As dificuldades de quem enfrenta a cheia do Rio Madeira

Dona Elza diz que os fregueses locais desapareceram de Vila Abunã (Foto: Gleilson Miranda/Secom)
Dona Elza diz que os fregueses locais desapareceram de Vila Abunã (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

As vilas do lado de Rondônia, atingidas pela enchente do Rio Madeira, também sofrem com a inflação no preço dos produtos. Os moradores reclamam passarem necessidade devido o desabastecimento do local e a falta de assistência do governo estadual. O custo de vida subiu astronomicamente. Em Vila do Abunã, por exemplo, o litro da gasolina está sendo vendido a R$ 7, o garrafão de água mineral a R$ 10 e o gás de cozinha a R$ 80.

A autônoma Elza Helena Arruda, 59, lembra dos dias de glória no Abunã. Durante as gravações da minissérie brasileira Mad Maria (2005), da Rede Globo, ela chegou a vender 250 cafezinhos por dia, no restaurante do qual é proprietária. Há 15 anos mora no local e revela nunca ter vivido uma crise tão grande como a dos últimos dias. “Os fregueses desapareceram. Os pratos que servimos aos que restaram estão sendo reduzidos, para durar mais tempo, porque nem sempre temos óleo, trigo e tantas outras coisas essenciais para as refeições”, alega.

Garimpeiro que mora em Vila Arara faz a feira semanal em Porto Velho e traz os produtos de barco (Foto: Gleilson Miranda/Secom)
Garimpeiro que mora em Vila Arara faz a feira semanal em Porto Velho e traz os produtos de barco (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

Quando a água inundou parte da vila, ela e o esposo se mudaram para Nova Califórnia, distrito de Rondônia, deixando o estabelecimento sob os cuidados de outra pessoa. Assim como eles, muitas famílias saíram buscando refúgio em municípios distantes do Rio Madeira. Isso deixou o local com aspecto de cidade fantasma.

Os poucos que ficaram em Vila Abunã assistem todos os dias carretas passando pela rua principal com alimentos, gasolina e demais materiais, porém, sem deixar nada no local. Nos comércios da região, falta de tudo – desde o frango congelado ao papel higiênico.

A garçonete Nátia Souza, 23, denuncia que não há água potável na maior parte da vila. De acordo com ela, o médico só vai à unidade de saúde do distrito a cada 15 dias e fica por lá apenas algumas horas. Em casos de emergência, o local mais próximo recorrido pelos pacientes é em Vila Extrema.

A única escola foi alagada pelo Rio Madeira e as aulas estão paradas desde então. “Sinceramente a única ajuda externa que tivemos veio do governo do Acre, que deu cestas básicas para algumas famílias e ajuda de alimentação para os caminhoneiros”, afirma Nátia.

Os mais corajosos, como o garimpeiro Manoel Brito, 52, precisam enfrentar uma longa e perigosa jornada até Porto Velho para comprar o básico de alimentação. “Eu e mais seis pessoas trabalhamos no Rio Madeira, em Vila do Arara. Lá está tudo inundado. Para continuar a trabalhar tive que fazer essa viagem e comprar mantimentos para os próximos 10 dias. Mais do que isso não dá para trazer nas mãos. Só essa aventura me custou R$ 1 mil”, desabafa.

Galeria de imagens

Compartilhe:

WhatsApp
Facebook
Twitter