Durante dois anos, cinco meses e dezoito dias, o leito 169 na enfermaria ‘D’ da Fundação Estadual Hospital do Acre (Fundhacre) foi a residência de Elivânio Vital da Silva e de sua família.
Portador de neuropatia degenerativa, uma doença que afeta os nervos periféricos, responsáveis por encaminhar informações do cérebro e da medula espinhal para o restante do corpo, Elivânio necessita de um ventilador mecânico para poder viver. A principal função do equipamento é bombear o ar aos pulmões e possibilitar a sua saída de modo cíclico para oferecer suporte ventilatório ao sistema respiratório.
Segundo os pais de Elivânio, até os nove anos de idade, o garoto conseguia caminhar, mesmo com dificuldades. Depois deste período, ele apenas rastejava pelo chão.
Aos 17 anos de idade, a situação ficou mais grave. Elivânio começou a apresentar fortes dores pelo corpo, perda dos movimentos de vários membros e tinha muita dificuldade para se alimentar.
Apesar de terem nascido em um seringal na zona rural de Feijó, a família vivia no município amazonense de Envira desde 2005. Ao levar o filho para uma consulta, eles receberam a orientação médica de levar Elivânio o mais rápido possível para Rio Branco, cidade mais próxima para iniciar o tratamento e foi o que os pais do menino fizeram.
No dia primeiro de agosto de 2016, Elivânio era internado na Fundação Hospital. Começava ali uma nova fase de batalha pela vida do jovem garoto.
Atualmente com 20 anos de idade, Elivânio perdeu a fala e a maioria dos movimentos do corpo. Por conta dessa e de outras limitações, ele necessita de cuidados durante 24 horas.
Esta missão é bravamente desempenhada por Maria Edilene da Silva Bezerra e Expedito Vital de Lima, pais de Elivânio. Nem mesmo o cansaço e a exaustiva rotina dentro de um leito hospitalar desanimam os dois de proporcionarem uma melhor qualidade para o filho.
O maior desejo era mesmo poder cuidar de Elivânio em casa, junto da família. Porém, a família se esbarrava em uma série de dificuldades. A primeira delas é o alto custo dos equipamentos que o jovem precisa para viver. Juntos, o aspirado e o ventilador mecânico custam R$ 60 mil.
A outra dificuldade era a correta adequação de uma casa para poder recebê-lo. Neste caso, com a fiação elétrica específica, quarto climatizado com ar-condicionado e um gerador de energia elétrica.
No ano passado, veio a primeira boa notícia. Por meio do programa habitacional ‘Minha Casa, Minha Vida’, a família foi beneficiada com uma casa popular no Residencial Andirá, no bairro Xavier Maia, em Rio Branco. A estrutura foi construída para atender as necessidades de Elivânio.
E no início deste ano, veio a confirmação que faltava para o jovem, enfim, deixar a Fundação e conhecer a nova casa. Graças ao esforço da nova gestão na Saúde do Acre, Elivânio recebeu a doação de um aspirador e um ventilador mecânico.
Um milagre de Deus
O pai de Elivânio jamais vai esquecer os angustiantes 24 dias em que o filho passou na unidade semi-intensiva da Fundação Hospitalar. A apreensão foi ainda maior quando o jovem ficou 8 dias em coma.
Para seu Expedito, este foi o pior momento de todo o período em que o filho ficou internado na unidade. Com o agravamento no quadro clínico de Elivânio, a família cogitou até mesmo a possibilidade de perder o garoto.
“Foram dias difíceis que passamos com ele no semi-intensivo e quando ele entrou em coma, chegamos a pensar que ele poderia até morrer, mas não perdemos a nossa fé que tudo daria certo. O Elivânio é um verdadeiro milagre de Deus”, contou, emocionado, Expedito Vital.
A família reconhece que o trabalho e a dedicação dos profissionais médicos e de enfermagem do hospital foram fundamentais para a recuperação do jovem rapaz.
“Nós só temos o que agradecer a todos os médicos e enfermeiros que cuidaram do meu filho nesses dois anos e meio porque eles foram verdadeiros anjos na vida do meu filho”, relatou a mãe de Elivânio.
A emocionante saída do hospital
O dia 18 de fevereiro de 2019 vai ficar marcado para sempre na vida de Elivânio e de sua família. A data representa um recomeço, agora em casa, nesta nova etapa da vida do jovem de 20 anos de idade.
No leito 169, o que se via eram malas e caixas arrumadas por todo lado. Todos estavam ansiosos pelo tão esperado dia de deixar o hospital. A alegria estava estampada no rosto de Elivânio.
Fanático torcedor do Flamengo, Elivânio quis deixar uma marca no local onde viveu nos últimos dois anos e meio. Em uma das paredes do quarto, pediu para que o pai pregasse um adesivo com o brasão do clube carioca. A solicitação foi prontamente atendida.
O momento da despedida foi tomado pela emoção. Médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e pessoal de apoio que cuidaram de Elivânio não conseguiram segurar as lágrimas.
“A proximidade e o convívio durante estes anos nos fez tornar amigos do Elivânio e de sua família. Por um lado, ficamos triste porque ele vai nos deixar, mas por outro, estamos felizes porque ele vai pra casa dele ficar junto dos pais e dos irmãos”, declarou a enfermeira Alesta Costa.
Seu Expedito, pai de Elivânio, chorou ao lembrar de tudo que passou com o filho e fez questão de agradecer a atenção dada ao jovem. “Apesar da situação da doença, meu filho está saindo daqui com vida. Quero agradecer a vocês por tudo que fizeram pelo Elivânio”, reconheceu.
“Se fosse preciso passar mais dois anos e meio com meu filho aqui, eu passaria porque amor de mãe não tem explicação, mas graças a Deus, conseguimos nossa casa e os aparelhos que ele precisa”, enfatizou Maria Edilene.
Saúde garante atendimento domiciliar
Por meio dos programas “Home Care”, da Fundação Hospitalar e “Melhor em Casa”, do Samu, Elivânio vai receber o atendimento que necessita e com a qualidade que ele merece. Uma vez por semana, o jovem será acompanhado por uma equipe de profissionais dedicada e qualificada.
São enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais e fisioterapeutas comprometidos com o bem-estar e qualidade de vida do paciente e da própria família.
O fisioterapeuta Eduardo Gonçalves será um dos profissionais responsáveis pelo atendimento domiciliar a Elivânio. Segundo ele, esta atenção dada para o jovem fora do ambiente hospitalar será fundamental para o seu desenvolvimento.
“O ambiente hospitalar é necessário em uma determinada fase em que o paciente se encontra e no caso do Elivânio, que possui uma doença crônica, é recomendável que o paciente volte para casa porque o ambiente familiar, o lar onde ele mora e o local onde ele dorme é totalmente diferente do ambiente hospitalar. Em casa, o paciente se sente melhor com a família sempre presente, diferente do hospital”, explicou.
Além de Elivânio, outros quatro pacientes em Rio Branco e um no município de Senador Guiomard possuem o ventilador mecânico no próprio domicílio e recebem a visita das equipes.
Por conta da doença degenerativa, o jovem garoto não consegue comer a maioria dos alimentos. O processo é feito por gastrostomia, onde o paciente é alimentado diretamente no estômago. Por dia, Elivânio precisa se alimentar cinco vezes.
Os nutrientes que o jovem necessita tem um custo elevado. Por isso, a Fundação Hospitar já assegurou que a alimentação especial será fornecida sem nenhum tipo de custo para Elivânio.
Mais pacientes serão beneficiados
A nova administração da Fundação Hospitalar identificou outros dois pacientes que estão internados há mais um ano em leitos da unidade. Com esforço e empenho, a gestão já adquiriu os equipamentos para que eles também sejam beneficiados.
A gerente de enfermagem da Fundhacre, Alesta Costa, explica que o principal objetivo, a partir de agora, é garantir a estrutura necessária nas residências dos pacientes.
“A nossa luta continua porque ainda temos mais pacientes nesta mesma situação do Elivânio. Já temos os respiradores, mas ainda falta adequar as casas para a instalação do equipamento. Para nós, profissionais da Saúde, é um prazer ver um paciente ir para casa”, afirmou.
No caso de Elivânio, o esforço foi ainda maior. Para que a saída do jovem fosse realizada da Fundhacre, a família foi contemplada com a doação de uma casa popular no Conjunto Habitacional Andirá, no bairro Xavier Maia, em Rio Branco.
“Se não fosse a dedicação desses profissionais, o Elivânio ainda estaria internado. Quando soubemos que iríamos ganhar nossa casa, minha esperança de sair com meu filho daqui voltou e, hoje, estou muito feliz. Eu quero que outras famílias também consigam e sintam essa mesma alegria”, disse Maria Edilene.
Nova gestão garante melhorias na Fundação Hospitalar
O usuário que precisa dos serviços da Fundação Hospitar tem percebido diversas melhorias que vão desde a estrutura do Complexo Hospitalar ao atendimento prestado pelos servidores do maior hospital do Estado do Acre.
A nova gestão já foi responsável por organizar o hall do hospital, descongestionando a entrada da grande quantidade de ambulantes que em alguns momentos chegavam até mesmo a atrapalhar a locomoção de pacientes com limitações. Além disso, novas recepcionistas foram contratadas para garantir informações aos usuários dos serviços.
Entre outras melhorias, o Serviço de Atendimento Médico Especializado (Same), ganhou novas cadeiras para acomodação do grande número de pacientes que passam diariamente pelo setor de consultas e a ouvidoria da Fundação foi reativada, voltando a servir como intermediária entre o cidadão para ouvi-lo e garantir um serviço ético.
A cozinha da Fundhacre também foi organizada para funcionar em sua totalidade, com refeições completas para pacientes, acompanhantes e funcionários. Só em janeiro, foram servidas 49 mil refeições, seguidas de acompanhamento nutricional e dietético.
E em parceria com o Deracre, que cedeu uma retroescavadeira, as equipes de serviço geral realizaram um serviço de limpeza do igarapé ao lado da unidade, retirando toneladas de entulhos e equipamentos inutilizáveis que foram acumulados ao longo dos anos. A operação também é responsável por eliminar focos de mosquitos da dengue no espaço.
Para o presidente da Fundação, o médico Lúcio Brasil, a Saúde do Acre vive um novo momento da sua história. O novo gestor está focado em melhorar ainda mais os serviços já oferecidos, assim como a ampliação das especialidades médicas.
“Em breve, vou a Brasília apresentar os projetos que gostaríamos de executar na Fundação ao Ministério da Saúde e também pedir o empenho da nossa bancada federal para destinar emendas que fortaleçam ainda mais a Fundhacre. Como gestor, gestor, quero deixar bem claro que nosso foco é o paciente em primeiro lugar e estamos trabalhando para que isso aconteça”, ressaltou.