Florestas Plantadas

Plantio de seringueiras: renda para o homem, vida para floresta

Num estado localizado na Amazônia e que tem 88% de cobertura vegetal intacta parece estranho criar um programa para plantar florestas. Mas a estranheza sai de cena quando entra no jogo o compromisso da Política de Valorização do Ativo Florestal e a preocupação em recuperar áreas alteradas. O programa Florestas Plantadas iniciou na semana passada com vinte extrativistas do Seringal Cachoeira e cada um vai plantar, pelo menos, 1,1 mil mudas de seringueira.

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Seringal de cultivo começa a ser produtivo a partir do sétimo ano e sua produtividade é maior que o de seringueiras nativas. (Foto Angela Peres)

O programa tem quatro linhas: florestas energéticas, de produção, frutíferas e uma voltada para a utilização em móveis e artefatos. A primeira a ser trabalhada pelo Governo do Estado é a de produção, que agrega as espécies de castanheira e seringueira. A ideia do programa não é apenas plantar árvores para reflorestar áreas alteradas. Tudo faz parte de uma lógica de sustentabilidade trabalhada no conceito de gerar renda a partir da floresta em pé. Seringueiras e castanheiras, por exemplo, são duas espécies com potencial produtivo dentro da economia de base florestal.

{xtypo_rounded_right2}O Brasil tem déficit de látex e importa da Malásia pelo menos 70% do que consome. No Acre, somente a Natex demanda 500 toneladas/ano de látex, necessidade que vai dobrar com a duplicação da linha de produção. No auge da produção da fábrica de GEB (granulado escuro brasileiro) serão utilizadas 300 toneladas/mês de borracha. {/xtypo_rounded_right2} O Florestas Plantadas iniciou em Xapuri com o objetivo de atender a demanda das fábricas de camisinha, já instalada, de bolas ecológicas e de GEB – em instalação, além de reflorestar áreas que sofreram ação humana.

O plantio de seringueiras vai ajudar no abastecimento de látex para as indústrias, que será misturado ao látex de seringais nativos para que a produção não perca a qualidade, ganhe produtividade e continue a gozar de sua principal característica: utilizar látex de seringueiras nativas, manejado por populações tradicionais da floresta.

No programa entrarão nesta primeira fase, 80 extrativistas e 12 produtores – que não fazem parte de Resex ou áreas de conservação. Um dos grandes diferenciais da Fábrica de Camisinhas é o uso do látex nativo na fabricação dos produtos. Essa característica não será perdida com a duplicação dos sistemas de produção e a ampliação prevista da linha de produtos, já que a matéria-prima continuará sendo utilizada, embora misturada com o látex de cultivo, que tem produtividade bem maior.

{xtypo_rounded_left2}O Programa Florestas Plantadas vai trabalhar com 10 mil hectares de área plantada até 2020, com agricultores familiares e extrativistas. Em cada hectare serão plantadas 550 mudas de seringueira. Cada árvore do seringal de cultivo produz uma média de X quilos de látex por safra. Ou seja, cada hectare de cultivo, deve produzir, em média, mais de 4 mil quilos de látex a cada safra. {/xtypo_rounded_left2}

O látex nativo tem duas grandes vantagens: além de promover renda sustentável para as populações da floresta, o índice de elasticidade em relação ao látex de seringais de cultivo é bem maior, o que garante mais qualidade.

"Com a duplicação da Natex, a demanda por látex vai aumentar bastante. Além disso, teremos duas outras fábricas para demandar produção dos nossos seringais e por isso vamos precisar de condições de abastecimento. Os seringais de cultivo serão plantados a partir de clones selecionados, com produtividade e resistência a doenças. Os látex de cultivo e nativo serão misturados para que o produto não perca qualidade e a produção não seja comprometida", explicou o secretário de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar, Nilton Cosson.

Para o prefeito de Xapuri, Bira Vasconcelos, a realidade vivida hoje é bem diferente da apresentada no passado. "Se a floresta não der lucro em pé, ela cai e vira pasto. É preciso que haja alternativas de renda e estas alternativas estão sendo apresentadas pelo Governo. O trabalho que nós estamos apresentando agora não nasceu ontem. É um processo que começou há 12 anos e precisou que muitas coisas acontecessem para chegarmos hoje e lançar este programa. Hoje temos uma cadeia produtiva consolidada, uma fábrica que utiliza látex e mais duas serão criadas. A realidade de hoje é outra".

{xtypo_quote}Se a floresta não der lucro em pé, ela cai e vira pasto. É preciso que haja alternativas de renda e estas alternativas estão sendo apresentadas pelo Governo. O trabalho que nós estamos apresentando agora não nasceu ontem. Hoje temos uma cadeia produtiva consolidada, uma fábrica que utiliza látex e mais duas serão criadas. A realidade de hoje é outra.
Bira Vasconcelos, prefeito de Xapuri  {/xtypo_quote}

"Esta floresta será minha aposentadoria", diz extrativista

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Estrativista planta primeira muda de seringueira. No plantio serão utilizados clones de árvores produtivas e com resistência a doenças. (Foto Angela Peres/Secom)

O programa será implementado em toda a Zona 1 do Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE) que inclui áreas alteradas, em torno das BRs e que sofreram ações de desmatamento, mas têm potencial produtivo.

O extrativista Assis Monteiro foi um dos 20 beneficiados nesta fase do programa. Ele tem uma propriedade no Seringal Cachoeira, área escolhida para iniciar o programa por sua história de compromisso e respeito à natureza, e financiou R$ 30 mil junto ao Banco da Amazônia. Sua meta é plantar seis mil mudas de seringueira, para serem somadas ao seringal nativo que ele já explora.

"Minha intenção é ter uma renda confortável, com a qual e possa viver à vontade. Essa floresta será minha aposentadoria", disse.

Cada colocação de seringa, segundo o coordenador do programa Florestas Plantadas na Seaprof, Ademir Almeida, produz em média 800 quilos de borracha por safra. Uma colocação tem em média 3 estradas de seringa, com 360 seringueiras nativas, em média. Com a produção do seringal de cultivo, que no caso de Assis deverá ter seis mil mudas, a renda do seringueiro será bem maior que a alcançada hoje.

Financiamento com juro baixo e carência alta

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Programa foi lançado na Comunidade Fazendinha, no Seringal Cachoeira. Vinte extrativistas assinaram financiamento com o Banco da Amazônia. (Foto Angela Peres/Secom)

Segundo a Seaprof, 90% do látex acreano é proveniente de seringais de cultivo. Em 2009 foram produzidas 1,1 mil toneladas de látex, provenientes áreas nativas e de cultivo. Daqui a sete anos, quando as seringueiras plantadas agora se tornarem produtivas, a meta é uma produção de 1,2 mil quilos por hectare no primeiro ano produtivo, 1,5 mil no segundo ano e atingir a marca de 5 mil toneladas de produção por hectare em 2015. Dentro do programa, o Governo do Estado oferece todo o preparo da terra e a assistência técnica. O extrativista entra com a manutenção das áreas e a compra das mudas, que é financiada pelo Pronaf, através do Banco da Amazônia.

"O extrativista tem sete anos para começar a pagar, ou seja, só depois que o seringal se tornar produtivo, e paga 13 parcelas anuais de R$ 800, em média, cada uma. Ou seja, é um financiamento com juros altamente atrativos e condições bastante favoráveis de pagamento. O Banco da Amazônia é parceiro neste programa e está a disposição dos interessados em plantar florestas", disse o superintendente do banco, Marivaldo Melo.

Os vinte contratos assinados na semana passada fazem parte dos primeiros financiamentos da linha de crédito Amazônia Sustentável e foram os primeiros a serem liberados no Acre. "A expectativa é trazer qualidade de vida, melhorar a renda e fomentar a cadeia produtiva, que já está consolidada".

Extrativista apostou em seringal de cultivo e agora vai ampliar plantio

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Produtor investiu em seringal de cultivo na década de 1980. Se prepara para ampliar a área plantada e investe em viveiro para produzir as próprias mudas.

Em 1982 Pedro Gonçalves, dono de um pedaço de chão próximo a Brasiléia, enxergou uma linha de crédito do Banco da Amazônia como uma oportunidade de renda e apostou no negócio. A linha era exclusiva para seringais de cultivo. Paranaense, ele pouco sabia sobre a cultura, mas não se intimidou. Hoje quem cuida do seringal de cultivo de nove hectares são os filhos, que pretendem ampliar a área plantada e já implementaram inclusive um viveiro de mudas de seringueira na propriedade, para atender a própria demanda e vender o excedente para participantes do programa Florestas Plantadas.

"Foi uma decisão acertada. A cultura de café não deu certo. A de guaraná não é tão forte e o seringal de cultivo é a nossa maior fonte de renda na propriedade. Hoje ele é bem mais lucrativo que no início da produção, as técnicas de cultivo estão mais avançadas e a indústrias estão crescendo. Não temos dúvida sobre as vantagens da seringueira e por isso vamos ampliar a área de cultivo", disse Antônio Gonçalves, filho de Pedro.

Por mês a propriedade ganha em média R$ 2,5 mil. O meeiro, Sebastião Rodrigues da Silva, seringueiro que trabalha para o dono da terra, tem uma renda média de R$ 600 a cada 15 dias trabalhados. Ele divide as estradas de seringa com um sobrinho e juntos os dois dão conta de todo o seringal. "Não dá tempo nem acender um cigarro. No seringal nativo a gente anda muito entre uma árvore e outra. Aqui não, são todas juntinhas uma das outras", disse.

Cultivo x nativo

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Meeiro trabalha para o dono do seringal de Cultivo e divide com ele a metade da renda sobre a produção. (Foto Angela Peres/Secom)

As diferenças entre os seringais de cultivo e nativo são muitas e cada um tem suas vantagens e desvantagens. No seringal nativo o látex produzido tem um teor de elasticidade bem maior que o de cultivo. Já o seringal de cultivo apresenta produtividade mais elevada e o tempo de produção é três vezes maior que o de seringueiras nativas. Além disso, para o extrativista, o seringal de cultivo apresenta condições de trabalho bem melhores, já que as seringueiras são plantadas umas próximas as outras. O seringal nativo, porém, mantém a floresta em pé e continua sendo uma alternativa de renda para as populações tradicionais.

A Política de Valorização do Ativo, segue as diretrizes do Zoneamento Ecológico Econômico do Acre e se divide em quatro programas principais:

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