Fotógrafo Sebastião Salgado torna-se doutor Honoris Causa pela Ufac

O teatro da Universidade Federal do Acre (Ufac) ficou completamente tomado na noite desta quinta-feira, 23, para prestigiar a outorga do título de doutor Honoris Causa da instituição federal ao renomado fotógrafo Sebastião Salgado.

O reitor da Universidade, Minoru Kinpara, lembrou que o título só é entregue a grandes personalidades que tiveram significativa contribuição social a causas científicas, das letras, artísticas, sociais ou da paz.

Sebastião Salgado foi a sexta personalidade a receber o título de Honoris Causa pela Universidade Federal do Acre (Foto: Sérgio Vale/Secom)
Sebastião Salgado foi a sexta personalidade a receber o título de Honoris Causa pela Universidade Federal do Acre (Foto: Sérgio Vale/Secom)

Para a Ufac, Sebastião Salgado conseguiu realizar uma ação política e social com sua obra, transmitindo, por meio dela, dramas modernos em nível planetário.

“Foram tantos trabalhos impressionantes que fica até difícil selecionarmos algumas coisas. A indicação de Sebastião Salgado ao título de doutor Honoris Causa foi feita por mim, com muita honraria, na posição de reitor desta universidade, e foi abraçada inteiramente, completamente, pelo Conselho Universitário”, ressalta.

Apenas outros cinco títulos Honoris Causa foram entregues pela Ufac durante todo seu tempo de atuação, entre eles um póstumo ao líder seringueiro e ambientalista Chico Mendes.

O governador Tião Viana, grande apreciador do trabalho de Sebastião Salgado, também esteve na solenidade, e destacou: “Às vezes podemos olhar para uma pessoa e saber que ela é a mensageira de um mundo melhor, que luta por um mundo melhor. E isso, para mim, é o significado de Sebastião Salgado perante o que conheço e o que ouço repercutir de sua obra. Por isso, hoje, reconhecemos este cidadão do mundo”.

(Foto: Sérgio Vale/Secom)
(Foto: Sérgio Vale/Secom)

Uma história de vida

Embora tenha começado dizendo não ser um conferencista, Sebastião Salgado deu aos presentes uma palestra intitulada Uma história de vida. Por quase uma hora e meia, ele falou sobre sua incrível trajetória profissional e pessoal, sobre como se encontrou com a fotografia social, deixou de acreditar na humanidade e, após um período de autoconhecimento, passou a acreditar no planeta.

“É um prazer estar aqui hoje com vocês, principalmente com este grande grupo de jovens, alunos desta universidade. E hoje, eu vejo na minha vida de fotógrafo que talvez o que mais contribuiu para que eu tivesse uma compreensão dos fenômenos que eu pude me dedicar foi a base que recebi na universidade”, conta.

O fotógrafo, que já recebeu mais de 90 prêmios e honrarias pelo mundo, destacou como cada um de seus trabalhos deu origem ao seguinte.

Como a obra Trabalhadoresna qual documentou o trabalho manual e as árduas condições de vida dos operários em várias regiões do mundo.

Em seguida, ele voltou a atenção para o fenômeno global de desalojamento em massa de pessoas, que resultou em “Êxodos” e “Retratos de Crianças do Êxodo”, publicados em 2000 e aclamados internacionalmente.

O Projeto Êxodos foi realizado ao longo de seis anos, em viagens por quarenta países (Foto: Sebastião Salgado)
O Projeto Êxodos foi realizado ao longo de seis anos, em viagens por quarenta países (Foto: Sebastião Salgado)

A obra, porém, mudaria sua vida. “Na África, eu vi coisas horríveis que o ser humano é capaz de fazer. Eram 20 mil mortos por dia. Eram tantos mortos,m que você não podia mais enterrar as pessoas individualmente – vinha um grande trator, abria um enorme buraco e eram pilhas de pessoas.”

Salgado precisou abandonar a fotografia um tempo para se recuperar, e acabou se dedicando a outro projeto, o de reflorestar a área deixada por seus pais no Brasil, o que lhe deu forças para uma nova jornada que resultou na exposição fotográfica mais vista do mundo: “Gênesis, um retrato de regiões intocadas”. Segundo o fotógrafo, “45% do planeta ainda está como no dia do gênesis”.

Atualmente, Sebastião Salgado produz uma nova obra. Ainda sem data de lançamento, ele tem viajado o país para retratar os povos indígenas.

No Acre, passou 20 dias com o povo Ashaninka e, recentemente, mais 20 dias com o povo Yawanawa. Como presente ao público, demonstrou uma prévia desse trabalho em 150 fotos.

Sobre a fotografia, Sebastião Salgado acrescenta: “A gente tem que se situar na nossa sociedade. A fotografia tem que ter um sentido. Nós só podemos realizar as fotografias sociais, as fotografias humanas, se a gente não tiver uma capacidade de se colocar dentro do movimento histórico que nós vivemos”.

“Nós só podemos realizar as fotografias sociais, as fotografias humanas, se a gente não tiver uma capacidade de se colocar dentro do movimento histórico que nós vivemos” (Foto: Sérgio Vale/Secom)
“Nós só podemos realizar as fotografias sociais, as fotografias humanas, se a gente não tiver uma capacidade de se colocar dentro do movimento histórico que nós vivemos” (Foto: Sérgio Vale/Secom)

Sobre o fotógrafo

Sebastião Ribeiro Salgado Júnior nasceu em Aimorés (MG), em 1944. É doutor em Economia e, entre 1971 e 1973, trabalhou para a Organização Internacional do Café, em Londres.

Decidiu tornar-se fotógrafo quando coordenava um projeto sobre a cultura do café em Angola, tornando-se hoje um dos profissionais mais reconhecidos do mundo.

 

 

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