Da janela do meu quarto, contemplo o azul do céu e, mesmo do alto, posso sentir o frescor das gotas de orvalho sobre as pétalas das flores do jardim. Colírio para meus olhos. Água é mesmo vida!
Àquele momento, em pensamento, retorno ao ano de 2019. O novo coronavírus não havia chegado para assombrar o Brasil, e eu podia ainda ter a satisfação de registrar e divulgar as visitas monitoradas à principal unidade de produção do Departamento Estadual de Água e Saneamento do Acre – Depasa, a ETA-II.
Para mim, a agenda era sempre um momento mágico. Os ilustres visitantes, crianças e adolescentes, alunos da redes pública e particular de ensino, chegavam com a euforia pertinente àquelas faixas etárias, e faziam uma bagunça boa. Difícil esquecer tantos sorrisos no rosto, a expressão de surpresa, o brilho no olhar, pela conquista do aprendizado sobre processos de captação, tratamento e distribuição da água na capital, Rio Branco.
A ação educativa era, na minha opinião, tão essencial quantos todos esforços administrativos e operacionais para manutenção e ampliação do sistema de abastecimento no estado. Afinal, de toda água existente no planeta, apenas 3% é água doce, e está localizada em rios, lagos, geleiras e lençóis freáticos. Depois de captada e tratada, essa água percorre um longo caminho até chegar à casa dos usuários.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde – OMS, 50 litros por dia é a quantidade suficiente para garantir o bem-estar e a higiene de cada pessoa. Cada brasileiro consome em média 187 litros de água por dia. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico – PNSB, publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, no Brasil o desperdício é de 38,9%. Perdas que podem ocorrer na rede de distribuição, mas também em grande proporção na casa dos usuários das concessionárias dos serviços de água. O mau uso da água tratada ainda é um fator que preocupa empresas concessionárias, órgãos de controle e gestores de todo o país.
Se a geração adulta não consegue praticar o uso consciente, investir nas gerações futuras me parece mesmo uma boa estratégia. Um bom exemplo são as ações de educação do trânsito voltadas para o público infanto-juvenil, realizadas no Brasil conforme as Diretrizes Nacionais da Educação para o Trânsito (Denatran, 2009).
E como mudança de comportamento á algo que requer tempo, mais de uma década depois, a iniciativa apresenta bons resultados. Quem de nós ainda não foi surpreendido com um “mãe, olha o sinal”, ou “pai por favor, afivela o cinto de segurança”? Tal exemplo reforça a tese de que, assim como a educação no trânsito, o consumo consciente da água também deve ser incentivado desde a infância.
Ações educativas, como as realizadas pelo governo do Acre, por meio do Depasa, nas unidades da concessionária dos serviços de água no estado ou nas escolas, em parceria com a Secretaria de Estado de Educação – SEE, e em alguns momentos, em ação conjunta com a Agência Reguladora de Serviços Públicos do Acre, deve ser um trabalho de ação e reflexão, que possa implicar em mudança de atitude. O tema pode ser abordado em praticamente qualquer componente curricular; seja em Matemática, Ciências ou Geografia, é sempre possível transmitir para o aluno a necessidade de refletir.
No caso da temática água, a criança tomará consciência de como a água se encontra na natureza e vai chegar na vida dela. Na maioria das vezes, por meios de projetos pedagógicos relacionados ao tema. As estratégias de aprendizagem variam conforme a faixa etária. No 1º e 2º anos, as atividades são mais lúdicas, no 3º ano os alunos já realizam pesquisas e buscam soluções. Nos 4º e 5º anos, as crianças já são capazes de produzir vídeos que retratam a situação do desperdício.
Embora ainda pequenas, as crianças têm capacidade para entender que o índice de desenvolvimento humano da população é medido também pela qualidade da água, pelo acesso à água e pelo uso consciente que faz da água tratada. Ações educativas permitem à criança argumentar e investigar, por meio de atividades que lhe permitem conhecer, refletir e tomar uma atitude positiva diante da vida.
Por causa da pandemia, as atividades presenciais, como as visitas monitoradas e palestras temáticas, assim como as aulas, acabaram sendo suspensas. No dia a dia, da forma que é possível, gestores e técnicos sempre que podem falam à sociedade sobre a importância do uso consciente da água. Contudo, a pandemia não acabou e o trabalho não pode parar. É tempo de repensar, viabilizar novas formas e meios de continuar lembrando que a água é um bem precioso, caro à humanidade, e que ainda precisamos aprender a fazer bom uso desse recurso natural.
Os caminhos perpassam por estratégias inovadoras, com exploração de tecnologia, métodos e ferramentas igualmente inovadores, que nos permitam dar prosseguimento às ações de educação em saneamento. Herdeiros do futuro, cidadãos do amanhã, nas crianças e adolescentes podemos, sim, depositar a esperança de uma sociedade mais consciente.
Cleide Elizabeth é publicitária, jornalista, mestra em Educação pela Universidade Federal do Acre e especialista em Gestão Pública pela Uninter do Paraná. Atualmente é jornalista na Divisão de Comunicação do Depasa