Nesta segunda-feira, 9, comemora-se o Dia do Alcoólatra Recuperado. Profissionais que trabalham com a recuperação destas pessoas afirmam que o caminho é difícil, mas é possível voltar a ter uma vida normal.
A história de vida de um homem, que ilustra essa matéria e prefere não se identificar, não é diferente de outras pessoas que convivem com o vício. Ele tem 42 anos de idade, sendo que, desses, 20 anos foram marcados pelo vício do álcool. Durante esse tempo, o homem perdeu muitas coisas, afastou-se do emprego e de amigos, ficou sem qualidade de vida, mas o pior de tudo, conta ele, foi perder o carinho e a confiança da família.
Nosso personagem mora sozinho e não tem filhos, pois teve que escolher entre o álcool e a mulher com quem iria se casar. “Ela era a mulher da minha vida. Estávamos com o casamento marcado, casa montada, tudo pronto para nossa união, mas, a dois dias do casamento, fiz uma besteira: vendi algumas coisas da nossa casa para comprar bebida. Ela não aceitou, embora eu argumentasse que era para comemorar o nosso casamento. Então me pediu para escolher entre ela e a bebida. Fiquei com a bebida, perdi o amor da minha vida e, depois de alguns anos, ganhei vários problemas de saúde e uma depressão”, relata.
Há um ano, ele iniciou o tratamento e busca recuperar tudo o que perdeu durante esse tempo, para refazer sua vida. Mesmo tendo consciência dos obstáculos ele acredita na recuperação.
“Apesar de estar sem ingerir bebida há mais de um ano, ainda não me sinto recuperado, pois todo dia é um novo começo, mas acredito que Deus me dará forças para conseguir essa vitória. Tomei a decisão de parar quando fui ao médico e ele falou: ou você deixa a bebida ou ela mata você. Então pensei: estou diante de outra escolha importante pra minha vida e, dessa vez, preciso escolher certo. Então, depois desse dia não coloquei mais nenhuma gota de álcool na boca. Procurei um tratamento e, agora, me sinto feliz. Aos poucos estou conseguindo novamente a confiança da minha família e dos meus amigos”, conta.
A história de vida da reportagem é de um homem que preferiu não se identificar, porém o alcoolismo não é um problema exclusivo dele. Existem muitos outras pessoas, com nomes diversos, que já vivenciaram ou vivenciam, com suas famílias, a degradação proporcionada pelo uso do álcool.
Alcoolismo
O alcoolismo é uma doença crônica reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS). É um estado de intoxicação causado pelo consumo excessivo de álcool e se desenvolve em ritmos diferentes em cada pessoa, de acordo com características físicas, emocionais e psicológicas, grau de tolerância ao álcool e tipo de bebida ingerida.
A dependência alcoólica é uma realidade de muitos brasileiros, e as pessoas acometidas por essa doença, na maioria das vezes, precisam escolher entre o vício e a família, perdem a qualidade de vida, a autoestima, adquirem doenças como úlceras, cirrose hepática, tuberculose e pneumonia, hepatite – que pode evolui para cirrose -, gastrite, diabetes e pressão alta, além de outras.
Recuperação
O governo federal criou os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (Caps-ad), com objetivo de oferecer atendimento à população, realizar o acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários – álcool e outras drogas – pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários.
Outras clínicas para dependentes químicos e o instituto Alcoólicos Anônimos (AA) também têm papel importante no acompanhamento e recuperação desses doentes, e estão preparados para tratar e ajudar o indivíduo a refazer sua vida longe do vício, reduzindo assim os danos que o alcoolismo pode trazer.
A gerente do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas de Rio Branco, Sheila Garcia, informa que, hoje, 900 pessoas estão em acompanhamento no Caps-ad III de Rio Branco, desses, 24 são dependentes de álcool, mais de 90% são do sexo masculino e da faixa etária entre 40 a 64 anos.
“O álcool é a porta de entrada para outras drogas. A maioria dos alcoólatras usa algum tipo de substância ilícita. O trabalho do Caps-ad III segue a proposta de cuidar das pessoas de acordo com as necessidades de cada um, com intervenções que proporcionem reflexão e bem estar, para integrar o indivíduo na comunidade e na família”, explica Sheila.
Para a gerente, são inúmeros os obstáculos a serem vencidos. O primeiro e um dos mais difíceis é o dependente aceitar que precisa de tratamento e da ajuda de profissionais. “As pessoas ainda resistem na hora de buscar um tratamento. Além disso, há a necessidade do apoio da família, que muitas vezes já está cansada de lutar contra o vício”, finaliza.