Ao visitar a cidade de Tarauacá é possível observar casas construídas de maneira mais elevada que o habitual, uma particularidade ocasionada por frequentes enchentes enfrentadas pela população que vive próxima aos rios Tarauacá e Muru.
Outro comportamento diferente dos demais municípios do Acre frente às constantes cheias é que mesmo com o grande volume de água dentro das casas, muitas famílias decidem ser resilientes no período de inundação e permanecem em suas propriedades, prezando principalmente pelos seus bens materiais.
Tal escolha demanda uma atuação diferenciada do Estado, Município, Corpo de Bombeiros e demais instituições que prezam pelo bem-estar das famílias. O subtenente Gonzaga, coordenador da Defesa Civil local, diariamente dispõe diversas equipes do Corpo de Bombeiros para realizar a distribuição de cestas básicas, água potável e remédios para a população ilhada.
A secretária municipal de assistência social de Tarauacá, Camila Figueiredo, observa que nos abrigos o acesso às políticas públicas e aos insumos de necessidade básica são mais fáceis de serem direcionadas às pessoas vulnerabilizadas. “Nos abrigos a atenção fica centralizada, mas como a maioria dos atingidos pelas cheias permanecem em suas casas, enfrentamos o desafio diário de chegar até eles”, discorre a servidora do Município.
Realidade do município
Uma das famílias que moram em casas sustentadas por altas madeiras é a de Liberdade Souza, dona de casa e mãe de oito filhos. A família mora na região há três anos e, ao enfrentar uma grande inundação pela segunda vez, dona Liberdade agradece a ajuda que recebe: “Todo esse auxílio é um poder de Deus na minha vida, sem ele e sem esperança não temos nada”.
E sabendo da dificuldade enfrentada por dona Liberdade e seus vizinhos, Gabriela Nolasco, coordenadora-geral da Creche Criança Feliz, busca ser participativa expressando solidariedade durante a cheia que assola o município. “É gratificante para mim, como cidadã ter a possibilidade de ajudar o próximo. Sei da situação carente dos moradores aqui e me preocupo com a segurança e bem-estar dessas famílias”, diz.
Mitigando danos
Para atender mais famílias em vulnerabilidade causada pelas grandes chuvas e mitigar os danos, o governo do Acre busca ser um porto seguro para as ações dos municípios afetados.
Durante a enchente deste ano, diversas equipes estaduais foram designadas para trabalhar diretamente com as prefeituras. A ajuda acontece de diversas maneiras, como a captação de recursos que garantem o atendimento às famílias, a doação de itens de necessidade básica, o conhecimento técnico, a cessão de espaços públicos etc.
Ciente da necessidade da sua participação direta, o governador do Acre, Gladson Cameli, tem realizado visitas nos municípios atingidos e se colocado à disposição plena, junto de sua equipe governamental, oferecendo o melhor possível para a população carente.
Em visita ao município na quinta-feira, 29, Cameli agradeceu a toda a equipe do Estado, que está dividida nas áreas mais afetadas para coordenar as ações e agilizar os atendimentos, assim como reforçou a união com as prefeituras:
“Sempre uso a palavra união, principalmente durante esses momentos de dificuldade, e, pensando nisso, o meu governo está empenhado em cuidar das pessoas atingidas pela enchente em todas as regionais do estado, buscando fazer a diferença.”
Causa ambiental
As enchentes são fenômenos naturais, mas podem ser intensificadas por más práticas humanas, como a poluição, descarte inadequado de lixo e desmatamentos.
O engenheiro agrônomo Nilson Gomes Barcelos, em seus estudos, já apontou que o fenômeno acontece por diversos motivos, sendo um deles decorrente dos solos que compõem a Bacia do Acre, que apresentam características peculiares quando comparados a outras porções da Amazônia Brasileira, com superfícies terrestres argilosas que dificultam o fluir das águas das chuvas em contato com o solo. Tal característica geográfica tem como consequência períodos de grandes enchentes e vazões acentuadas na bacia.
Atual situação
Dados mais recentes levantados pela Defesa Civil municipal apontam o nível do rio como 11 metros, frente a uma cota de transbordamento de 9,50 metros. Com dois abrigos municipais, a prefeitura atende 253 pessoas na Escola Dr. Djalma da Cunha Batista e na Escola Cívico-Militar Plácido de Castro, além de mais de 2 mil pessoas desalojadas, as quais encontraram acolhimento em casas de parentes e amigos.
Em caso de emergência, ligue no número 193 para solicitar atendimento em decorrência das chuvas, onde será atendido por um efetivo empenhado para atender às famílias em vulnerabilidade.