Doação de órgãos: decisão que salva vidas

Equipe do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo realiza captação de fígado para doação (Foto: Assessoria Sesacre)
Equipe do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo realiza captação de fígado para doação (Foto: Assessoria Sesacre)

Equipe do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo realiza captação de fígado para doação (Foto: Assessoria Sesacre)

Perder um ente querido não é fácil. E tomar a decisão de doar os órgãos da pessoa falecida em meio à dor e emoção do momento também não é uma tarefa simples. Que o diga a família de M.S.S.G, 50, que morreu na última segunda-feira, 5, na UTI do Huerb, em virtude de um acidente vascular cerebral isquêmico. Mesmo em um momento difícil como esse, Sandy, filha de M.S.S.G, decidiu autorizar a doação do fígado e das córneas da mãe.

A equipe da Organização de Procura de Órgãos (OPO) informou aos familiares que M.S.S.G era uma doadora em potencial, e Sandy autorizou a doação. A OPO é diretamente ligada à Central de Notificação, Captação e Distribuição de órgãos do Acre (CNCDO), que funciona no Hospital das Clínicas do Acre.

“Claro que não foi fácil tomar essa decisão. A dor da perda é imensurável, mas saber que isso vai ajudar outra pessoa a viver ameniza um pouco a dor que estamos sentindo”, disse a filha. Sandy conta ainda que a mãe era uma pessoa muito querida na comunidade onde morava, em Tarauacá, e que gostava muito de ajudar as pessoas. “Essa é uma forma de transmitir ainda mais o amor que ela tinha pelo próximo”, completa.

O fígado foi encaminhado para o Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo. Uma equipe composta por dois cirurgiões, um instrumentador e um perfusionista se deslocou até o Estado em avião particular para captar o órgão, pois ainda não é feito transplante de fígado no Acre. A doação das córneas foi contraindicada.

Enquanto a equipe realizava o procedimento de captação aqui no Acre, em São Paulo uma das pacientes do hospital que se encontrava na fila de espera de transplantes já havia sido avisada de que receberia o órgão naquela madrugada. “Assim que recebemos a informação pela Central Nacional de Transplantes (CNT) de que havia a disponibilidade do órgão, a paciente já foi avisada e solicitamos que se dirigisse ao hospital para ficar aguardando a chegada do fígado”, disse o cirurgião da equipe, Romerito Neiva.

Uma nova chance

Silvânia da Rocha, 39, sabe bem como é esperar pela doação de órgãos. Há dois anos ela ganhou uma nova chance ao receber um rim de um rapaz morto em um acidente de moto. “Eu já havia sido chamada para fazer os testes de compatibilidade por três vezes, mas sem sucesso. Então, quando fui chamada pela quarta vez, nem me animei muito”, conta.  Então ela disse apenas ao marido que iria fazer o teste para não criar expectativas na família.

Silvânia teve problemas com pressão alta, devido a duas pré-eclâmpsias – uma em cada gestação. Teve que se submeter a hemodiálise três vezes por semana, durante 10 anos. “Fiquei na fila de espera por três anos. Então, quando o exame de compatibilidade deu positivo, foi a maior emoção da minha vida”, emociona-se.

Segundo ela, não lhe foi passada nenhuma informação a respeito do doador, mas Silvânia, por conta própria, investigou e descobriu o endereço da família, mas foi orientada a não procurá-la. “Eu gostaria muito de agradecer a eles por ter me ajudado, mesmo em um momento tão triste.”

A jovem diz ainda que a mentalidade das pessoas deveria mudar em relação a esse assunto. “Deixei de receber uma doação porque a mãe da doadora disse que ela seria enterrada da forma como viera ao mundo”, finaliza.

A Central de Transplantes

A Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos do Acre (CNCDO) foi criada em 2006 e tem como papel a coordenação do processo de transplantes no Acre, processo que envolve a captação dos órgãos e tecidos e a seleção de receptores, além do transplante. Desde sua criação, já foram realizados 51 transplantes de rim e 87 de córneas no Estado.

A equipe de enfermeiros da OPO realiza a busca ativa diariamente nas unidades hospitalares, identificando doadores em potencial. Ao ser identificado um doador, é aberto o Protocolo de Morte Encefálica, no qual são realizados exames complementares para comprovar a morte cerebral. Após a confirmação, a equipe da Central de Transplantes conversa com os familiares do  possível doador, os quais são orientados e conscientizados sobre o potencial de doação do familiar e a importância da doação para outras pessoas, tendo a opção de consentir ou não a doação.

Este ano, dos 51 protocolos abertos, apenas cinco resultaram em doação – número considerado baixo pela equipe da CNCDO. Segundo a coordenadora da Central Estadual de Transplantes, Regiane Ferrari, muitas famílias ainda se recusam a doar os órgãos de seus entes.

“Alguns alegam que a pessoa não era doadora em vida, outros não aceitam que a pessoa morreu ou têm medo mesmo. Muitas pessoas ainda não perceberam o valor que uma doação tem e o quanto ela pode ajudar a salvar uma vida através desse gesto”, diz.

Quem pode ser doador?

Doador vivo: qualquer pessoa saudável que concorde com a doação, a não ser que prejudique a sua própria saúde. O doador vivo pode doar um dos rins, parte do fígado, parte da medula óssea e parte do pulmão. Pela lei, parentes em até quarto grau e cônjuges podem ser doadores. Pessoas sem parentesco só com autorização judicial.

Doador falecido: são pacientes com morte encefálica, geralmente vítimas de dano cerebral irreversível, como traumatismo craniano ou derrame cerebral (AVC).

De acordo com Regiane, para ser doador de órgãos basta apenas avisar à família. “Doar órgãos é um ato de muito amor. É o mesmo que multiplicar vidas”, garante.

Compartilhe:

WhatsApp
Facebook
Twitter