É de retalho em retalho que 17 mulheres, que cumprem pena no presídio feminino de Rio Branco, têm criado uma nova história. Elas receberam a oportunidade de aprender a arte do artesanato em fuxico, que é uma técnica que consiste em fazer pequenos enfeites utilizando sobras de tecido. Um evento foi realizado, nesta terça-feira, 26, no presídio feminino de Rio Branco, para a certificação das detentas que concluíram a oficina.
O projeto é fruto de um acordo de cooperação técnica entre o Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen), o Tribunal de Justiça do Acre (TJ/AC) e o Instituto Federal do Acre (Ifac). Os recursos destinados à compra de materiais para a realização da oficina foram custeados pela desembargadora Regina Ferrari, presidente do TJ, que esteve presente na certificação das reeducandas.
Durante sua fala, a desembargadora destacou o trabalho que a Justiça tem feito dentro do Sistema Penitenciário, em prol da ressocialização, com diversos projetos executados e finalizou com um conselho: “Quando vocês saírem daqui plantem flores, cuidem do seu jardim”, fazendo referência à vida de cada mulher que precisará recomeçar fora do ambiente do cárcere. A desembargadora foi presenteada pelas detentas com uma colcha de fuxico.
A coordenadora de Arte, Cultura e Cidadania do Instituto Federal do Acre (Ifac), Mariete Buriti, foi a responsável por ensinar a arte às alunas. Ela conta que foram 60 horas de curso que trouxeram, a cada participante, muitos benefícios. “Aqui elas se deleitaram, elas realmente gostavam do que estavam fazendo. Eu vinha e passava o dia inteiro aqui com elas, e foi muito proveitoso. Eu me sinto muito feliz pelo rendimento que essas meninas tiveram”, afirmou a coordenadora.
Dalvani Azevedo, diretora do presídio, explicou que agora, com as primeiras presas capacitadas, o projeto deve ser ampliado. “Essa oficina não é somente para formar algumas presas, ela é para formar multiplicadores, pois elas também serão mediadoras dentro das celas”.
A detenta A.C. F, de 28 anos, foi uma das alunas a concluírem o curso. Ela já cumpre pena há mais de seis anos e conta que ainda neste ano, deve receber a tão sonhada liberdade. Ela diz que ter oportunidades como esta traz esperança para um futuro melhor. “É uma oportunidade muito grande, por ser privada de liberdade, e esses cursos trazem uma esperança lá no finalzinho do túnel, porque muitas das vezes a gente não tem oportunidades”, afirmou a reeducanda.
E os avanços não pararam por aí. Por meio de recursos financeiros, provenientes de penas pecuniárias, durante o evento, a Vara de Execuções Penais e Medidas Alternativas (Vepma) fez a entrega de quatro alvarás para a realização de novos projetos no presídio feminino: o Salão Escola, com a aquisição de equipamentos de salão de beleza, o Entrelinhas, que visa o cuidado da saúde mental do detento; o projeto Kit primeira entrega, voltado para presas que não têm familiar para entrega de materiais necessários à detenta; e o projeto Televisita: uma possibilidade de afeto, que possibilita comunicação via chamada de vídeo para presas que têm familiares morando em outros estados. Os recursos somam mais de R$ 90 mil.
A notícia foi recebida com alegria pelas detentas, que enxergam nos projetos uma nova oportunidade de recomeçar. E para quem já está com seu diploma em mãos, como a detenta A.C. F., já pensa em dar seu próximo passo: “Esse curso vai servir pra nossa vida lá fora, porque é um meio de a gente sair daqui e conseguir um ganho pra sustentar nossa família. Eu estava muito ansiosa para receber esse diploma. É um aprendizado que eu vou levar pro resto da vida”.
E é assim, de passo em passo, de ponto em ponto, que pequenos retalhos vão ganhando forma e beleza, e o que antes eram simples pedaços de pano esquecido, se renovam e se transformam em peças únicas e de valor.