Processo de extração de látex traz grandes vantagens e tem mercado garantido
Beneficiar a borracha dentro da floresta, garantindo a permanência do seringueiro e melhor oportunidade de renda, através de um processo de extração de látex menos trabalhoso e sem a fumaça que prejudicava a saúde. Essa é a proposta da Folha de Defumação Líquida (FDL), método desenvolvido pela equipe do professor Floriano Pastore, da Universidade de Brasília (UnB).
O processo está sendo ensinado a seringueiros de Tarauacá, Feijó, Sena Madureira, Marechal Thaumaturgo e do Projeto de Desenvolvimento Bonal. O curso, com orientadores da UnB, é dado através da Secretaria de Estado de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof).
Em Assis Brasil, comunidades da Reserva Chico Mendes, que já trabalham com o processo há alguns anos, vendem toda a produção para a Veja, uma indústria de calçados européia que fabrica solas de sapato e produz tênis com materiais totalmente orgânicos. O contrato com a Veja será renovado esta semana e ela pretende comprar toda a produção de FDL do Estado.
"O processo utiliza uma quantidade de água bem menor. A borracha não passa pela etapa de apodrecimento, não acumula resíduos como folhas e insetos, não tem mal cheiro nem precisa ser defumada. Além disso, a renda pode ser até três vezes maior", disse Marcelo Soares, químico da UnB.
Outra vantagem da FDL é que a borracha sai da floresta beneficiada, pura, concentrada e com qualidade bem superior ao GEB, material obtido a partir do cernambi. Em todo o Acre, 260 famílias serão beneficiadas com os cursos. As próximas etapas acontecem no Antimary, em Sena Madureira, e em Marechal Thaumaturgo.
O novo processo agradou a seringueira Maria Bezerra, 43, nascida no Seringal Cachoeira e assentada na Bonal há dois anos: "Tem muitas vantagens e a primeira é ter um cheiro menor que o outro processo e não ter toda aquela fumaça, que fazia mal pra gente. Além disso, tem menos etapas. Dá para trabalhar menos e ganhar mais".
Uma das preocupações da equipe da UNB ao desenvolver o processo era contribuir para a continuidade da cultura do seringueiro, estimulando-o a permanecer na floresta, extraindo látex. O jovem Aragoneis Pereira de Souza, de 15 anos, é a prova de que a cultura será mantida. "Esse é o nosso futuro. É um processo mais fácil, não tem cheiro desagradável, a borracha fica fácil de carregar. Quero aprender cada vez mais para trabalhar bem com isso".
O técnico da Seaprof, Jorge Garcia, destaca que o novo modo de produção é uma opção de renda para os seringueiros. "O FDL é um produto com mercado garantido. A Veja compra toda a produção que o Acre produzir".