Doença de Chagas é uma realidade na Amazônia – Série Doenças Tropicais

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No interior do Acre, o município de Feijó foi palco de uma onda da Doença de Chagas em 2009 e 2010. Na mesma época, em Rio Branco, no bairro Pedro Roseno foram encontrados alguns besouros barbeiros, transmissores da doença.

Deste então o estado vive alerta para que o mal de chagas não se torne uma epidemia, já que na região amazônica existem, identificadas, 16 espécies do inseto triatomíneo (barbeiro) e de diferentes hospedeiros do T. Cruzi.

A doença de Chagas foi descoberta em 1909 por Carlos Chagas, pesquisador do Instituto Osvaldo Cruz. A doença infecciosa acometia operários do interior de Minas Gerais. Causada pelo protozoário Tripanosoma cruzi, é conhecida como doença de Chagas, em homenagem a quem a descreveu pela primeira vez.

O mal de Chagas, é transmitido, principalmente, por um inseto da subfamília Triatominae, conhecido popularmente como barbeiro. De hábito noturno, ele se alimenta exclusivamente do sangue de animais vertebrados. Vive em frestas de casas de pau a pique, camas, colchões, depósitos, ninhos de aves, troncos de árvores e outros locais próximos à sua fonte de alimento.

Ao sugar o sangue de um animal com a doença, o inseto passa a carregar o protozoário em seu organismo. Ao se alimentar novamente, dessa vez de uma pessoa saudável, ele pode transmitir a ela o parasita. As picadas acontecem geralmente na região do rosto. O parasita passa a viver, inicialmente, no sangue e, depois, nas fibras musculares, principalmente nas da região do coração, intestino e esôfago.

A transfusão de sangue contaminado e a transmissão de mãe para filho, durante a gravidez, são outras formas de se contrair a doença. Também pode ocorrer a infecção oral: quando as pessoas adquirem a doença ao ingerir caldo de cana ou açaí moído, acidentalmente, com o inseto. Nesses casos, acredita-se que há invasão ativa do parasita ao aparelho digestivo.

Febre, mal-estar, falta de apetite, dor ganglionar, inchaço ocular e aumento do fígado e baço são alguns sintomas que podem aparecer na fase aguda, embora existam casos em que a doença se apresenta de forma assintomática.

Em quadro crônico, a doença pode destruir a musculatura dos órgãos atingidos (principalmente a do coração e do cérebro), provocando o aumento destes, de forma irreversível. Em muitos casos, somente nessa fase a doença é percebida pelo paciente, podendo se manifestar décadas depois de o indivíduo ter sido infectado pelo parasita.

O diagnóstico pode ser feito via exame de sangue (microscopia) ou pela presença de anticorpos no soro (testes sorológicos). O tratamento visando a eliminação dos parasitas só é satisfatório no estágio inicial da doença, quando o tripanossoma ainda está no sangue. Na fase crônica, direciona-se para o controle de sintomas, evitando maiores complicações. O controle populacional do barbeiro é a melhor forma de prevenir a doença de Chagas.

Infestação urbana e casos no Acre

Ao comer jaci, uma espécie de coquinho, cinco moradores de Feijó contrariam a Doença de Chagas em 2010. Segundo Carmelinda Gonçalves, técnica em leishmaniose e doenças de Chagas da Secretária Estadual de Saúde – Sesacre, o besouro defecou no fruto. Outro caso registrado foi na zona rural de Feijó em 2009, dessa vez uma infecção vetorial, havendo a picada do inseto.

{xtypo_quote_right}Eliminar o inseto transmissor da doença ou mantê-lo afastado do convívio humano é a única forma de erradicar a doença de Chagas

Fonte: Drauzio Varella{/xtypo_quote_right}

Há cerca de três anos, os moradores do Conjunto Pedro Roseno, em Rio Branco, tomaram um grande susto – o bairro foi identificado como uma das áreas com grande infestação do barbeiro. Todos foram vacinados contra a doença e tiveram que fazer exames para diagnosticar a possível infecção.

Francisca Beatriz era, na época, presidente do bairro e acompanhou todo o processo. “Tínhamos a suspeita de que minha neta pudesse estar com a doença, mas fizemos o exame e ele deu negativo. Depois disso tudo, passamos a ter mais cuidado com a limpeza do quintal, tomamos a vacina e seguimos as recomendações da vigilância epidemiológica. Aqui no bairro, apenas um caso foi confirmado”, disse.

O local onde o bairro foi construído era repleto de palheiras, moradia do barbeiro. Elas foram derrubadas à proporção que a população começou a construir as casas. Francisca avalia a infestação como uma causa natural e afirma que o barbeiro ainda é visto com muita frequência. “Nós tomamos o espaço deles e não há como evitar esse tipo de ataque. Encontro o barbeiro todos os dias”, declarou.

O tratamento na rede pública de saúde

Muito comum nas regiões Centro-Oeste e Nordeste do Brasil, a doença de Chagas foi considerada epidemia, com ritmo de transmissão muito intensa durante os anos de 1960. O contágio da doença de dá de forma muito esporádica e não atinge uma grande quantidade de pessoas. Catadores de açaí, piaçava e cana de açúcar têm sido os principais alvos do barbeiro.

O médico infectologista Thor Dantas diz que hoje que, ao contrário do que acontecia antigamente, o barbeiro não é mais encontrado no interior das residências. Nessa mudança de cenário, o inseto adquiriu hábitos silvestres e passou a morar em palmeiras da floresta amazônica. O número de espécies também se multiplicou. “O barbeiro não é mais aquele que habitava as regiões Centro-Oeste e Nordeste. São várias espécies dele”, afirmou.

Os trabalhadores da floresta têm como hábito peculiar colher os frutos do açaizeiro durante o dia e preparar o produto à noite. É durante esse processo que o contágio pode acontecer. “O inseto se sente atraído pela claridade e acaba caindo nos caldeirões onde eles preparam a bebida. Quando isso acontece, o protozoário, alojado no organismo do barbeiro, contamina a bebida e, consequentemente, quem a consome”, disse Dantas.

A rede pública de saúde do Acre oferece o tratamento completo aos portadores da doença. O paciente, quando diagnosticado, inicia imediatamente o tratamento com medicação específica e recebe o acompanhamento da equipe multidisciplinar do Hospital das Clínicas.

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