Investimentos de aproximadamente R$ 2,5 milhões, contratação e qualificação de mão de obra local, localização estratégica para expansão de mercado visando à rota de exportação via Pacífico. Essas são apenas algumas referências superficiais que podem ser dadas sobre a granja Dom Porquito, indústria instalada às margens da BR-317, em Brasileia, que atua na produção de suínos por meio de inseminação artificial.
A proposta da granja é ofertar no mercado carne suína ultralight, ou seja, como uma “capa” de gordura menor que a encontrada em suínos de criação convencional. A meta da empresa é chegar ao abate de 400 animais por dia e expandir seu comércio para o Peru e a Bolívia, via rota do Pacífico.
A previsão do empresário e engenheiro de alimentos Paulo Santoyo é de que a indústria tenha receita entre R$ 120 e R$ 140 milhões.
Primazia pela segurança sanitária – Logo que se avista a indústria, percebe-se que não se trata de um empreendimento similar aos que estamos acostumados a encontrar em outras regiões do Estado. Já na entrada, a Dom Porquito apresenta uma área de inspeção sanitária dos veículos. Um portão eletrônico controla a entrada e saída de veículos.
Este processo, bem como os demais que serão descritos em seguida, fazem parte do controle sanitário que a empresa faz para evitar que os animais sejam contaminados.
Ao chegar às instalações físicas da indústria, qualquer pessoa ou produto que vá adentrar os galpões passa por um processo de desinfecção. Os visitantes são encaminhados a vestiários (masculinos e femininos), onde devem despir-se, acomodar calçados, roupas e outros pertences num armário cedido pela empresa, para, em seguida, banhar-se. Após o banho, que visa a segurança sanitária do ambiente, a administração do local disponibiliza um uniforme, incluindo peças íntimas e chinelos de borracha.
Utensílios como celulares, câmeras e outros também passam por um processo chamado fumigação, que, de acordo com explicação do engenheiro agrônomo funcionário da granja, Marques Araújo, não afetam em nada a funcionalidade do material. Trata-se, reafirma ele, apenas de mais um processo para garantir segurança sanitária do local.
“Somos criteriosos com a higiene e a questão sanitária, porque temos muitos animais que fazem parte de um ciclo de atividades. Se qualquer vírus ou bactéria que os animais nunca tiveram contato entra nesse espaço, nós corremos o risco de colocar todo o trabalho da indústria em risco”, acrescenta o engenheiro agrônomo.
A primeira área a ser visitada ao entrar nas instalações da granja Dom Porquito é a Unidade de Inseminação de Genética. No local ficam os seis porcos que são produtores de sêmen para a inseminação. Ao abrir a porta do galpão, já se nota que se trata de um lugar diferente. Há três aparelhos de ar-condicionado ligados em baixas temperaturas. Cada um dos seis animais fica acomodado em gaiolas individuais e bem espaçosas, limpas e com água potável distribuída por meio de um sistema que é acionado pelo próprio animal, de acordo com a necessidade dele.
O tamanho dos animais surpreende – eles podem atingir o peso de uma tonelada. São alimentados com 2,2 quilos de ração balanceada por dia, para que não haja excessos ou ausência de nutrientes necessários ao bom desempenho do animal.
Quem nos apresenta o local é o funcionário Elinaldo Gonçalves, 23, brasileense. O jovem merece um destaque: é notável a satisfação que demonstra pelo ofício que desempenha no trato com os animais. Ele nos conta que há bem pouco tempo passou a trabalhar na indústria de produção de porcos.
“Eu era jardineiro na AcreAves [indústria de abate de aves]. Trabalhava embaixo do sol. Gostava do que fazia, mas aqui eu sou muito mais feliz. Nem se compara. Aqui eu cuido deles [porcos], ajudo nos partos e na maternidade, onde ficam as porcas”, diz, timidamente.
{xtypo_quote_right}Hoje eu tenho orgulho do trabalho que faço aqui. Não o troco pelo que fazia antes{/xtypo_quote_right}Gonçalves foi selecionado na AcreAves, empresa que pertence ao mesmo grupo proprietário da Dom Porquito, passou três meses e meio em Pato de Minas (MG) para participar do curso de formação para treinador animal, e assim estar apto a fazer inseminação animal, partos e outros cuidados com suínos.
“Foi a primeira vez que saí da minha cidade [Brasileia]. Nunca tinha viajado de avião. Foram horas de viagem, acho que trocamos de avião umas cinco vezes até chegar lá. Foi difícil. Pensei em desistir porque sentia muita saudade da minha família. A gente também custou a se acostumar com a comida deles [mineiros]. Mas hoje, vejo que valeu a pena. Hoje eu tenho orgulho do trabalho que faço aqui. Não o troco pelo que fazia antes”, afirma.
Coleta – De maneira muito habilidosa, enquanto conversa com a reportagem, o jovem vai encaminhando um dos porcos para a área de coleta de sêmen. O engenheiro agrônomo Marques Araújo explica que os animais montam numa espécie de manequim, que os acomoda como se estivessem montados numa porca. No objeto é passada urina de uma fêmea no cio, para que isso atraia e estimule o macho.
O treinador dos animais fica num local construído com adequações para facilitar a coleta do sêmen. “Essa primeira secreção eu saí na hora da coleta; não serve para nada e precisa ser descartada. Antes de fazer a coleta eu preciso eliminar qualquer sujeira e retirar toda a urina do animal para que ela não contamine o que for colhido”, explicou Elinaldo Gonçalves.
Cada animal é levado para coleta em intervalos de até quatro em quatro dias, em média. Os funcionários da granja frisam que o intervalo é importante para garantir qualidade e bom desempenho dos animais.
Durante a coleta, o sêmen é acondicionado dentro de um saco plástico. Depois de concluído, o processo o material é entregue, através de uma pequena janela, para o engenheiro agrônomo que está em uma sala livre de bactérias, climatizada e com entrada restrita para evitar infecções.
{xtypo_quote}Aqui o que é coletado passa por uma pesagem, verifica espessura, volume e temperatura. Depois é colocado dentro de um frasco [contendo 100 ml]. No frasco há cerca de três a quatro bilhões de espermatozóides, que já podem ser inseminados.
Elinaldo Gonçalves, tratador.{/xtypo_quote}
A inseminação – Após a coleta, o material segue com o tratador para o galpão, onde ficam as porcas e leitoas (sendo que são classificadas porcas aquelas que já deram cria, e leitoas, as que nunca cruzaram ou foram inseminadas).
Um porco macho fica neste galpão, mas ele é treinado apenas para identificar qual daquelas porcas está no cio. Ele é guiado pelo treinador, e logo que identifica a porca que está em seu período fértil, o treinador inicia o processo de inseminação.
Todo o processo funciona de maneira muito coordenada, porque todos os animais têm identificação numerada que permite saber os dados a respeito de cada um, permitindo, inclusive, saber quando as fêmeas estão sem eu período de cio, gravidez e a previsão para o parto.
A maternidade – A gestação dura em média 115 dias, mas quando as fêmeas chegam aos 110 dias de gestação elas seguem para a área da maternidade e ficam sendo monitoradas pelos funcionários. “A gente acompanha para evitar que elas sofram e que os filhotes tomem o colostro [primeiro leite]”, disse o tratador.
No momento da reportagem, Josirlam Silva Melo, que também trabalha na granja, estava verificando as condições de higiene do local. O funcionário também atua como tratador, auxiliando em outras funções, como no apoio aos partos ou cuidados com filhotes, entre outros.
Desmama e período de abate – Antes de serem separados das mães, os filhotes vão se adaptando à vida fora do útero das fêmeas. Para manter a temperatura do ambiente, são colocadas caixas com lâmpadas que esquentam os filhotes.
Entre cinco e sete dias após o nascimento, os animais são cadastrados. Passados 21 dias após o nascimento, os leitões são desmamados e levados para outro galpão.
Nessa área eles começam a receber ração, mas a administração da granja decidiu incrementar a dieta – pelo menos na primeira fase -, acrescentando uma papa que lembra o sabor do leite materno.
“Aos poucos eles mesmo vão largando a papa e ficam se alimentando só de ração”, contou o engenheiro agrônomo.
Desde que nascem os leitões, é possível identificar os que têm genética similar à dos avôs e os que têm a genética de comercial. Por isso, ao passar para o galpão dos “adolescentes”, eles já são separados.
Diferencial das instalações – Cada galpão possui um silo próprio para o armazenamento da ração (exceto o galpão da Unidade de Inseminação de Genética). A distribuição do alimento para os animais acontece todo de forma automatizada. Há também uma rede própria de água tratada para evitar que os animais tenham qualquer doença por meio de água contaminada.
Além disso, há galpões com sistema diferenciado para tratar os excrementos, evitando a presença de moscas e outros insetos.
“É possível notar que em cada local onde temos os porcos há pequenas frestas no piso. Isso permite que as fezes caiam num recipiente que fica embaixo. Depois acionamos uma descarga, e todo os dejetos vão direto para a nossa estação de tratamento de esgoto. Lá utilizamos um pesticida, que elimina as larvas de moscas, o que evita a presença delas aqui. Depois de passar pelo processo de tratamento, as fezes são utilizadas como adubo”, detalhou Marques.
A temperatura nos galpões é automatizada possui telhas térmicas, e os nebulizadores são acionados para que a temperatura ambiente seja sempre controlada. Na área onde ficam os suínos adultos, por exemplo, a temperatura deve variar entre 26°C e 28°C.
{xtypo_quote_right}A meta da Dom Porquito é abater 400 animais por dia{/xtypo_quote_right}Novos projetos – Em breve a Dom Porquito vai ter uma ação participativa envolvendo produtores da região do Alto Acre, que receberá assistência do governo do Estado. Para isso, os selecionados participaram de curso de qualificação.
Os produtores selecionados terão galpões em suas propriedades, mas todos os locais deverão obedecer às normas sanitárias da granja para assegurar a excelência da carne, que deverá ser exportada para o Peru e Bolívia, e ainda vendida no mercado local.
“Ambiência e segurança sanitária são os fatores mais importantes para termos um produto de qualidade para oferecer no mercado”, frisa o engenheiro agrônomo da indústria.
A meta da Dom Porquito é abater 400 animais por dia. Para tanto, a empresa está investindo na construção de um abatedouro próprio. Por enquanto eles utilizam um destinado a bovinos, que teve área adaptada para abater os suínos.
Qualidade certificada
Os animais que estão na granja foram adquiridos em Minas Gerais. Vieram da criação da empresa Agroceres e têm o selo PIC (Pig Improvement Company), que, de acordo com a apresentação da Agroceres em seu site, é uma “empresa que reúne a maior tradição de conhecimentos e inovações em desenvolvimento genético de suínos sob condições tropicais”.
Uma parceria entre a Agroceres e a PIC, da Inglaterra, possibilitou trazer ao Brasil um núcleo genético de animais de elite. A empresa britânica garante aos seus clientes acesso a linhagens com alto potencial de desempenho, segundo informa a Agroceres.{xtypo_rounded2}
Os animais adquiridos dividem-se em três grupos:
1 – Machos Comerciais – Geram cevados com ótima conversão alimentar, crescimento rápido e ótima carcaça.
2 – Avós e Avôs – Animais de alto valor genético, destinados a granjas multiplicadoras e núcleos filiais, para produção de machos e matrizes comerciais.
3 – Matrizes Comerciais – Incomparáveis em eficiência reprodutiva e habilidade materna. Progênies com alta viabilidade e o melhor desempenho zootécnico do mercado.
(Fonte: Agroceres PIC){/xtypo_rounded2}
Galeria de imagens