Escritor Frei Betto visita Xapuri e Seringal Cachoeira

Frei Betto foi coroado com uma poronga acesa pelas mãos de Marlene Mendes, prima de Chico (Foto: Arison Jardim/Secom)

Frei Betto foi coroado com uma poronga acesa pelas mãos de Marlene Mendes, prima de Chico (Foto: Arison Jardim/Secom)

Os olhos do mundo estavam voltados para Xapuri no dia 23 de dezembro de 1988. Na noite anterior, um tiro de escopeta havia matado Chico Mendes, uma das maiores lideranças dos trabalhadores rurais da Amazônia e do Brasil. Do Rio de Janeiro, o escritor e teólogo Frei Betto, que conhecia a luta de Chico em defesa da floresta e dos direitos dos seringueiros, é noticiado sobre o assassinato e, às pressas, viaja, em companhia de Lula, ao Acre para chorar a morte do ambientalista ao lado de seus amigos e familiares.

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Frei Betto{/xtypo_quote_right}

Quase 25 anos depois, Betto teve a oportunidade de voltar a Xapuri e se emocionou ao conhecer o Seringal Cachoeira, ao qual Chico deu a vida para proteger. A visita ocorreu nesta quarta-feira, 30, ocasião em que o escritor esteve no Acre para ministrar a palestra “A erosão do sentido da vida e os desafios da contemporaneidade”, realizada na terça, 29, no Teatro da Universidade Federal do Acre (Ufac), como parte da programação dos 25 Anos Chico Mendes Vive Mais, promovida por uma comissão especial formada por mais de 30 instituições.

Antes da visita ao seringal, o teólogo conheceu, também em Xapuri, o túmulo e os espaços que homenageiam o líder seringueiro, como a Casa de Chico Mendes e o Centro de Memória, onde estão expostos a história e vários objetos pessoais do ambientalista. “O mundo inteiro deveria conhecer esses locais”, disse Frei Betto à presidente do Instituto Chico Mendes e filha do líder seringueiro, Elenira Mendes, que acompanhou o teólogo durante sua viagem por Xapuri.

Na Trilha da Samaúma, o escritor conheceu espécies de árvores importantes para a economia extrativista da região (Foto: Arison Jardim/Secom)

Na Trilha da Samaúma, o escritor conheceu espécies de árvores importantes para a economia extrativista da região (Foto: Arison Jardim/Secom)

No Cachoeira, o escritor foi recebido com festa pela comunidade na pousada ecológica do seringal. Ele foi coroado com uma poronga por Marlene Mendes, prima de Chico – foi ela quem teve a ideia de colocar mulheres e crianças na frente das armas e dos tratores no último grande empate ocorrido no local. Betto também percorreu a trilha da Samaúma e conheceu a “Rainha da Floresta”, árvore de mais de 500 anos, entre outras espécies importantes para a economia extrativista dos moradores, como a seringueira e a castanheira.

“Foi um grande presente conhecer o Seringal Cachoeira e essa comunidade maravilhosa. Aqui, eu sinto o espírito, ideias e atitudes de Chico Mendes vivos. Espero que estas pessoas sejam exemplo para tantas outras que vivem na floresta e que muitas vezes são tentadas, atraídas para a cidade. Gostaria que o local servisse para mostrar que a gente pode ser feliz interagindo com a natureza, cuidando e sendo cuidado por ela”.

Elenira Mendes mostra a Betto o local onde o pai foi acertado por um tiro de escopeta (Foto: Arison Jardim/Secom)

Elenira Mendes mostra a Betto o local onde o pai foi acertado por um tiro de escopeta (Foto: Arison Jardim/Secom)

Também primo de Chico, Duda Mendes é uma das lideranças do Seringal Cachoeira. Ele agradeceu a visita de Frei Betto e garantiu dar continuidade à ação de preservação da floresta. “Quando as pessoas nos visitam, logo percebem que somos mesmo uma comunidade muito unida. Nós também acreditamos que devemos ser exemplo para o mundo”, comentou.

“É uma alegria trazer a Xapuri uma pessoa muito importante para o Brasil, que dedica sua vida  à luta pela justiça e pelos direitos humanos. Frei Betto é amigo do Acre há muito tempo e essa visita, no ano em que lembramos os ideais de Chico Mendes, era uma necessidade”, afirmou o diretor da Biblioteca da Floresta, Marcos Afonso Pontes, que também acompanhou a viagem do escritor ao município.

Mão de Mulheres na Biblioteca da Floresta

Após passagem pela cooperativa de costureiras Mão de Mulheres, foi firmada parceria, idealizada por Frei Betto, entre as trabalhadoras e a Biblioteca da Floresta. Com o acordo, os produtos sustentáveis da cooperativa também serão comercializados em um bazar a ser criado na instituição, no segundo piso, onde hoje funciona o Acervo Chico Mendes e o escritório do Instituto Chico Mendes em Rio Branco.

Quem é Frei Betto?

"Espero que essas pessoas sejam exemplo para tantas outras que vivem na floresta e que muitas vezes são tentadas, atraídas para a cidade", diz Betto sobre os moradores do Seringal Cachoeira (Foto: Ariosn Jardim/Secom)

“Espero que estas pessoas sejam exemplo para tantas outras que vivem na floresta e que muitas vezes são tentadas, atraídas para a cidade”, diz Betto sobre os moradores do Seringal Cachoeira (Foto: Arison Jardim/Secom)

Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, 69 anos, nasceu em Belo Horizonte (MG). Estudou teologia, jornalismo, antropologia e filosofia. Adepto da Teologia da Libertação, professou na Ordem Dominicana da Igreja Católica na década de 60 e participou de movimentos pastorais e sociais. Foi preso duas vezes pelo Regime Militar – na última delas, o cárcere durou quatro anos. Durante o presídio, Betto escreveu uma de suas obras mais famosas, Batismo de Sangue, transformada em filme homônimo em 2007 pelo diretor Helvécio Ratton.

Sua trajetória nos movimentos sociais passa pela fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e da Central de Movimentos Populares (CMP), assessoria à  Pastoral Operária do ABC de São Paulo, ao Instituto Cidadania e às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e consultoria do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Recebeu diversos prêmios, entre eles a Medalha Chico Mendes de Resistência, concedido pelo grupo Tortura Nunca Mais, do Rio de Janeiro, por sua luta em defesa dos direitos humanos. Sua trajetória em prol do meio ambiente e da solidariedade internacional também lhe rendeu o Prêmio Ones.

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