pela equipe do governo do Estado, vai fortalecer ainda mais essa iniciativa.

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Os investimentos feitos nas terras indígenas são para financiar os eixos de fortalecimento institucional, fomento à produção sustentável e valorização cultural (Foto: Assessoria Seaprof)

O primeiro lote é composto por equipamentos para construção de galinheiros e de casas de vegetação, reforma e ampliação de kupixawas e açudes manuais, aquisição de sementes e insumos para a criação de peixe, galinha caipira e cultivo de hortaliças, e ferramentas agrícolas e produção de mudas frutíferas nos roçados.

Nessa primeira parcela, estão sendo investidos mais de R$ 178 mil para beneficiar diretamente 400 indígenas, habitantes de uma área total de 31.277 hectares, que representam os limites da Terra Indígena.

Em Tarauacá foi articulado o envio da primeira remessa de equipamentos ao povo Huni Kui da Terra Indígena Rio Humaitá, que fica cerca de dois dias de barco subindo o Rio Tarauacá. Com R$ 117 mil, foram adquiridos equipamentos para implantação de açudes, ração e alevinos, matrizes e insumos para a criação de galinhas caipiras e engenhos para produção de derivados de cana-de-açúcar.

Com uma população de 381 indígenas, os Huni Kui do Rio Humaitá são um dos povos com maior autonomia e que têm conservado grande parte de suas tradições milenares. Com os recursos, ainda foi possível adquirir cinco kits para casas de farinha e equipamentos de escritório e informática para o fortalecimento da Associação dos Povos Indígenas do Rio Humaitá (ASPIRH).

Colônia 27, sinônimo de resistência e superação

Localizada na zona rural de Tarauacá, a Colônia 27 é a menor Terra Indígena do Estado do Acre. Na década de 80, foi seriamente ameaçada de extinção devido às grandes fazendas que avançaram sobre a TI. Após o reconhecimento e demarcação do território feito pela Fundação Nacional do Índio (Funai), o povo ficou com pouco mais de 100 hectares. Nessa época, os Huni Kui estavam em um território que se resumia a pastagens e com escassez de toda ordem. Resignados, mas com a sabedoria emanada de seus antepassados e a intrepidez das novas gerações, os Huni Kui se fortaleceram para se tornar nacionalmente reconhecidos pelas atividades produtivas, pelo resgate de suas tradições e pela soberania alimentar.

Hoje os Huni Kui abastecem o mercado de peixe de Tarauacá, através dos seus 11 açudes destinados à piscicultura e ao manejo natural de tracajás. É lá que a avicultura tornou-se modelo de sustentabilidade. Com um plantel de mais de 150 aves, as galinhas são servidas com fartura à mesa de todas as famílias. O cultivo de mudas frutíferas, implantação de roçados sustentáveis e sistemas agroflorestais dão a exata noção do protagonismo que o povo Huni Kui alcançou nesse curto período da história.

Os cantos entoados são de agradecimento aos velhos, que carregam consigo marcas da resistência e bravura, e também de felicidade pela bonança, decorrente da ousadia de um povo que travou uma luta desigual e que, mesmo assim, sagrou-se vencedor.

“Pode-se dizer que nosso papel, enquanto governo, chegou a um patamar de apenas acompanhar e orientar as ações produtivas. Somos parceiros em vários programas. Aqui há Agente Agroflorestal Indígena, sistemas produtivos que no passado incentivamos com fomento e assistência técnica. Demos nossa contribuição e os Huni Kui souberam aproveitar muito bem, superando todas as dificuldades”, afirmou Borges.

Na terça-feira, 5, a equipe chegou a Feijó para visitar a Terra Indígena Katukina/Kaxinawá, pertencente aos povos Huni Kui e Shanenawa. Na aldeia Paroá, os roçados esverdejantes às margens do Rio Envira são o primeiro indício de que os Huni Kui estão com uma safra capaz de proporcionar ao povo alimentos em abundância, cujo excedente poderá ter sua compra garantida pelo Programa de Aquisição de Alimentos.

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A viagem também serviu para averiguar os impactos oriundos da utilização dos equipamentos agrícolas, barcos, insumos e do caminhão que fora adquirido para escoamento da produção (Foto: Assessoria Seaprof)

A comercialização do excedente sempre foi motivo de preocupação tanto dos povos indígenas quanto do governo, que identificava nas relações mercantis entre os indígenas e o mercado local prejuízos ao primeiro. Foi exatamente para suprir essa carência que a Extensão Indígena esclareceu as regras para acessar o PAA.

Os Planos de Gestão Territorial e Ambiental Indígena dos povos estão em plena execução. A viagem também serviu para averiguar os impactos oriundos da utilização dos equipamentos agrícolas, barcos e insumos e do caminhão que fora adquirido para escoamento da produção.

Com recursos de mais de R$ 350 mil, destinados aos três eixos contemplados pelo Proacre, estão sendo beneficiadas diretamente 1.108 pessoas dos povos Shanenawa e Huni Kui, que habitam 23.474 hectares de floresta amazônica.

“Apesar dos impactos, tanto do contato com a sociedade envolvente quanto da abertura da BR-364, os povos têm se mostrado verdadeiros protetores da natureza. E temos contribuído para que os danos culturais e sociais sejam mitigados com ações que primam pelo desenvolvimento sustentável, como é o caso do resgate de sementes tradicionais”, ressaltou Borges.

“Agora irei plantar com mais gosto. O governo do Estado está olhando pela gente do Alto Envira.” Com essas palavras, Dina Kampa, do Povo Ashaninka, despediu-se da equipe da Seaprof logo após a reunião com representantes do povo Ashaninka, da Terra Indígena Ashaninka do Alto Rio Envira.

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O feijão Ashaninka é conhecido e bastante apreciado na região (Foto: Assessoria Seaprof)

O motivo do encontro foi entregar os primeiros 30 formulários para preenchimento dos indígenas que vão integrar o PAA. O feijão Ashaninka é conhecido e bastante apreciado na região. O objetivo é garantir a compra da produção e destiná-la à merenda escolar das 11 escolas com 244 alunos e 10 professores que fazem parte dos povos indígenas Ashaninka e Madija.

Encerradas as atividades planejadas, e a satisfação de ver a produção indígena com avanços sensíveis, a equipe da Seaprof retornou nesta quinta-feira, 7, à capital Rio Branco, deixando em cada município a determinação de que o governo do Estado vai apoiar e incentivar da melhor maneira possível a produção indígena.

Em uma breve pausa, no trecho entre Manuel Urbano e Feijó, foi voz pacífica de todos da equipe de que a ligação terrestre entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul já é  uma realidade, independentemente das intempéries. “Essa BR não fecha mais”, sintetizou Borges.


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