Governo implementa projeto para salvar o igarapé Judia

Secretaria de Meio Ambiente, sociedade civil e prefeituras realizam ação conjunta para recuperar as nascentes da bacia 

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A comunidade esteve envolvida nos trabalhos de preservação da nascente (Foto: Assessoria Sema)

A Secretaria de Meio Ambiente (SEMA) lançou pela manhã desta quinta-feira, dia 27, as atividades de revitalização do igarapé Judia, envolvendo ações de limpeza, desobstrução e plantio de mudas em 2,5 quilômetros de Área de Preservação Permanente (APP), a partir de sua principal nascente. Graças aos trabalhos de um Conselho Gestor formado por atores da sociedade civil e governo, estão sendo aprovados projetos para dar continuidade à recuperação desta importante bacia que abastece os municípios de Senador Guiomard e Rio Branco, além de um intenso trabalho de conscientização e educação ambiental realizados junto à população.

Mesmo como toda a pressão humana exercida na bacia do igarapé Judia, diversos usos múltiplos dependem da mesma, evidenciados pela grande demanda exigida para a horticultura, produção bovina, indústrias de pequeno porte, 10 (dez) empresas que comercializam águas subterrâneas (carro-pipa), 01 (uma) empresa que comercializa água mineral (Verágua), além do uso para abastecimento público, atividades de lazer, pesca e atividades domésticas, uma vez que alguns bairros não são atendidos pela rede pública de abastecimento. Existem cerca de 40 mil pessoas na bacia, tendo sua maior concentração na área urbana de Rio Branco, que detém mais de 70% do total de sua área.

Segundo informações da Coordenadora do Departamento de Gestão de Recursos Hídricos da Sema e Secretaria Executiva do Conselho, Marli Ferreira, o objetivo da ação é dar visibilidade ao igarapé, especialmente em sua área de cabeceira onde existem diversas nascentes e cursos d`água ainda distribuídos pelos fundos dos quintais e estabelecimentos comerciais. O objetivo é sensibilizar a população e mostrar a necessidade de ações estruturantes urgentes (coleta e tratamento de esgoto), para que o igarapé possa gradativamente recuperar suas funções ecológicas. O aterramento das nascentes ocasionado pela ocupação urbana, supressão da APP e evidentemente pelo esgoto e lixo lançado em seu leito estão destruindo de maneira vertiginosa uma das principais fontes de abastecimento de água potável da região.

“Serão 15 (quinze) dias de intensa mobilização comunitária para ver fluir as águas de um dos mais importantes afluentes do rio Acre. Permitirá aos participantes e a comunidade, que muitas vezes desconhecem o grande potencial turístico relacionado aos recursos hídricos que a bacia oferece, uma oportunidade de transformar o igarapé num grande atrativo regional para a geração de serviços e, consequentemente, melhoria da qualidade de vida da população” relatou Marli Ferreira.

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A bacia do Judia, se recuperada, também pode ser aproveitada em seu potencial turístico, gerando divisas para o município (Foto: Assessoria Sema)

Para conseguir realizar estas atividades, o Conselho Gestor buscou parcerias com empresas localizadas no entorno da bacia, especialmente para a contratação de mão-de-obra especializada para a limpeza. Para a participação da comunidade, o Conselho realizou visita nas residências, localizadas nas margens do Judia, num trecho de 2,5 km solicitando que a população iniciasse a limpeza dos quintais a medida que os trabalhadores avançassem ao longo do curso do igarapé. “Queremos que cada morador mantenha sempre limpo o fundo de seus quintais para que possamos ver o Judia, que encontra-se no momento sufocado pelo lixo e entupido devido a retirada da mata ciliar”, disse o presidente do Conselho Gestor e membro do Instituto Socioambiental Quina- Quina, Aldeci Miranda.

A atuação do Conselho Gestor da bacia têm rendido bons frutos, como a captação de recursos financeiros para a revitalização, comprovando a tese de que ações governamentais precisam saber envolver a sociedade como um todo para alcançar seus objetivos. Um exemplo é a aprovação recente de um projeto junto ao FNMA, que permitirá a recuperação da APP, aliado com diversas ações de educação ambiental. Um outro projeto em andamento permitirá a elaboração do mapa de vulnerabilidade da bacia, recolhendo dados científicos para a gestão eficiente da mesma, além de elaborar um levantamento das principais ações preventivas. Um dos requisitos para a aprovação deste projeto é a existência do Conselho, uma vez que tanto a lei federal como a estadual preconizam que a gestão de recursos hídricos deve envolver os agentes públicos, sociedade civil e usuários da bacia.

Um desafio de 4 milhões de reais

Mesmo com todas as ações do governo e da sociedade mobilizada em prol da recuperação deste manancial, os desafios existentes são grandes e resultam da falta de planejamento urbano de governos anteriores e conseqüente crescimento desordenado das cidades acrianas. A situação se tornou tão grave que diferenças partidárias estão sendo superadas em prol da revitalização do Igarapé: “Vejo aqui a união, somos de partidos diferentes, mas quando o assunto é preservação do Judia o estado se une ao município”, destacou o Secretário Edgard de Deus, que anunciou ainda um projeto de 280 mil reais direcionado para a preservação, reflorestamento e limpeza do igarapé.

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O Secretário de Meio Ambiente Edegard de Deus, o Prefeito de Senador Guiomard James Gomes e a Coordenadora do Dep. de Recursos Hídricos/SEMA Marli Ferreira durante o evento (Foto: Assessoria Sema)

O prefeito James Gomes, por sua vez, reafirmou seu compromisso de continuar o trabalho de preservação, mesmo contando com uma estrutura que considera ainda insuficiente frente ao enorme desafio. “É um projeto complexo, uma vez que temos de fazer a desapropriação de pelo menos cinco estabelecimentos na principal área comercial do município, que se situa na Av. Castelo Branco, além de levantar as verbas para o contínuo tratamento da água. Estimamos que, para isso, é necessário um investimento em torno dos 4 milhões de reais. Mesmo se usarmos outras alternativas que não sejam a desapropriação para evitar o lançamento do esgoto na nascente, vamos precisar da ajuda da SEMA, do Governo do Estado e da federação para realizarmos as obras necessárias”.  

Difícil situação

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Esgoto matando o Judia na nascente (Foto: Assessoria Sema)

Iramish Pereira Ishisawa é comerciante e corresponde à terceira geração de imigrantes japoneses que chegaram ao Quinari quando este município não passava de uma vila. Todo o esgoto da Av. Castelo Branco passa por debaixo de seu estabelecimento e vai desembocar no olho da principal nascente do Iquiri, tornando a apreciação da mesma algo chocante. Um lodo escuro e mal cheiroso se mistura a pureza da água que brota do solo, corrompendo-a em seu nascedouro. Iramish conta que seu avô estabeleceu-se alí – no local preciso onde está a nascente do Iquiri – e afirma que nesta época a realidade era bem diferente: “A gente tinha uma barragem, criação de peixes, plantação de morando, mata ao redor bem cuidada, tudo isso meu avô fez e a água era muito limpa. Há uns vinte anos atrás a prefeitura veio aqui e fez estas obras de canalização. Na primeira chuva arrebentou tudo, levando a barragem, os peixes, os morangos e tudo mais, gerando esta situação lamentável. Agora, as pessoas vem me falar de ecologia, eu acho correto, mas temos que trabalhar em conjunto, porque estamos na iminência de conflitos. Não considero justo eu ser multado ou mesmo responsabilizado por isso, por uma situação que não construí e cuja verba necessária para recuperar eu pessoalmente não tenho”.  
 

Sobre a Bacia do igarapé Judia

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pdf Clique aqui para ver o mapa da Bacia do igarapé Judia

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A bacia do igarapé Judia corresponde uma área de 10.234,62 hectares, compartilhada entre os municípios de Senador Guiomard e Rio Branco. O igarapé Judia, afluente da margem direita do rio Acre, representa um importante manancial de abastecimento público para a cidade de Rio Branco, atendendo 12 bairros populosos na área do 2ª distrito de Rio Branco, local histórico no processo de ocupação da Cidade. Sua principal nascente encontra-se situada no município de Senador Guiomard, tendo como principais afluentes os igarapés Monte Santo, Santa Maria, Almoço e Cigana. No passado, um polígono de nascentes também foi o manancial de abastecimento público para o município de Senador Guiomard, mas devido à ação humana, foram reduzindo sua vazão, sendo necessário a captação de outra bacia hidrográfica.

A intensificação da pecuária nos municípios de Rio Branco e Senador Guiomard, maiores bacias leiteiras do Estado do Acre, provocaram a supressão da vegetação em áreas de preservação permanente, reduzindo-as a menos de 8% , ampliando ao mesmo tempo o consumo de água para a dessedentação bovina, constituindo-se a maior demanda na bacia. De acordo com os dados fornecidos pela SEAP- 2010, existem cerca de 14 mil cabeças de gado nesta região.

O crescimento desordenado de bairros, ruas e comércios, agravam a saúde da bacia, especialmente no alto e baixo curso onde se concentram grandes aglomerados urbanos, carentes de coleta e tratamento de esgoto. A deficiência no gerenciamento de resíduos sólidos torna a bacia um verdadeiro depositário de lixo, incompatível para a manutenção da fauna que ainda se manifesta em pequenos fragmentos de mata e na presença de diversas variedades de peixes, utilizando como fonte de subsistência das famílias carentes e na complementação da renda familiar.

O Conselho Gestor do Igarapé Judia

O Conselho gestor da bacia do igarapé Judia surgiu no final de 2007 através de um grupo de voluntários integrantes do Coletivo Educador Samaúma, formado e capacitado pela SEMEIA de Rio Branco, com recursos do Fundo Nacional do Meio Ambiente. A partir daí, várias instituições foram se integrando na defesa da conservação e preservação deste manancial de abastecimento público. É atualmente formado por 15 (quinze) instituições com representação do poder público, sociedade civil e usuários de águas da bacia e atua principalmente na mobilização comunitária para a preservação e recuperação das nascentes e matas ciliares, desenvolvendo ações educativas especialmente para a redução dos resíduos sólidos nas águas do igarapé. Também fomenta junto aos órgãos públicos a execução de obras estruturantes para coleta e tratamento de esgoto, uma vez que a ocupação urbana na parte alta e baixa da bacia representa um dos maiores impactos, em virtude do lançamento de esgoto in natura, ocasionando a perda da qualidade da água e da fauna presente.

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