No Acre, assim como no restante do Brasil e em todo o mundo, muitos pais estão tentando se adaptar à nova dinâmica da “escola em casa”, imposta pela pandemia do coronavírus. Os desafios são inúmeros, principalmente para aqueles que têm filhos com Transtorno do déficit de Atenção com Hiperatividade, tendo em vista que o confinamento prejudicou a rotina de muitas crianças que precisam de atendimento especializado de múltiplos profissionais.
O rol de desafios e adversidades só aumenta, o adulto precisa estar atento às mudanças que a Covid-19 trouxe, sobretudo para as crianças com autismo, dislexia, déficit de atenção e outros transtornos e síndromes.
Em Rio Branco, a instituição responsável pelos acompanhamentos dos distúrbios e transtornos do desenvolvimento da aprendizagem é a Fundação Hospitalar do Acre (Fundhacre), que possui no serviço ambulatorial as especialidades de Neuropediatria e Fonoaudiologia. O setor de Neuropediatria atendeu, somente em agosto, 402 pacientes com diversos transtornos e distúrbios, e estima-se que tenham sido realizados cerca de 200 atendimentos na primeira quinzena de novembro.
Viviane Regina de Melo, mãe de Arthur, diagnosticado com TDAH, relatou: “É difícil para gente que é mãe admitir que o filho tem algum problema, mas logo que me falaram da possibilidade de o meu filho ter algum transtorno procurei ajuda médica”.
No relato, Viviane conta sobre a gestação e as complicações até o nascimento do menino. Ele começou a ser acompanhado por um neuropediatra faz 1 ano e meio, e a partir daí foi iniciada uma longa jornada de consultas, relatórios, exames e laudos médicos que concluíram o diagnóstico de TDAH (tipo hiperativo-impulsivo). Apesar disso, seu filho ainda passará por exames neurológicos.
Ocorrências de TDHA e autismo são diagnosticadas precocemente, já que pacientes com nove anos já dispõem de laudo médico atestando a CID (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde), o que otimiza o processo de aprendizagem da criança ou adolescente, bem como o acompanhamento e desenvolvimento no núcleo social.
Já quanto às ocorrências de dislexia, a fonoaudióloga Alana Cristina Aguiar, que atua na Fundhacre há quatro anos, relata que “muitas vezes, a criança com esse transtorno é atendida tardiamente, pois a identificação não é realizada de modo simples. Então, o paciente é direcionado para a equipe multidisciplinar do hospital”.
Neuropediatra da Fundhacre, Bruna Beyruth explica que o diagnóstico da dislexia é complexo, pois não há um exame para comprovação do transtorno. Assim, é por meio das avaliações dos pediatras, psicólogos e pedagogos que se chega à confirmação do distúrbio. Entretanto, testes neuropsicológicos específicos concluem o diagnóstico, geralmente, a partir dos nove anos.
“Os pacientes com dislexia têm direito a responder as provas escolares com maior tempo, também a atividades adaptadas e lúdicas, de acordo com suas necessidades”, destaca.
Transtornos de aprendizagem: saiba mais sobre a dislexia e o TDHA
No Brasil, as estatísticas apontam que a dislexia acomete mais meninos que meninas, o que corresponde a 67% dos casos, segundo a base de dados da Associação Brasileira de Dislexia. Esse transtorno de aprendizagem, caracterizado pela dificuldade na leitura e escrita, pode ser identificado por meio de sinais como retardo na fala, não saber identificar direita e esquerda devido à má visualização das palavras, carência na percepção dos sons, dificuldade em reconhecer horas e inversão de números, entre outros sintomas indicativos de que a criança passa por adversidades em casa e na escola.
Segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção, a dislexia é considerada um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que surge na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a vida. Ele se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade, e é chamado às vezes de DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção).
A Agência Brasil divulgou uma pesquisa de brasileiros e franceses sobre um filtro colorido que pode aumentar a velocidade da leitura de crianças com dislexia, publicada em 2018. O estudo visa ajudar os disléxicos, mas também autistas e os acometidos com TDAH. O trabalho foi publicado pela revista científica Research in Developmental Disabilities, Reino Unido, mediante o apoio do órgão Elsevier, plataforma de literatura revisada em pesquisas e análises da saúde.
É preciso ficar alerta aos sintomas que aparecem na fase de alfabetização, pois a ausência de acompanhamento pode prejudicar o desenvolvimento escolar na fase infantil e se agravar na adolescência. Além disso, a atenção aos sinais pode auxiliar outras pessoas a divulgar as informações corretas acerca do transtorno em questão, bem como evitar preconceitos e projetar estereótipos, isto é, supor que a criança é preguiçosa ou desinteressada, julgamento inadequado.