Escrever mais, falar menos

Geralmente um bebê começa a falar aos nove meses de idade, mas acredite ou não a minha primeira palavra veio apenas aos dois anos, e não era o que os meus pais esperavam ouvir. Falei poucas palavras soltas e comecei a falar de tudo mesmo, somente aos três anos ou um pouco mais. Paralelamente a isso, a escrita entrou na minha vida no tempo considerado “apropriado” aos estudiosos, pouco antes dos cinco ou seis aninhos.

Mamãe conta que, como pedagoga, começou a me ensinar a ler e escrever assim que balbuciei minhas primeiras palavras, mas ela admite que não tinha tanta paciência comigo quanto tinha com os seus alunos. Apesar disso, assim que mergulhei na leitura e escrita um novo mundo se abriu ante os meus olhos, um mundo mais colorido, divertido e utópico. Depois de alfabetizada comecei a ler e escrever como nunca e o propósito de Deus para a minha vida se encarregou de me direcionar a isso.

Durante o ensino fundamental e médio eu odiava apresentar trabalhos orais, ficava nervosa, as mãos suavam, as pernas tremiam, a voz falhava. Por isso eu sempre preferia fazer a parte escrita, escrevia em cartolinas, fazia os slides, criava roteiro de apresentações para cada colega do grupo e, se precisasse entregar um material discursivo, melhor ainda. Após o ensino médio tive que tomar a difícil decisão de qual faculdade seguir e lembro-me de pensar: “Letras português seria uma ótima opção já que gosto tanto de ler e escrever” e segui por esse caminho. Me apaixonei pelo curso! Pouco tempo depois surgiu a oportunidade de trabalhar com o jornalismo e a partir disso eu entendi que posso fugir o quanto quiser, mas a escrita vai continuar sempre sendo parte de mim.

Até hoje, aos 23 anos, não sou muito de falar – mas já não fico tão nervosa quanto antes – prefiro observar, ouvir e escrever. Quando iniciei na terapia a psicóloga me aconselhou a escrever meus sentimentos, já que não sou muito boa em externá-los, e assim eu fiz. Foi a partir desse momento que eu vi o quanto a escrita pode realmente transformar o mundo – pelo menos, o meu. Eu posso escrever coisas boas, declarações de amor, coisas alegres ou posso escrever como uma manifestação contra injustiças, intrigas, invejas, mentiras, fofocas, perseguições… ufa! Posso desabafar.

Como disse a grande musa da escrita, Clarice Lispector: “Minha liberdade é escrever. A palavra é o meu domínio sobre o mundo”. Faço de suas lindas palavras, as minhas!

 

Emily Vitória é graduada em letras português, e repórter da Secretaria de Estado de Comunicação no município de Cruzeiro do Sul.

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