O Rio Acre está apresentando uma tendência de rebaixamento contínuo, revelando um comportamento atípico em relação aos 40 anos de medições já efetuadas. Contrariando a série histórica que apresenta um nível em torno dos 9,6 metros durante o mês de abril, as medições caíram de 13 para 3,89 metros ao final do mês, antecipando uma situação emergencial que se concretiza somente em junho, quando a estiagem é mais severa. Outro fato importante é que choveu 60% a menos: a média é de 186 mm, e só contamos 74 mm em abril.
Para poder avaliar a situação e tomar as medidas cabíveis, foi realizada uma Sala de Situação para a seca no Rio Acre, congregando órgãos e instituições ligadas ao meio ambiente, Defesa Civil e Corpo de Bombeiros. Participaram da reunião o secretário de Articulação Institucional, José Rêgo; o secretário de Estado de Meio Ambiente (Sema), Edegard de Deus; o presidente do Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac) Fernando Lima; diretor-presidente do Departamento Estadual de Pavimentação e Saneamento (DEPASA – Rio Branco), Felismar Mesquita, o comandante-geral do Corpo de Bombeiros Militar do Acre, Cel. Flávio Ferreira Pires; o coordenador da Defesa Civil municipal, Cap. Geroge Santos, além de corpo técnico.
Segundo Vera Reis, assessora técnica da Sema, embora os dados disponibilizados pela Comissão apontem a ocorrência de chuvas ainda neste mês, a probabilidade de um rebaixamento ainda maior no leito do rio não está descartada, levando em conta toda a extensão do período seco. “Nós ainda não temos dados suficientes para realizar uma previsão segura, embora saibamos que o rio baixará mais nos próximos meses e que a estiagem será severa”, avalia.
Ela também informou que a Comissão está elaborando e também executando diversas ações em resposta ao período crítico que se avizinha. “Como alternativa, em curto prazo, teremos que colocar bombas flutuantes de captação de água em pontos estratégicos do rio; em médio prazo, precisamos acelerar o processo de captação de águas subterrâneas, nos locais onde isso é viável, segundo as indicações do Serviço Geológico do Brasil e, finalmente, como medida de longo prazo, é preciso realizar um estudo de pré-viabilidade e riscos para propor a regularização de vazão do rio”.
A regularização de vazão de um rio é uma forma de controlar o volume de água disponível no mesmo, tanto no período seco como na época das enchentes. Pode ser feito através de diversas alternativas, sendo que a mais lógica e menos impactante tem sido a construção de canais artificiais com comportas, que seriam abertas, no caso de necessidade de maior vazão, ou fechadas, visando o armazenamento nos períodos secos.
Para o diretor-presidente do Depasa Rio Branco, Felismar Mesquita, o governo está preparado para as situações emergenciais. Segundo ele o governo tem um plano anual estabelecido para cuidar do abastecimento de água quando o rio apresenta baixas cotas. “Neste ano, foi necessário antecipar as previsões que nós tínhamos para julho, mas estamos aplicando recursos, junto ao Ministério das Cidades, para captação de águas subterrâneas no Segundo Distrito, num total de R$21 milhões que irão nos ajudar em relação à falta de mananciais”. Além disso, estão sendo captando recursos junto ao Ministério da Integração Nacional para modificar a captação de águas superficiais, que serão realizadas através de bombas flutuantes. O passo seguinte, para uma resolução mais definitiva, provavelmente será a construção canais para o controle de vazão do rio, o que será útil tanto para o período de estiagem como o de cheias.
Graças a diversas medidas que vêm sendo tomadas pelo governo, hoje o Acre pode contar com dados suficientes para avaliar as situações emergenciais ligadas a eventos climáticos extremos, projetando alternativas viáveis para enfrentar crises relacionadas ao abastecimento de água, ocorrência de enchentes, ou mesmo incêndios de larga proporção.
Segundo o secretário de Meio Ambiente Edegard de Deus, neste sentido merecem destaque a criação da Comissão Estadual de Gestão de Riscos Ambientais (CEGDrA), que congrega ações e estudos de diversas instituições; a instalação de estações telemétricas, onde o nível dos rios e as condições do clima são medidas e avaliadas e, finalmente, a inauguração da Unidade de Situação, central que unifica e avalia os dados recolhidos tanto pelas estações telemétricas como por satélites meteorológicos. “Este conjunto de medidas possibilita a base de dados mais confiável que o estado já obteve, munindo o governo com as informações necessárias para a tomada de decisões cabíveis em caso de eventos naturais críticos”, avalia.
Para o secretário de Articulação Institucional, José Rêgo: “hoje tivemos uma reunião na Sala de Situação do Governo e os técnicos revelaram que nós temos a menor cota do rio Acre já registrada nos últimos 40 anos. Isso preocupa, uma vez que há a necessidade de garantir o abastecimento regular da cidade ao longo deste período de estiagem. O governo, entretanto, está agindo de forma que, no momento, não vislumbramos a possibilidade de racionamento, uma vez que estamos preparados para a situação, ainda que o rio esteja com suas cotas muito baixas” conclui.
Os membros da Sala de Situação sobre a seca do Rio Acre se reunirão no próximo dia 09 de maio para reavaliar a situação e conferir se há necessidade de sugerir a publicação de um Decreto de Emergência no estado.