São mais de mil equipamentos e mais de dois mil homens que trabalham ao longo da rodovia
Alguns momentos, muitas vezes, marcam grandes obras ou grandes eventos e traduzem melhor que as palavras a importância que elas têm para um povo ou para uma comunidade. Na sexta-feira, 3, uma quebra de protocolo durante a solenidade de reabertura da BR-364 e liberação da ponte de Cruzeiro do Sul para o tráfego provou isso e emocionou quem estava presente ao local.
Centenas de pessoas, moradoras dos bairros Miritizal e Lagoa, romperam o cordão de isolamento que impedia o tráfego na ponte e seguiram rumo ao centro de Cruzeiro do Sul. Ao serem avistadas do outro lado da ponte, outras centenas de pessoas seguiram ao seu encontro, formando uma bela imagem onde as duas multidões caminhavam para um encontro emblemático no centro da ponte. Parecia algo de cinema, quando uma fronteira se rompe e dois povos amigos se encontram e confraternizam.
Embora não houvesse uma fronteira formal entre os moradores do Miritizal e Lagoa, havia, sim, uma barreira física e natural, o rio Juruá. A barreira dificultou, por todos esses anos, o acesso aos serviços básicos e essenciais a todas aquelas famílias que, embora a poucas centenas de metros do centro de Cruzeiro do Sul, se encontravam isoladas e cerceadas de sua cidadania.
“Isso aqui é a redenção”, bradava a senhora Maria da Silva Gonçalves, 59 anos, casada, mãe de sete filhos. Ela gesticulava com as mãos para o alto, como se agradecesse a Deus por uma graça alcançada. “Só quem sabe o que essa ponte significa para a gente é quem viveu o que nós passamos”, argumentou a senhora. Ela é moradora do bairro Miritizal e contou que lá ninguém podia adoecer, pois não tinha como as ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ir socorrer. “Se adoecer e for grave, a gente colocava numa rede e atravessava o rio atrás de socorro”, relata a mulher. Também não havia policiamento ostensivo por lá, pois os carros da polícia só podiam chegar ao Miritizal e Lagoa se atravessassem o rio em balsas.
A chefe do Samu na cidade, Maísa Barros, disse que havia sempre uma grande dificuldade para o resgate de pacientes. “A ponte agora vai nos ajudar bastante e tenho certeza que a população vai ficar muito gratificada com isso”, disse.
Como dona Maria outras dezenas e centenas de pessoas também agradeciam pela obra que ligou um lado ao outro do rio e transformou tudo em uma cidade única. Agradeciam, mas também cobravam, pediam que as autoridades públicas tivessem um olhar mais carinhoso para aquela gente ribeirinha sofrida. Ao atravessar a ponte, elas carregavam faixas e cartazes produzidos artesanalmente onde agradeciam as autoridades pela ponte, mas cobravam, principalmente, saúde e segurança.
A resposta do governo, naquele momento, também foi simbólica e representou o compromisso firmado pelo vice-governador César Messias, que representou o governador Tião Viana no ato, de prover os instrumentos que garantam a melhoria da qualidade de vida da população do Juruá. O simbolismo estava nos primeiros veículos a cruzar a ponte: uma ambulância do Samu, uma viatura da Polícia Civil e outra do Corpo de Bombeiros.
O povo diz que agora está unido, afirma César Messias
O vice-governador César Messias disse ter ficado emocionado com a primeira travessia dos moradores do Miritizal e Lagoa e o encontro com os moradores dos demais bairros da cidade. “Essa imagem que eu presenciei agora, quando acontece o encontro do Miritizal com a cidade de Cruzeiro do Sul. O povo do Miritizal vindo para cá e o povo de Cruzeiro indo pra lá, se abraçando, dando as mãos e dizendo: nós agora estamos unidos através da ponte sobre o nosso querido rio Juruá”, relatou Messias. Ele garante que aquele foi um momento sonhado não apenas por ele e por todos os cidadãos da região e ainda por seus antepassados que sempre sonharam com essa integração.
César Messias disse que manteve reunião com os moradores do Miritizal discutindo as ações de governo que deverão acontecer naquela localidade a partir de agora. Uma delas deve levar água tratada para as residências do Miritizal e Lagoa. O governo pretende construir uma adutora que seguirá através da ponte e distribuirá água nas torneiras das diversas famílias daqueles bairros. “O lençol freático daquele lá do rio não produz água de boa qualidade, por isso teremos que levar água daqui pra lá”, explicou Messias.
Uma das maiores e mais modernas pontes do País
A ponte que cruza o rio Juruá não foi inaugurada no ato desta sexta-feira. Ela ainda não foi concluída. Falta pouco, mas já é possível trafegar por ela. Por isso, o governador Tião Viana autorizou que o tráfego de veículos e pessoas pudessem ser feito em uma das pistas da ponte, enquanto as empresas que a constroem trabalham em outro lado, aproveitando a reabertura da rodovia BR-364, que também aconteceu nesta sexta-feira.
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A ponte deve ser inaugurada em agosto. Ela é uma das maiores e mais modernas do País. Tem um cumprimento total de 550 metros e é suspensa por uma única pilastra central que mede 56 metros de altura e por 22 estais, que são cabos de aço fixados do alto da pilastra central para a base da ponte em concreto. Os estais dão um visual diferenciado à ponte que parece se flutuar por sobre o rio. A obra tem ainda uma característica especial. Ela foi construída para resistir a terremotos, haja vista que a região do Vale do Juruá é uma das mais propícias no Brasil a esse tipo de evento geológico.
A obra foi realizada pelo consórcio Alto Juruá, que reúne as construtoras Cidade e Camter. A sua construção durou dois anos. A obra iniciou em julho de 2009 e deve ser inaugurada em agosto próximo.
“A obra teve início com a assinatura da ordem de serviço em ato solene pelo presidente Lula e pelo então governador Binho Marques. Em agosto, nós montamos o canteiro de obras e de lá para cá não paramos um minuto”, contou o diretor-presidente do Departamento de Estradas de Rodagens, Hidrovias e Infraestrutura Aeroportuária (Deracre), Marcus Alexandre.
Alexandre falou sobre a grandiosidade da obra e citou alguns números importantes. De acordo com ele, foram mais de 70 mil sacos de cimento, a maioria oriunda de Manaus e chegou à cidade de balsa pelo rio Juruá. A pedra brita veio das pedreiras do rio Abunã, em Rondônia. Para chegar à cidade, ela fez parte do trajeto de caminhão e a outra parte de balsa. Desde a saída do Abunã até a chegada em Cruzeiro do Sul, cada carregamento de pedra levava mais de 60 dias de viagem. Foram ao todo 18 mil toneladas de concreto e quatro mil toneladas de aço. O aço veio de São Paulo e do Rio Grande do Sul. No período de chuva onde não era possível o tráfego pela BR-364, o aço teve que vir, também, parte pela estrada e parte por balsa. Cerca de 900 pessoas trabalharam na obra, direta e indiretamente.
“Se a gente contar a história toda da obra, será difícil para pessoas de outras regiões compreender e podem até chamar a gente de doido”, disse o diretor. “Toda a tecnologia que a gente dispõe hoje no País, toda a tecnologia que a gente utilizou nas demais pontes do Acre, somadas, estão colocadas na ponte do Juruá”, garantiu Marcos Alexandre.
BR-364 é reaberta pelo 13º ano consecutivo e agora, em definitivo
Tão importante quanto a liberação da ponte sobre o rio Juruá foi a reabertura da rodovia BR-364 que aconteceu no mesmo ato. Esse foi o décimo terceiro ano consecutivo que isso acontece. Antes de 1999, as populações da região do Juruá passavam anos seguidos sem ter qualquer contato terrestre com o restante do Estado. Marcus Alexandre disse que este é o ano que a estrada é liberada mais cedo. No ano passado ela foi aberta em 15 de junho. Em 2009 ela foi aberta em 11 de julho e este ano em 3 de junho.
As obras da BR estão sendo desenvolvidas através de 20 lotes, que vão desde Sena Madureira até Cruzeiro do Sul. São três frentes de serviço. A primeira frente atua nas obras no trecho Sena/Feijó. “Nesse trecho nós temos em obra entre Manuel Urbano e Feijó, que são 75 quilômetros e temos também 7,5 quilômetros próximos a Manuel Urbano. A outra frente de serviço se refere às pontes. Ali estão sendo realizados o acabamento das pontes do Purus, que já está com trânsito livre, a ponte do Envira, que terá o trânsito liberado no mês de outubro, a ponte de Tarauacá que vamos liberar o trânsito agora em junho e a ponte do Juruá, que estamos liberando o trânsito provisoriamente agora. A terceira frente de serviço atua na restauração de alguns segmentos entre Tarauacá e Cruzeiro do Sul, que nós concluímos todos no mês de setembro”,
São mais de mil equipamentos e mais de dois mil homens que trabalham ao longo da rodovia.
{xtypo_quote}A BR-364 é muito importante para todos nós acreanos. Ela tira a população do isolamento, população essa que vive sofrendo com os altos custos de produtos básicos, como verduras, feijão e outros. Por isso só temos a agradecer a Deus e ao governo do Estado por tê-la aberta mais uma vez e, desta vez, em caráter definitivo.
Jonas Lima (PT), deputado estadual.{/xtypo_quote}
{xtypo_quote}Hoje é um momento importante, um momento histórico aqui para o Juruá. Isso se deve a todo esse esforço que foi feito pela Frente Popular e pelo governo do PT para fazer essa integração de Cruzeiro do Sul com o resto do País. Por isso, nós cruzeirenses só temos a comemorar e parabenizar os governos que contribuíram com essa obra como os ex-governadores Jorge Viana e Binho Marques e agora o nosso governador Tião Viana por estar entregando uma obra de fundamental importância para a nossa região.
Taumaturgo Lima, deputado federal.{/xtypo_quote}
O secretario de Indústria, Comércio, Ciência e Tecnologia, Edvaldo Magalhães, lembrou que a BR-364 tem em sua construção o trabalho daqueles que têm muita fé, “porque primeiro acreditaram para poder ver o resultado. Não é fácil acreditar porque você tem que lutar contra a corrente daqueles que torcem contra, daqueles que dizem ‘ah! Isso não vai acontecer’”. Magalhães garantiu que o povo do Juruá acreditou e que, por isso está recebendo uma obra grandiosa e de fundamental importância para a região.
César Messias vistoria as obras da BR-364
Logo após a solenidade de liberação da ponte sobre o rio Juruá e de reabertura da BR-364, o vice-governador César Messias retornou a Rio Branco. Ele fez o trajeto de carro e aproveitou para vistoriar as obras que estão sendo realizadas ao longo da rodovia.
Messias estava acompanhado de Marcus Alexandre, do engenheiro Fernando Moutinho e de assessores. Ele parou nos canteiros de obra, conversou com empreiteiros e operários, viu o trabalho de terraplanagem e de preparo das pistas para a aplicação de massa asfáltica. Viu ainda o trabalho de recuperação de alguns pontos que já estão deteriorados, seja pela ação das fortes chuvas que caem na região durante cerca de oito meses por ano, seja pelo mau uso da rodovia. “O que observamos é que a pista está sendo deteriorada muito rápido devido ao excesso de peso. Por isso, o Deracre instalou balanças em diversos pontos da estrada para evitar que caminhões e caçamba trafeguem com carga acima do peso permitido”, disse o vice-governador.
“Pelo que vi, se o verão nos ajudar, nós temos tudo para dar tráfego nessa BR durante o ano todo a partir de agora. Vamos torcer para que o tempo nos ajude, pois as empresas estão empenhadas e o governador Tião Viana já garantiu a parte financeira em Brasília. Agora é pedir a Deus que nos ajude com o verão”, afirmou César Messias.
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