Secretaria e entidades parceiras começam a incentivar a comunidade a criar projetos que a torne independente
A Secretaria Extraordinária de Pequenos Negócios iniciou, com a participação de pelo menos 170 pessoas, na segunda-feira à noite, na Escola Clarisse Fecury, no bairro Santa Inês, uma série de cursos sobre empreendedorismo. Ministrado pela socióloga e palestrante Fabiana Ponte de Souza, do Sebrae-AC, o curso deve se estender a outros bairros da capital e municípios do interior, para buscar meios de fazer com que pessoas sem emprego e renda própria, entre os quais aquelas que dependem de programas sociais do governo como o Bolsa Família, possam encontrar meios de tocar a vida sem precisar de ajuda assistencialista.
“A ideia é repassar informações básicas sobre empreendedorismo e incentivar os participantes na identificação e na busca do comportamento empreendedor, buscar meios para que elas possam ter seu próprio negócio”, disse a palestrante Fabiana Ponte. Na palestra, ela chega a citar os empresários Sílvio Santos e Samuel Klein – este último dono das Casas Bahia – como exemplo de empreendedores que deram certo pela persistência e pela dedicação a seus negócios.
“Temos que levar as pessoas a pensar sobre os negócios existentes no seu bairro e sobre aqueles que podem ser criados. Buscamos fazer com que aquelas pessoas que já participam do mercado informal, com a venda de produtos como salgados, com a costura de confecção e outras atividades, possam não só se manter, como também se regularizarem de forma a garantirem uma série de benefícios e direitos”, acrescentou.
“O outro objetivo é incentivar aquelas pessoas que dependem dos programas sociais do governo a se interessarem por uma atividade e assim possam, aos poucos, abrir mão dessa dependência”, disse o secretário Extraordinário de Pequenos Negócios, José Carlos dos Reis. “Essa é a orientação do governador Tião Viana, uma ideia que ele já manifestava na campanha eleitoral e para a qual estamos buscando todos os meios de cumprir a meta dentro do menor espaço de tempo possível.”
O secretário José Carlos dos Reis revelou também que, inicialmente, sua secretaria dispõe de R$ 2 milhões para investimentos, recursos liberados pelo governador Tião Viana para a primeira etapa de funcionamento dos programas que ele quer ver implantados no Estado.
Na primeira etapa, tendo o bairro Santa Inês como piloto, a secretaria vai investir, dentro de 120 dias, R$ 120 mil em pequenos negócios. “A ideia é investir a média de R$ 1 mil por em cada negócio”, disse o diretor de negócios da secretaria, Romulo Brando. Depois disso, a secretaria e as instituições parceiras continuarão acompanhando o pequeno negócio por um prazo de até dois anos. “O que havia antes é que as pessoas recebiam treinamento, se habilitavam e até abriam seus negócios. Mas, por falta de acompanhamento, acabavam ficando no meio do caminho, desistindo, fechando ou mesmo indo à falência”, disse Reis.
“A orientação do governador é para que, uma vez financiado, aquele parceiro que investiu num pequeno negócio não seja jamais abandonado e que ele possa ter acompanhamento em todas as etapas de sua atividade até poder tocar suas atividades sem precisar mais de ajuda do governo ou de outras instituições. Os recursos para financiar esses pequenos negócios serão liberados sem contrapartida. Na verdade, a contrapartida das pessoas é acreditar nelas próprias, acreditar que elas são capazes”, acrescentou.
Além do Sebrae, apoiam o programa o Serviço Social da Indústria (Sesi), o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), o Serviço Nacional da Indústria (Senai) e o Serviço de Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). “Nosso objetivo é colocar todo o sistema ‘S’ dentro desse programa, numa parceria em que, certamente, todos, principalmente as pessoas mais pobres, vão sair ganhando”, disse Reis.
O curso iniciado ontem tem quatro etapas. Nas etapas seguintes, os técnicos das instituições parceiras e da própria Secretaria de Pequenos Negócios já terão os perfis das pessoas interessadas em montar seus negócios e em que áreas devem atuar. A partir da escolha, a etapa seguinte é a montagem do negócio propriamente dito, com a obtenção dos recursos necessários. O encontro na escola Clarisse Fecury reuniu moradores dos bairros que compreendem a Regional 7 da capital, na qual estão inseridos os bairros Santa Inês, Recanto dos Buritis, Areial e Comara.
As pessoas reunidas na noite de segunda-feira devem voltar a se encontrar com os técnicos envolvidos com o programa nos dias 19, 21, 26 e 28 deste mês. Enquanto isso, um novo curso começa a ser preparado para ser ministrado, nos dias 20 e 27 próximos, na Creche Vida Nova, no bairro Jorge Lavocat.
“O que eu quero é encontrar um caminho novo”, diz desempregada
Entre os participantes da primeira etapa do curso sobre o empreendedorismo estavam pessoas como, por exemplo, a dona de casa Maria Auxiliadora de Oliveira, 44, conhecida como “Santinha”, moradora do bairro Recanto dos Buritis. Mãe de três filhos, ela se viu obrigada a entregar os dois mais velhos para serem criados pela avó porque sua renda, como revendedora de produtos cosméticos, não é suficiente para sustentar toda a família, principalmente porque o marido está preso na colônia penal acusado de homicídio.
“É difícil enfrentar toda essa barra”, contou ela, que fatura uma média de R$ 300 a 400 por mês. “Minha esperança é de que, aqui, eu possa encontrar meios de criar um negócio que me permita sair do sufoco em que vivo. Eu preciso de um caminho novo.”
Ao lado da mulher, Natália Silva de França, 42, José Ribamar Vieira da Silva, 34, que mora no ramal da Judia, no bairro Seis de Agosto, também foi ao curso de empreendorismo em busca de novas perspectivas. Ele ganha uma média de R$ 1 mil por mês limpando quintas, com uma roçadeira. “O problema é que estou vendo minha roçadeira em dias de pifar e não tenho dinheiro para comprar outra. O que ganho não dá para guardar nem fazer investimentos”, disse. “Na verdade, o que eu quero aqui é buscar meios para que eu possa montar uma oficina de conserto de bicicletas na minha casa. Eu sei consertar e sei que isso está dando mais dinheiro do que limpar quintal.”
A mulher de José Ribamar também espera uma oportunidade para dar continuidade à atividade de pintura em pano, bordados e outras artes. “Eu sei que, se tivermos ajuda, vamos longe”, afirmou.
Em situação mais ou menos tranquila está Eliésio Souza de Lima, 32, morador da rua Princesinha, 341, no bairro Santa Inês. Casado e pai de dois filhos, ele sempre trabalhou de empregado, como soldador, mas há um ano resolveu mudar de vida: pediu demissão do emprego e montou sua própria microempresa, a Acre Soldas. Ali ele produz grades, escadas metálicas e outros tipos de soldas e chegou a faturar, no mês passado, R$ 4 mil, já oferecendo dois empregos a ajudantes. “Eu preciso de financiamento para comprar mais máquinas e poder dar conta dos serviços que estão me encomendando.”
A experiência de quem faz da solidariedade missão de vida
A ideia do governador Tião Viana de buscar meios para fazer com que pessoas anteriormente assistidas por programas sociais do governo encontrem meios para garantir a sobrevivência e melhorar de vida tem o apoio de quem se dedica a ajudar o próximo como missão de vida. Servas da Ordem de Maria Reparadora, as Irmãs Augusta de Oliveira e Teresa Sierro, que dirigem o programa social Novarese, financiado com recursos do organismo italiano que dá nome ao projeto, elogiaram a iniciativa da Secretaria Extraordinária de Pequenos Negócios.
“Estou muito feliz com o que vi aqui. As pessoas participando, discutindo sua própria atuação num programa do governo me parece ser uma medida muito acertada do governador Tião Viana e dos seus assessores”, disse a religiosa.
O programa dirigido por Irmã Augusta de Oliveira e a italiana Teresa Sierro assiste crianças de dois a quatro anos, jovens e adolescentes do bairro Areial. As crianças, num total de mais de 100, tem assistência da creche das 7 da manhã às 4 horas da tarde. Os adolescentes também tem acompanhamento na área da educação. “Esse é um caminho muito interessante para a verdadeira solidariedade. Criar mecanismo para que as pessoas possam viver sem o assistencialismo do governo”, disse Irmã Teresa Sierro. “Nós queremos também que o governo de Tião Viana seja nosso parceiro em projetos dessa natureza”, afirmou Irmã Augusta.