O abismo é real e muito próximo para as famílias de dependentes químicos. As mães, em especial, quando esgotam as possibilidades de ajudar um filho com vício, sofrem o dobro. Visando fortalecer a luta dessas pessoas, o Instituto Socioeducativo do Acre (ISE), por meio do Centro de Apoio à Semiliberdade, ao Egresso e Família (Casef), realizou, durante esta semana, diversas atividades a fim de combater a drogadição.
Para encerrar a programação semanal, nesta quinta-feira, 14, a equipe técnica do Casef, formada por assistentes sociais e psicólogos, montou um grupo de apoio às famílias dos adolescentes em medidas socioeducativas para, sobretudo, ouvi-las.
Os desabafos vinham seguidos de choro e o sentimento de que não estavam sozinhas. Aos poucos, as mães iam percebendo que todas ali viviam o seu ‘inferno’, como costumam dizer.
Para ajudá-las, a assistente social Raquel Moraes tomou a iniciativa de levar os alunos do curso de Aconselhador em Dependência Química pelo Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Todos internos da Casa Terapêutica Caminho de Luz.
O ex-dependente químico João Eduardo (nome fictício), 24, tem uma história que não se diverge da maioria dos socioeducandos. Apesar de ter crescido em um bairro nobre de Rio Branco e pertencer à classe média alta, acabou sendo vítima do vício. De acordo com ele, em situações de drogadição, as mães exercem papel primordial no livramento do vício. “Dizem que pau que nasce torto morre torto, mas não é verdade. Eu nasci reto, me entortei na vida e consegui dar a volta por cima. Minha mãe cansava de me dar celulares para me localizar, saber por onde eu andava. No entanto, eu vendia todos no intuito de manter o meu vício. Já ela nunca desistiu de mim. E apesar de não entender as coisas naquele tempo, ter a minha família ao meu lado, torcendo pela minha recuperação foi a chave para que eu pudesse me libertar”.
Segundo a assistente social do Casef, Sionete Sousa, a ação é uma forma de dialogar sobre as drogas, um assunto que afeta demasiadamente os socioeducandos. “Desde segunda-feira estamos idealizando esse projeto ‘É preciso saber viver’. Estamos chamando esse grupo com as famílias de ‘Sozinho eu não consigo’, que acontece a cada 20 dias. Realizamos palestras, oficinas, filmes, reuniões reflexivas e de auto-ajuda, em parceria com outras entidades. Esperamos que a medida nos ajude a contribuir com o processo socioeducativo”.
A aposentada Iranilde da Silva, 47, é mãe de cinco filhos. Um deles fez a escolha errada na vida e hoje cumpre medida socioeducativa de semiliberdade. Apesar disso, quando pode, o menino ainda sustenta o vício. “Mesmo com todas as dificuldades, defendo que as mães não devem abandonar os seus filhos. Temos que ter a consciência de que isso é uma doença, que contamina a mente e o sangue”, declara.
Sentindo-se sem saída, a autônoma Ângela Aparecida Cravo Pinto, 45, procura na experiência de outras mães a solução para saber lidar com o vício do filho, de apenas 15 anos de idade.
“É uma autoajuda que a gente necessita. Porque chega um ponto em que a gente não sabe mais o que fazer, o que buscar e o que falar. A mudança de comportamento dele [adolescente] é constante. Ele não respeita o local onde você está, não respeita o pai, mãe, nenhuma pessoa. Não existem regras no seu mundo. Por isso é bom sentar e ouvir outras pessoas que passam pelas mesmas coisas que a gente. Quem sabe assim nós não descobrimos onde estamos errando”, aposta.
Ângela acredita que algo que poderia realmente ajudar nesse processo de socioeducação seria realizar um tratamento diferenciado com os adolescentes com dependência química. O filho dela começou a se drogar no ano passado. O auge do vício foi quando o rapaz, totalmente descontrolado, agrediu os pais. “Ele estava sob o efeito de entorpecentes e foi então que tomei uma decisão difícil: levar o caso para o Juizado. Essa é uma dor que não tem como explicar. A gente procura explicar que aquilo está errado, mas ele não aceita. É mais fácil eu morrer por ele do que abandoná-lo. Enquanto vida eu tiver, jamais o deixarei”, promete.
De acordo com o presidente do ISE, Henrique Corinto, os Centros Socioeducativas têm o papel de privar os adolescentes de liberdade, no entanto, casos de jovens que chegam ao sistema com vício em alto grau precisam de uma atenção maior por parte da equipe. “O mesmo grupo de apoio é realizado em outras unidades. Precisamos chamar as famílias para perto, porque elas são as nossas maiores aliadas nesse processo”, afirma.