Entre mimos e direitos

E a história se repete, todos os anos, no Dia Internacional da Mulher. São declarações acaloradas que enaltecem nosso papel dentro do lar, como esposas, mães, amigas, tias, avós e qualquer outro coisa que não nos tire do perfil de “mulher ideal” para uma sociedade machista.

Ganhamos presentinhos, mimos, chocolates, utensílios domésticos, dia de beleza, esmaltes, rosas e tantas outras coisas que eles julgam pertencer ao universo feminino. O comércio comemora a data, enquanto nós mulheres ficamos submersas nesse mar de consumismo e descaracterização do 8 de março.

Acredite, não foi por um buquê de rosas meia boca que mais de cem operárias foram assassinadas, no ano de 1857, em Nova York. Elas aspiravam mais que uma caixa de bombons, lutavam por melhores condições de trabalho, dignidade e respeito.

Já sei, você vai me dizer que as mulheres já avançaram muito. Devo concordar que sim, afinal, já temos direito ao voto, somos aceitas nas instituições de ensino, temos uma lei de defesa e proteção específica (Lei Maria da Penha), ocupamos cargos majoritários nos espaços de poder e temos até uma “presidenta” da república.

Realmente, a data é de celebração, mas ainda há muito a ser conquistado. O Dia Internacional da Mulher tem que ser mais do que um feriado ou um motivo para receber homenagens e cobrar presentes. Este é um momento de reflexão, período de avaliação pessoal e de nos perguntarmos: e o que eu tenho feito para ter uma sociedade com equidade de gênero e paz?

Se a resposta for positiva, ótimo! Aproveite e renove suas energias, a luta não acabou. Nossas conquistas são recentes, a Lei Maria da Penha entrou em vigor apenas em 2006. Antes desse avanço do Código Penal, a violência doméstica era enquadrada na Lei 9.099 (Juizado Especial Criminal). As penas, por bater em mulher, variavam entre pagamentos de cestas básicas e trabalhos voluntários.

Hoje, a violência doméstica é tipificada, a Lei Maria da Penha enquadra como crime os cincos tipos de violência: psicológica, patrimonial, moral, sexual e física. Não precisamos aparecer com hematomas no rosto, os da alma também valem. A sua luta não foi em vão, companheira!

Que fique claro, eu adoro bombons, dias de beleza et cetera e tal. Acontece que isso a sociedade já me “permite” viver. Não preciso de uma data específica para ganhar flores e poemas. O que eu não tenho e reivindico, neste 8 de março, é o direito de ir e vir sem sofrer assédio sexual, de usar minhas roupas curtas, andar onde quiser e a hora que quiser e não ser estuprada por isso, é o direito sobre o meu corpo, a ter uma educação não sexista e ser contemplada com políticas públicas e respeito. Ter direito a ser feliz.

E você, o que espera do 8 março?

*Maria Meirelles é jornalista e assessora da Secretaria de Estado de Políticas para as Mulheres do Acre (SEPMulheres)

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