Festival Pachamama conquista público diferenciado em sua quarta edição

A quarta edição do Festival Pachamama de cinema alcançou um público diferenciado (Foto: Talita Oliveira)

A quarta edição do Festival Pachamama de cinema alcançou um público diferenciado (Foto: Talita Oliveira)

Durante quatro edições do Festival Pachamama as salas do Cine Teatro Recreio nunca estiveram tão lotadas. Este ano o Festival quebrou paradigmas, ultrapassando fronteiras e alcançando um público mais diferenciado. Entre 18 a 24 de novembro, o 4º Festival Internacional Pachamama – Cinema de Fronteira – “Nosso cinema, nossa identidade” apresentou ao público um cinema de fronteira com produções relevantes, diferente do cinema que a comunidade consome no dia a dia.

Para a produtora executiva Karla Martins, o Festival ganhou força para se consolidar para sua quinta edição no ano que vem. “Acompanho o festival desde a primeira edição, mas só a partir da segunda é que comecei a trabalhar com a produção. Este foi um ano de mais esforço, mais dedicação de todos nós, em que tivemos menos dinheiro e tivemos que usar da nossa criatividade para driblar as dificuldades. Provamos que a falta de recurso não impede que seja realizado um festival de qualidade”, destaca.

O Festival Pachamama foi o único projeto da Região Norte a ser contemplado pelo edital de incentivo da Petrobras. A programação contou com a Mostra Zé do Caixão e seus 50 anos de história, Mostra Valdivia, Mirada Latina, Mirada do Mundo, mostras competitivas de curtas e longas metragens e na Mostra de Cine Comunitário e ainda com o Cine Nómadas nos Bairros. Foram exibidos em torno de 50 filmes. O público conferiu ainda debates, shows, festas, voos promocionais de balão, um leque de produtos culturais, todos com acesso gratuito, com exceção das festas.

“No geral esta quarta edição foi a mais difícil de ser produzida, mas também foi a edição que percebemos a concretização do projeto como evento cultural de Rio Branco. A realização do Pachamama se deve também ao trabalho em equipe de todos, como a oportunidade de ter grandes parceiros, desde o Hotel Imperador Galvez, a EME Amazônia, até a Petrobras, que foi nossa grande financiadora, o governo do Povo do Acre, Prefeitura de Rio Branco, Ufac. Penso que foi a junção de forças e a vontade de realizar esse festival que gerou um resultado superpositivo”, afirma o diretor Sérgio de Carvalho.

Zé do Caixão, um dos homenageados, marcou presença no Festival (Foto: Talita Oliveira)

Zé do Caixão, um dos homenageados, marcou presença no Festival (Foto: Talita Oliveira)

Um olhar para a comunidade

O Pachamama apresentou filmes inéditos que estiveram tanto fora quanto dentro do circuito das grandes salas de cinema, levando mostras para os bairros e para perto da comunidade acadêmica. Uma das que se destacaram foi documentário chileno “El Otro Día” do diretor Ignácio Agüero, premiado durante o Festival de Valdivia.

“O que mais chamou atenção de todos foi a presença um público diferenciado prestigiando o festival, e isso estava faltando no Pachamama. Tivemos a presença não só daquele público constante, mas conseguimos chamar atenção, despertar a curiosidade de um público mais distante”, avalia Sérgio.

Enquanto o Festival Pachamama movimentava o Cine Teatro Recreio na Gameleira, o Grupo Nómadas, junto a parceiros locais, projetava filmes latino-americanos nas periferias da capital, formando uma verdadeira sala de cinema ao ar livre. Os filmes “A batalha do passinho” e “Me conta uma história?” foram projetados para um público que também dançou com as seletivas preparados pelo Centro Acreano de Hip Hop e RAC Produções.

A produtora Candy Saavedra veio ao Acre como distribuidora do filme “A batalha do passinho”. Ela considera o festival importante por promover essa ação e por interagir com países vizinhos e “hermanos”. “Acredito na importância do cinema como potência transformadora e pude avaliar um público grande e interessado. Pretendo voltar em breve e quem sabe com outros filmes para distribuição”, planeja. Que os fazedores de cinema a ouçam.

Mostras premiam filmes de vários países

Durante seis dias, não só o público avaliou os títulos inscritos nas mostras competitivas, mas principalmente um grupo de jurados especializados, convidados especiais desta edição. Os filmes originários de países como Brasil, Bolívia, Peru, Argentina, Chile, Colômbia, Equador e Espanha elevaram a qualidade do festival e o colocaram na categoria de festival ibero-americano e uma vitrine de filmes para a região de fronteira e para o Brasil.

 “Conseguimos despertar a curiosidade de um público mais distante”, disse Sérgio de Carvalho (Foto: Talita Oliveira)

“Conseguimos despertar a curiosidade de um público mais distante”, disse Sérgio de Carvalho (Foto: Talita Oliveira)

A inclusão da categoria de filmes de cinema comunitário, que este ano homenageou o cineasta Stefan Karpar, aumentou o alcance social e de integração de povos do continente. O resultado foi divulgado no sábado, 24, pelos jurados Jose Romero Carrillo e Francisco Cesar Filho (longa metragem), Zezinho Yube – Povo Hunikui Brasil e Elio Ortiz – Povo Guarani (cine comunitário) e Che Sandoval e Rose Farias (curta metragem).

Os vencedores – Na Mostra Stefan Karpar de Cine Comunitário o grande vencedor foi o filme “Mapuche Gente da Tierra”, direção de Fábio Al camino, Fernando Silva, Jamila Venturini. Na categoria curta metragem a menção honrosa foi para o chileno “El Abrazo de Sandow”, de José Luis Torres Leiva; a melhor direção para o boliviano Carlos Pineiro, por “Plato Paceño” e melhor curta metragem foi “Otra noche em la tierra”, do espanhol Davi Muñoz.

O longa metragem “O Mestre e o Divino”, do diretor brasileiro Tiago Campos, recebeu o troféu Pachamama de melhor filme. A melhor direção de longa é do argentino Raúl Perrone, por “Pendejos” e a menção especial do júri foi para “Ilusión”, do espanhol Daniel Castro.

O diretor de programação do Pachamama, Marcelo Cordero, disse que 2013 foi um ano especial para o festival, que em apenas quatro anos consegue uma das programações mais relevantes dentro do contexto de festivais brasileiros. Cordero ressalta ainda que contar com filmes com qualidade mundial faz com que o evento, a partir deste ano, se converta em uma vitrine para o cinema ibero-americano, abrindo novos horizontes.

“Duas novidades interessantes desta edição foram a descentralização do evento por causa dos novos espaços e as exibições de cinema à meia-noite, dedicadas ao diretor brasileiro José Mojica Marins, além da diversidade e aumento do público em relação aos anos anteriores”, destaca Marcelo Cordero.

A engenharia florestal Kaline Rossi concorda: “Acompanhei grande parte da programação do estival. Os filmes foram muito bem escolhidos. Acho que a organização tem que pensar em lugares maiores para a quinta edição, pois o festival está ganhando uma grande proporção e a tendência é o aumento do público”.

Convidados reconhecem importância do festival

Diretora do filme “Verdade 12.528”, a paulistana Paula Saccheta, considera que trazer o filme para tão longe, para a fronteira do Brasil com países tão ricos culturalmente foi muito especial. “Para mim foi um prazer e uma honra participar do Pachamama. Pude compartilhar experiências, conhecer gente de outros lugares e assistir a filmes que talvez jamais tivesse acesso em outras ocasiões”, revela Paula. O debate promovido após a exibição do filme foi um dos mais intensos realizados no festival, com depoimentos de familiares de mortos e desaparecidos políticos no Acre e região.

Os diretores Paula Saccheta e Peu Robles ficaram surpresos ao ver, um dia após a exibição de seu filme, faixas espalhadas pela cidade pedindo a volta da ditadura militar. “O debate foi o mais quente que participamos até agora, com as opiniões mais diversas sobre o período da ditadura e o nosso filme”, comentou Robles em sua página no Facebook. Ele reitera que a ditadura não é coisa do passado ou “página virada”, como pensam alguns. “A mesma mentalidade se mantém e crimes gravíssimos continuarão a existir enquanto a impunidade persistir num país sem justiça”, afirma.

José Mojica Marins, um dos convidados especiais da quarta edição ressaltou o esforço dos organizadores em realizar o trabalho e reconhece que não é fácil realizar festivais como estes. “A força dessas pessoas é impressionante”, disse. Para a jornalista Liliana Aguirre, do jornal La Razón, o de maior circulação de La Paz e enviada especialmente para cobrir o evento, o festival é uma grande oportunidade de integração entre povos e países de fronteira e agora tem esse desafio ainda mais forte pela frente. Liliana acredita que Rio Branco, com seus museus e espaços culturais são um atrativo a mais aos visitantes que vêm ao festival.

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